Fechado, Maracanã faz 62 anos e preocupa comerciantes que dependem do estádio
Vinicius Konchinski
Do UOL, no Rio de Janeiro
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Divulgação/Portal da Copa
Em obras para a Copa do Mundo, Maracanã deve ser reaberto em fevereiro do ano que vem
O Maracanã faz aniversário neste sábado. O estádio mais famoso do Brasil, cenário da final da Copa do Mundo de 1950 e de grandes jogos da história do futebol brasileiro, completa 62 anos de idade. Neste ano, porém, a comemoração será, no mínimo, diferente.
REFORMA E COMÉRCIO NO MARACANÃ
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Na véspera do aniversário de 62 anos do Maracanã, o UOL foi conferir como anda o trabalho de comerciantes ao redor do estádio. Veja no vídeo
Em obras para a Copa de 2014, o Maracanã não pode receber jogos nem um grande evento, daqueles que se acostumou a sediar em seis décadas de história. Fechado desde setembro de 2010, o estádio também não consegue atrair a multidão de torcedores e turistas que frequentemente lotavam suas arquibancadas em dia de partidas.
Aquele vai-e-vem de pessoas ao redor do estádio está, hoje, praticamente restrito à movimentação dos 5 mil trabalhadores da obra. Por isso, bares e quiosques que prosperaram por anos graças ao Maracanã passam por uma crise.
Mesas vazias, estoques cheios e um clima de desânimo estão em quase todos os estabelecimentos que dependem do estádio para sobreviver. Sem movimento, alguns comerciantes reduziram seus expedientes e todos reclamam dos efeitos da reforma.
"O movimento caiu horrores", resume Carlos Alberto Deodato, o Zeca, dono de um quiosque que fica perto do portão 19 do Maracanã. "As vendas caíram a quase zero."
Zeca tem 67 anos e há 20 trabalha no Maracanã. Já vendeu bebidas na porta do estádio e, depois de anos, conseguiu se instalar definitivamente em um quiosque. Lá, ele vende água, refrigerante e lanches aos que passam por perto do estádio. Essas vendas, porém, não chegam nem perto daquelas que ele registrava em dias de grandes clássicos do futebol.
"Eu vi esse Maracanã lotado várias vezes. Cheguei a pegar quase 200 mil pessoas nesse estádio. O Maracanã foi o maior estádio do mundo", conta ele. "Agora, ele está fechado, não vem ninguém. E quando abrir, vai ficar bem menor do que era".
COMO FICARÁ O MARACANÃ
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Veja o vídeo sobre o projeto de reforma do estádio para a Copa do Mundo de 2014. A obra deve custar R$ 859 milhões e será paga pelo governo do Rio de Janeiro. A previsão de entrega é fevereiro de 2013
A reforma do Maracanã para a Copa do Mundo vai adequar o estádio aos padrões internacionais de conforto e segurança. De acordo com o exigido pela Fifa, as arquibancadas serão aproximadas do campo e todos os torcedores sentarão em cadeiras numeradas. Essas modificações vão reduzir a capacidade de público do estádio para 78 mil pessoas.
Ainda antes de ser reaberto, a administração do Maracanã, que hoje é feita pelo governo do Estado do Rio de Janeiro, passará para uma empresa privada. Essa empresa deve explorar, além de outras coisas, a venda de comidas e bebidas no estádio, fato que preocupa quem há anos faz isso pelas redondezas.
"Até agora, ninguém veio falar nada com a gente sobre isso", diz o vendedor Rubem Vieira de Oliveira, 63 anos. "Claro que queremos ficar para quando o estádio reabrir, mas se tiver que sair..."
Rubem trabalha há 11 anos no Maracanã. Tem um carrinho de bebidas e atende, principalmente, visitantes. Chega ao estádio por volta das 11h e, às 15h, está voltando para casa. Lembra com saudades das 15 horas de trabalho em dias de jogos. "Chegava às 9h para atender os turistas e só ia embora à meia-noite. Hoje eu vendo 10% do que vendia."
Por acreditar que dias melhores virão, Rubem vai diariamente ao Maracanã para tentar garantir seu ponto. Mas o próprio governo não tem tanta certeza que o trabalho de Rubem e de todos os outros vendedores do estádio será mantido.
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse na última sexta-feira que isso vai depender dos termos da concessão do Maracanã. "Ainda temos que ver isso, pois, com a concessão, a exploração comercial passa a ser de interesse do concessionário", disse ele, apontando para a possibilidade de saída dos vendedores.
Apesar disso, há aqueles que mantêm o otimismo. Esperam que as "vacas magras" da reforma sejam passageiras e o comércio volte a prosperar após a reabertura do Maracanã. "Se o estádio vai melhorar, para gente vai melhorar também", diz Adalmiro Bernardo da Silva, o Miro do Coco, 55 anos, um dos poucos confiantes quanto ao futuro dos comerciantes.