Coreia do Norte mantém imagem internacional, fecha treino e adota o mistério

03/06/2010 - 16h07

Coreia usa truculência para barrar estranhos em treino antes de pegar o Brasil

Alexandre Sinato e Bruno Freitas
Em Johanesburgo (África do Sul)

Um dos países mais fechados do mundo parece ter trazido à Copa um pouco dos conceitos misteriosos que compõem sua imagem internacional. Primeira rival do Brasil no Mundial, a Coreia do Norte treina com sigilo absoluto na periferia de Johanesburgo e espanta com truculência quem solicitar aproximação, especialmente se a nacionalidade do visitante for brasileira.

NAÇÃO FECHADA AO MUNDO

  • Bruno Freitas/UOL

    Estranhos são barrados até com truculência em
    treino secreto da Coreia do Norte em Johanesburgo

  • Bruno Freitas/UOL

    Dona de uma das maiores zebras da história das Copas, na eliminação da Itália em 1966, a Coreia do Norte é uma das nações mais misteriosas do cenário político atual, com regime socialista e unipartidário.

    Em 2002, o país governado pelo ditador Kim Jong-il foi rotulado pelo ex-presidente dos EUA George W. Bush como membro do “Eixo do Mal”, em razão de sua política nuclear e de suas supostas relações com o terrorismo. Seis anos mais tarde, a Coreia do Norte deixou a lista norte-americana de nações que patrocinavam o terror.

    A entrada de estrangeiros na Coreia do Norte é bastante restrita, com normas de seleção severas, em política que afeta até as relações diplomáticas. A maioria das embaixadas conectadas com laços diplomáticos ao país está situada em Pequim, na China, e não na capital Pyongyang.

Nesta quinta-feira, a reportagem do UOL Esporte se dirigiu ao distante e pobre bairro de Tembisa, em Johanesburgo, com a missão de registrar alguma coisa a respeito do adversário menos conhecido do Brasil na primeira fase. No entanto, a incursão parou ainda na porta do Makhulong Stadium, diante do pelotão que faz a segurança dos norte-coreanos na África do Sul.

Logo na chegada ao estádio, o visitante é informado que não terá acesso ao treino da seleção asiática, que faz valer um direito legítimo em vésperas de uma competição importante. No entanto, o aviso ganha contornos de ameaça diante da tentativa de registro em foto do local, mesmo com a câmera empunhada do lado de fora, no meio da rua.

"A imprensa não é bem-vinda, mesmo com credencial da Fifa, se retire imediatamente", comunica o chefe de segurança. "Não faça fotos de nós seguranças, nem do ônibus da delegação, mesmo aí da rua, do lado de fora. Não é permitido. Caso contrário não hesitaremos em ficar com o seu equipamento", emenda, reagindo com intimidação à preparação da câmera para imagens, com a reportagem dividindo ombros com populares na porta do estádio.

Em seguida, num dos cantos do acesso principal do estádio, outro membro da equipe de segurança que serve a Coreia do Norte informou a reportagem do UOL Esporte que a ordem para afastamento de jornalistas vem do chefe da delegação e deve perdurar durante todo o Mundial, com exceção dos protocolos obrigatórios da Fifa, em entrevistas nas vésperas de jogos e após as partidas.

Antes de seguir a orientação da segurança de deixar o local, os visitantes ainda recebem a informação de que a orientação é para que a triagem dos norte-coreanos com a imprensa internacional seja mais rígida com os repórteres brasileiros, em razão do jogo de estreia do grupo G.

Ainda antes de partir, a reportagem dá a volta no estádio de Tembisa e consegue registrar algumas cenas do treino através de uma fresta no muro. Classificados em 2º lugar de seu grupo na fase final das eliminatórias da Ásia (atrás dos vizinhos do Sul), os norte-coreanos realizaram nesta quinta um treino coletivo pouco revelador, em que a velocidade dos jogadores salta aos olhos como característica principal.

Em outro ponto do perímetro externo do Makhulong Stadium, os visitantes se juntam a um grupo de curiosos do bairro, no ponto mais alto de um terreno aparentemente abandonado, todo acidentado. De lá, enfim tem-se uma percepção mais clara da prática sigilosa. O técnico Kim Jong-Hun encerra o treino com ensaio exaustivo de marcação de jogadas de linha de fundo, uma das armas do Brasil de Dunga.

Brasil e Coreia do Norte estreiam na Copa do Mundo no dia 15 de junho, no estádio Ellis Park, em Johanesburgo, em confronto válido pela rodada de abertura do grupo G. Na primeira fase, as duas seleções ainda enfrentam Costa do Marfim e Portugal.

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