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Primeiro brasileiro a defender a Alemanha, Paulo Rink aposta no sucesso de Cacau

24/05/2010 - 12h01

Paulo Rink aposta em sucessor Cacau e conta 'podres' da seleção alemã

Alexandre Sinato, Bruno Freitas e Mauricio Stycer
Em Curitiba

O desempenho nos últimos amistosos da seleção alemã fez o brasileiro naturalizado Cacau reivindicar status de protagonista na equipe de Joachim Löw às vésperas da Copa. Mesmo com a titularidade na África do Sul virando uma possibilidade concreta, o atacante tem sua história de mais de dez anos no país em que acabou radicado quase desconhecida na sua terra natal.

Nesta recente biografia brasileira de sucesso no exterior, um dado ainda menos conhecido é a intervenção de um compatriota de Cacau, Paulo Rink, o primeiro jogador nascido no Brasil a defender a seleção de Beckenbauer, Matthäus e companhia.

"Pouca gente sabe, mas fui eu que lancei o Cacau na Alemanha. Eu jogava no Nuremberg. Eu estava lá emprestado pelo Leverkusen e na rodada que iríamos enfrentar eles, não podia jogar, por questão de contrato. Aí eu falei para o técnico usar o Cacau. Na época ele estava treinando no amador do clube. Deu certo, o menino entrou no jogo e fez dois gols", relata o ex-jogador, que hoje atua como uma espécie de embaixador do Atlético-PR para assuntos internacionais.

"Depois disso, sugeri para o técnico me recuar no time e deixar o Cacau mais na frente, no meu lugar. Deu certo, ele fez seis gols, com quatro assistências minhas, e conseguimos escapar do rebaixamento", conta Paulo Rink.

Antes do apadrinhamento de Paulo Rink, no entanto, Cacau chegou à Alemanha por intermédio de um de seus primeiros técnicos. Em 1999, Claudemir Jeronimo Baretto jogava em uma escola de Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, e foi encaminhado a um time amador de Munique, da colônia turca, através de um primo do treinador da época.

Temporadas mais tarde, Cacau já acumula um título alemão (com o Stuttgart em 2007) e destaque individual. No ano passado, conseguiu a cidadania no país. Meses depois, teve os serviços de jogador requisitados por Joachim Löw na seleção. É hoje rival de Klose e Mario Gomes por uma vaga no ataque titular na África do Sul.

"Ele tem tudo para dar certo na Copa do Mundo. Está adaptado ao idioma, coisa que eu não estava quando joguei na seleção. Só conseguia dar entrevistas em inglês na época. Só não pode enfrentar o Brasil, aí complica. Mexe muito com a gente", comenta Rink, que foi adversário do Brasil em uma oportunidade.

Sem fé na Alemanha e 'podres' dos tempos de Matthäus

Ausente dos campos, Paulo Rink ainda preserva laços com o futebol alemão, mais especificamente com os seus contemporâneos, jogadores da geração vice-campeã de 2002 (torneio que não teve o brasileiro presente). Na última semana, o ex-jogador participou da despedida de Bernd Schneider, antigo lateral do Bayer Leverkusen.

Na bagagem de volta ao Brasil, Rink trouxe o pessimismo quanto às chances alemãs na Copa da África do Sul. “A lesão do Ballack foi uma grande perda, é um comandante em campo, dá a cara para bater. Além disso, os dois goleiros saíram (Kahn e Lehmann), houve uma grande renovação e o time é bem inexperiente”, opina, com uma ressalva: "Mas se deixar o time crescer, aí eles são ardidos".

Dos tempos de seleção alemã, Rink fala com orgulho de suas 23 convocações e da participação na Eurocopa de 2000, apesar da campanha fracassada de sua equipe. O ex-atacante ainda conta passagens polêmicas e desconhecidas nos bastidores do time.

"A Alemanha tem um estilo de jogo consagrado. Os caras não aceitam mudar de uma hora para outra, jogar ofensivamente. Teve um dia, que o técnico, o (Erich) Ribbeck, quis jogar mais na frente. Aí, o Matthäus pediu cinco minutos: 'professor, podemos conversar só nós, os jogadores?' . O técnico saiu da sala, o Matthäus falou para esquecer tudo e começou a escalar o time tudo de novo, mexendo os botões no quadro negro: 'Eu de líbero atrás, você (Rink) mais atrás e só o Bierhoff enfiado lá na frente'" , relata. "E assim nós ganhamos o jogo por 2 a 1".

"Outra lembrança curiosa era da turma dos fumantes. Tive que virar fumante para não ficar excluído na seleção. Teve uma época em que 18 dos 23 jogadores convocados para a Eurocopa fumavam, incluindo o Kahn, o Matthäus. O Schneider corria aquilo tudo e fumava um maço por dia. Se ficasse de fora, eu já era lá dentro, estava ferrado", conta.

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