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A vitória da URSS por 3 a 0 na Copa de 66 foi ouvida no rádio pelos norte-coreanos

22/04/2010 - 07h01

Ganhando ou perdendo, ditadura norte-coreana transmitirá a Copa, diz empresário

Rafael Veríssimo
Em São Paulo

Independentemente do resultado, todas as partidas da Coreia do Norte na Copa do Mundo serão transmitidas no único canal disponível à população do regime mais fechado do mundo, contrariando as especulações de que a transmissão dos jogos estaria sujeita ao desempenho da Chollima na Copa do Mundo.

A afirmação é do inglês Nick Bonner, produtor associado do documentário “The Game of Their Lives” (“O Jogo de Suas Vidas”), realizado por uma equipe da BBC que, após quatro anos de negociações, conseguiu uma raríssima autorização para filmar, no regime mais fechado do mundo, um longa-metragem sobre os protagonistas da maior zebra da história das Copas: a vitória da Coreia do Norte sobre a Itália por 1 a 0 na Copa de 1966, na Inglaterra, que eliminou a Azzurra da competição.

Bonner pode estar diretamente interessado em mostrar uma imagem melhor do regime de Kim Jong-Il perante o mundo – afinal, é dono de uma das únicas agências de turismo autorizadas a organizar excursões para a Coreia do Norte, a Koryo Tours, baseada em Pequim.

JOGOS DA COPA DO MUNDO? SÓ AMANHÃ

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    Sem os direitos de transmissão e com o fuso horário, norte-coreanos verão os jogos de sua equipe na Copa do Mundo apenas um dia depois.

Mas também ele é um dos poucos ocidentais que já foram diversas vezes ao país. E não hesita em desmentir boatos de que a Copa do Mundo pode até ser completamente ignorada caso os norte-coreanos dêem vexame - algo nem um pouco impossível, uma vez que estão no Grupo G do Mundial ao lado de Brasil, Portugal e Costa do Marfim.

“Sim, eles mostram partidas envolvendo suas equipes nacionais, independentemente de vitória ou derrota, e o único canal disponível para a população fará a transmissão dos jogos da Coreia do Norte na África do Sul”, conta Bonner, que confirma que as partidas são transmitidas somente no dia seguinte à sua realização, já que a ditadura norte-coreana não paga pelos direitos de transmissão e, logo, não pode passar os jogos ao vivo.

“Na capital, Pyongyang, os coreanos têm somente um canal durante a semana e duas estações nos fins de semana. No domingo à noite, é transmitido um programa de uma hora de duração dedicado somente ao futebol, e é interessante ver o quanto eles estão começando a ver mais e mais do futebol mundial a cada dia – eles sabem, por exemplo, quem é David Beckham”, completa o inglês.

O que seria um certo “relaxamento” da ditadura de Kim Jong-Il com relação ao futebol, uma vez que a informação é 100% controlada pelo governo em prol de sua imagem, para Bonner nada mais é do que o fruto do grande fascínio que os norte-coreanos têm pela bola.

“O futebol é jogado em qualquer lugar que você vá, e se você estiver em Pyongyang com uma bola na mão, não vai demorar muito até que você seja cercado por crianças querendo jogar. É um país apaixonado por futebol. A Copa, como em qualquer outro lugar do mundo, será o assunto que estará na ponta da língua de todos nas ruas de Pyongyang”.

Exemplos do fascínio norte-coreano pela bola não faltam. No documentário da BBC, alguns dos heróis da façanha da Copa de 66 contam que, durante a Guerra da Coreia, entre 1950 e 1953, quando Pyongyang ficou literalmente reduzida às cinzas pelos bombardeios norte-americanos, os jogadores treinavam com qualquer objeto que pudesse se parecer com uma bola de futebol em meio aos escombros.

Outro caso interessante é a Copa de 2002, co-organizada por Japão e Coreia do Sul, inimigos ferrenhos do regime de Kim Jong-Il. Bonner conta que ao contrário do que dizem os boatos, os norte-coreanos não só assistiram ao Mundial como torceram para seus vizinhos do sul e ficaram orgulhosos do 4º lugar obtido pelos sul-coreanos.

Afinal de contas, rivalidades políticas à parte, o povo coreano, para muitos, é um só, como atestou o grande ídolo e herói da Copa de 66 à equipe da BBC durante as filmagens de “O Jogo de Suas Vidas”.

“Aprendi que o futebol não é apenas a vitória. Onde quer que formos, jogar futebol pode aprimorar relações diplomáticas e promover a paz”, disse Pak Do-Ik, autor do gol da vitória contra a Itália e que fez os ingleses, a princípio do outro lado da Muralha de Ferro, adotarem os jogadores norte-coreanos como seus queridinhos no Mundial da Terra da Rainha.

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