Argentinos tomam vagas em Copacabana e dormem nas ruas à espera da final

Vinicius Castro

Do UOL, no Rio de Janeiro

A cada dez carros estacionados na orla de Copacabana, seis possuem placas oriundas da Argentina. A invasão dos hermanos para a final da Copa do Mundo contra a Alemanha, domingo, às 16h, no Maracanã, é quase que incalculável - mais de 70 mil são esperados pelas autoridades. E eles chegam ao Rio de Janeiro de todas as formas, principalmente em carros e motorhomes. A maioria não tem hospedagem, tampouco ingressos e ainda dorme nas ruas à espera do sonhado tricampeonato.

A reportagem do UOL Esporte passou a madrugada de sábado na zona sul carioca e acompanhou a odisseia dos nossos vizinhos para apoiar a seleção comandada por Messi. Muitos ainda estão a caminho da Cidade Maravilhosa, enquanto os que chegaram já completaram pelo menos duas noites dormindo ao relento e tomando banho nos postos salva vidas da famosa praia.

Os argentinos levaram entre dois e três dias de viagem para chegar ao Rio. Sem vagas em hoteis e com a lotação quase esgotada dos locais destinados pela Prefeitura, eles foram direto para Copacabana. Estacionaram os veículos e montaram seus acampamentos provisórios. Dormem, comem e se trocam nos carros sem qualquer dificuldade. Segundo eles, a participação na decisão do Mundial compensa o desconforto.

Muitos precisam revezar em busca de uma qualidade maior no sono. Enquanto dois ocupantes de um carro dormem, os outros passeiam pelas ruas e aproveitam para conhecer a cidade. O empresário Pablo Jorge, de 51 anos, viajou acompanhado do filho Santiago e de amigos. Eles decidiram dormir nas ruas para poupar dinheiro e gastar apenas no dia da final.

"Já dormimos duas noites aqui na praia. Não fomos importunados e decidimos fazer a viagem para ficar perto da seleção argentina. Qualquer apoio vale a pena em um momento histórico. Não temos ingressos e vamos assistir ao jogo na Fan Fest. A ideia é economizar com hospedagem, alimentação e gastar tudo na comemoração do título", afirmou Pablo.

Os hermanos não abrem mão do futebol entre um cochilo e outro. Pelo menos duas peladas foram organizadas no calçadão durante a madrugada e viraram atração turística. Se os nossos vizinhos não se preocupam com o conforto, as multas e reboques tiram o sono dos visitantes. Eles são abordados volta e meia pela fiscalização e precisam apresentar documentos para não correr o risco de ter a "casa" levada pelas autoridades.

ARGENTINOS INVADEM, FAZEM FESTA E DORMEM NA PRAIA DE COPACABANA

Bebida como combustível e dura da PM

Boa parte dos moradores reclama da festa promovida pelos argentinos, porém, donos de bares e quiosques comemoram. Os hermanos usam qualquer tipo de bebida como combustível, principalmente cerveja, vinho e cachaça, e não param de cantar um minuto. A forma com a qual se portam faz com que sejam abordados pela Polícia.

As revistas em busca de drogas e documentos são frequentes. Elas duram a madrugada inteira e deixam os argentinos irritados. Muitos são intolerantes e recebem rapidamente o alerta de "cessar-fogo" para evitar uma possível detenção por desacato à autoridade.

Eles também se arriscam ao abordarem garotas de programa. Sob efeito de álcool, alguns tocam nos corpos das meninas e são alvos de tapas e olhares atravessados dos seguranças à paisana. É o momento no qual aparece o "anjo da guarda", geralmente um flanelinha ou morador da área, para explicar as regras e tirar o turista do local delicado.

Entre correr riscos e deixar de lado a paixão pela seleção argentina, os torcedores não têm dúvida na escolha. Mesmo bem recebidos no país e por vezes vacilantes no comportamento, os hermanos só querem saber de conquistar a Copa do Mundo.

"Essa fiscalização toda é normal. O mundo veio para o Brasil. A Polícia está certa, mas nada nos abala. Vamos continuar fazendo festa, bebendo, dormindo na rua e ainda queremos comemorar o título no Rio por uma semana. Ninguém vai nos parar. Isso é futebol, festa e não roubamos ninguém. Só queremos nos divertir", comentou o estudante Nicolas Ruiz.

Mais dois locais para estacionamento

Com o Terreirão do Samba, Praça da Apoteose e Copacabana dominados pelos argentinos, a Prefeitura do Rio de Janeiro abriu dois novos locais para que os visitantes possam estacionar carros e motorhomes. Feira de São Cristóvão e Fundão foram escolhidos.

O primeiro fica próximo ao Maracanã e já recebeu os primeiros hermanos durante a madrugada. Em comum: barracas de camping, faixas, camisas e bandeiras da Argentina sempre em abundante quantidade.

A Cidade Maravilhosa virou uma filial de Buenos Aires e a festa está formada. Alguns reprovam, outros aprovam. Mas os argentinos não estão preocupados com qualquer avaliação. Eles querem comemorar. Os hermanos garantem dominar a arte de torcer e consideram-se os responsáveis por boa parte do clima de Copa no Brasil. E quem vai dizer que estão errados?

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