Máfia do ingresso negociou bilhete da Copa dado por governo a escola
Vinicius Konchinski
Do UOL, no Rio de Janeiro
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Junior Lago/UOL
Ingressos dados a operários de estádios também foram vendidos por quadrilha de cambistas
O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) apresentou na quinta-feira a denúncia contra os suspeitos de integrar a máfia dos ingressos. Segundo a promotoria, a quadrilha internacional vendia ilegalmente ingressos da Copa do Mundo de 2014 oriundos de diferentes fontes. Comercializava, inclusive, bilhetes reservados pela Fifa a um fundo governamental de tíquetes, os quais depois foram repassadas a escolas e ONGs (organizações não governamentais).
O comércio desses bilhetes está descrito pelo MP-RJ na denúncia encaminhada à Justiça. Com base nela, foram acusados 12 suspeitos de integrar a máfia dos ingressos. Onze tiveram sua prisão decretada pelo Juizado do Torcedor.
A denúncia é de autoria do promotor Marcos Kac, da 9ª PIP (Promotoria de Investigação Penal do MP-RJ). Kac descreve no documento que os integrantes da suposta quadrilha obtinham bilhetes na Match, empresa parceira da Fifa; com jogadores de futebol; com federações de futebol; com operários de estádios da Copa, e da cota reservada ao governo. "Os acusados granjeavam ingressos (...) do fundo governamental de ingressos destinados a ONGs e escolas", declara o MP-RJ.
A denúncia tem com base investigação realizada pela Polícia Civil por mais de um mês. Nessa investigação, policiais interceptaram ligações telefônicas dos acusados de integrar o esquema de venda ilegal de ingressos. Numa escutas, Sergio Antonio de Lima, o Serginho, negocia com um interlocutor não identificado bilhetes da Copa dados a escolas de Fortaleza.
A conversa foi gravada no dia 13 de junho, um dia após o início da Copa do Mundo, com autorização da Justiça. Leia um trecho da transcrição obtida na íntegra pelo UOL Esporte:
Interlocutor: As escolas daqui [de Fortaleza] ganharam 7.500 ingressos e esses ingressos que as escolas ganharam vieram para a rua. Eu vou fazer o maior esforço para vender no menor preço possível.
Serginho: Eu paguei nisso aí R$ 350. Porque você sabe que a gente não paga o preço oficial.
Interlocutor: É verdade.
Serginho: A gente paga o preço mais caro. Aí você vê o que faz aí, está bom?
Interlocutor: Está. Pode deixar.
Serginho: Falou, filhão. Estou te esperando.
Serginho, de acordo com denúncia do MP-RJ, é "pessoa extremamente experiente no ramo do cambismo". Ele tem contatos no Ceará, Espírito Santo e Distrito Federal e mantinha relação direta com o argelino Mohamadoud Lamine Fofana, apontado como o número 2 da máfia pelo MP-RJ.
Para o MP, o chefe da quadrilha é o inglês Raymond Whelan, diretor executivo da Match Services, empresa parceira da Fifa na organização da Copa do Mundo. Whelan também teve sua prisão decretada e é considerado foragido. Segundo a polícia, o inglês fugiu do hotel em que estava hospedado pela porta dos fundos para não ser preso (veja o vídeo abaixo).
Ingressos governamentais
O governo federal conseguiu com a Fifa 48 mil ingressos da Copa do Mundo de 2014 para serem distribuídos a escolas. Ao todo, 901 instituições de ensino foram contempladas. Um sorteio realizado em maio definiu quem ficaria com os bilhetes.
Quem ganhou o ingresso teve de informar seu nome e documento, ou de um responsável, à escola. Os ingressos foram retirados diretamente por essas pessoas nos centros de distribuição de bilhetes da Copa montados pela Fifa em cidades-sede.
O Ministério do Esporte, órgão que acompanha a organização da Copa do Mundo, foi procurado pelo UOL Esporte para comentar a venda ilegal dos ingressos dados às escolas. Disse que não teve acesso à denúncia do MP-RJ e, portanto, não poderia comentar o assunto. Adiantou, porém, que não participou efetivamente do processo de distribuição das entradas. Isso foi feito pela Fifa.
O UOL Esporte procurou a Fifa no final da noite de ontem. Não encontrou ninguém da entidade para comentar o caso. Antes de a denúncia do MP-RJ ter sido apresentada à Justiça, a Fifa já havia reiterado que apoia toda ação para combate da venda ilegal de ingressos da Copa do Mundo.
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