Conversas mostram elo de executivo com máfia de cambistas; leia trechos

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

  • Osvaldo Praddo/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

    Investigação aponta contradição em discurso de executivo da Match preso no Rio de Janeiro

    Investigação aponta contradição em discurso de executivo da Match preso no Rio de Janeiro

O diretor executivo da Match Services, Raymond Whelan, é o principal suspeito de ser o elo de ligação entre a Fifa e uma máfia internacional de cambistas que vendia ingressos da Copa do Mundo, segundo investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Whelan chegou a ser preso na tarde de segunda-feira, mas foi solto horas depois após pagar fiança de R$ 5 mil. Os advogados do executivo negam que ele tenha cometido qualquer ato ilegal.

No entanto, conversas interceptadas pela polícia com autorização da Justiça apontam que Whelan negociou, sim, ingressos com o suposto líder dessa máfia de cambistas, o argelino Mohamadou Lamine Fofana. De acordo com o delegado Fábio Barucke, responsável pelas investigações do esquema de venda ilegal de bilhetes do Mundial, os registros das ligações são provas de que Whelan praticou crimes.

Segundo Barucke, o executivo da Match, empresa parceira da Fifa, fornecia ingressos a cambistas sabendo que eles seriam revendidos por preço acima do mercado. Por isso, deve responder pelos crimes de cambismo e associação criminosa.

Leia abaixo alguns registros de ligações ou mensagens trocadas entre Whelan e Fofana:

1. Fofana pede ingressos a Whelan por telefone
Fofana: Vou falar com meu cliente hoje por volta das 17h para pegar o pacote do sétimo jogo. Talvez a gente precise de 20 ingressos agora.
Whelan: Eu posso fazer isso. No momento tenho 24. Tenho eles em mão.
Fofana: Se você tem na mão, posso te pagar diretamente?
Whelan: Mas é muito dinheiro. São 24 vezes US$ 25 mil.
Fofana: Eu sei. Posso te pagar em reais ou em dólares?
Whelan: Em dólares.

2. Fofana negocia ingresso de Espanha x Chile via mensagem de texto
Fofana: Preço de Espanha – Chile
Whelan: Assentos executivos: US$ 1.500
(Um dia depois) Fofana: Muito caro. Preciso categoria 1.
Whelan: Agora, vendo os assentos executivos por U$ 700.

3. Fofana combina pagamento com Whelan via mensagem de texto
Fofana: Esqueci de te dar US$ 2.700. Trago mais tarde
Whelan: Ok

Operação Jules Rimet

A operação que prendeu Fofana, Whelan e outros dez suspeitos de integrar a máfia dos ingressos foi batizada de Jules Rimet, em alusão ao nome do primeiro presidente da Fifa. Ela é resultado investigações da polícia e Ministério Público.

Dos 12 detidos na operação, 11 ainda estão presos. Só Whelan foi libertado.

Mais de cem ingressos foram apreendidos na ação, além de dinheiro e máquinas para pagamento em cartão de crédito. Os bilhetes pegos pela polícia eram reservados pela Fifa a seus patrocinadores, a clientes de pacotes de hospitalidades (camarotes) e até a membros de comissões técnicas de seleções. Dez ingressos, inclusive, eram reservados as integrantes da comissão técnica da seleção brasileira.

Segundo Polícia Civil, a quadrilha vendia ingressos por até R$ 35 mil. Com isso, lucrava até R$ 1 milhão por jogo. Na Copa, o grupo poderia faturar R$ 200 milhões.

Suspeitos presos informaram à polícia que o esquema não é novo. Ele funcionava há quatro Copas. O trabalho seria tão lucrativo que integrantes da quadrilha trabalhariam durante o torneio e depois descansariam por quatro anos até o próximo Mundial.

Todos os presos vão responder pelos crimes de associação criminosa e cambismo.

Match responde

A Match, empresa parceira da Fifa, confirmou em nota que Whelan mantinha contatos com Fofana. A empresa, entretanto, disse que eles negociaram ingressos antes da Copa do Mundo. Um contrato legal entre a Match e a empresa do argelino, a Atlanta Sportif, foi firmado abril e os bilhetes foram entregues em maio.

A Match também disse que Fofana manteve contato com Whelan porque solicitava ao executivo miniaturas da taça da Copa do Mundo para dar de presente a ex-jogadores campeões do Mundial de 1970.

Lei o posicionamento da Match na íntegra:

Temos completa fé de que os fatos estabelecerão que Ray Whelan não cometeu nenhuma violação às leis brasileiras.

Por muitos dias, a polícia esteve fornecendo informações para a mídia sobre a suspeita do envolvimento de um membro da Match, citando centenas de ligações da Suíça do suspeito, e outros fatos que não podem ser relacionados ao senhor Whelan, que reside no Brasil.

1 - Lamine Fofana, quem a Match entende que está no centro da operação Jules Rimet, é o diretor-executivo da Atlanta Sportif.

2 - Atlanta Sportif assinou um acordo de compra padrão com a Match Hospitality com data de 24 de abril de 2014 com valor contratual de US$ 121.750,00 para um total de 105 pacotes de hospitalidade.

3 - O pagamento total pelos 105 pacotes de hospitalidade foi recebido pela Match em 02/05/2014.

4 - Em 05/05/2014, a Match Hospitality foi informada que Lamine Fofana estava tentando vender pacotes de hospitalidade por um preço maior.

5 - Em 22/05/2014, a Match Hospitality pôde ligar Lamine Fofana com o acordo de compra 106214.

6 - Instruções foram enviadas do escritório da Match Hospitality para bloquear a coleta dos pacotes de hospitalidade da Atlanta Sportif.

7 - Infelizmente, os pacotes de hospitalidade já haviam sido recolhidos e o escritório não foi informado.

8 - Assim que a Match Hospitality ligou a operação Jules Rimet à Atlanta Sportif/Lamine Fofana, a Match bloqueou todos os pacotes de hospitalidade para as partidas restantes (as duas semifinais).

9 - Lamine Fofana é um agente de jogador que no passado ajudou o senhor Ray Whelan a enviar times de futebol de jovens para os torneios de futuros campeões do senhor Whelan.

10 - O senhor Whelan trabalha para a Match Services na operação de acomodações e não trabalha para a Match Hospitality. Ele, portanto, não estava ciente de que a MH havia decidido bloquear a compra de pacotes de hospitalidade pela empresa de Lamine Fofana.

11 - Durante a Copa do Mundo da Fifa, Lamine Fofana pediu 30 miniaturas da taça ao senhor Whelan para presentear membros do time campeão da Copa do Mundo de 1970.

É meramente na força das ligações telefônicas em conexão com o torneio de jovens do senhor Whelan e ajuda para os campeões de 70 que as autoridades chegaram a conclusões infelizes e inapropriadas.

A Match continuará a dar total apoio a todas as investigações da polícia.

Jaime Byrom

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