Acusado de abastecer máfia de ingressos foge pela porta dos fundos no Rio

Rodrigo Mattos, Vinicius Castro e Vinicius Konchinski*

Do UOL, no Rio de Janeiro

* Atualizada às 22h04

Pouco tempo após a Justiça ter decretado prisão preventiva dele, o inglês Raymond Whelan, diretor-executivo da Match Services, empresa parceira da Fifa na organização da Copa do Mundo, deixou o Copacabana Palace pela porta dos fundos nesta quinta-feira. O paradeiro do executivo é desconhecido até o momento. Segundo a polícia, Whelan fugiu para não ser preso mais uma vez.

O delegado Fábio Barucke. titular da 18ª Delegacia de Polícia, chegou ao hotel para cumprir o mandado de prisão de Whelan por volta das 16h30. As câmeras de segurança flagraram o inglês deixando o local pela porta dos fundos às 16h15. Em contato com o UOL Esporte, o promotor Marcos Kac disse que o empresário já é considerado foragido por não ter sido encontrado pela Justiça. Até mesmo a Polícia Federal pode ser acionada na tentativa de encontra-lo. 

Whelan chegou a fazer o check-out no Copacabana Palace antes de a polícia entrar. O hotel informou que não colaborou com a saída do diretor da Match.

Whelan é acusado de ser a ligação de dentro da organização da Copa com a quadrilha liderada pelo franco-argelino Mohamadoud Lamine Fofana, suspeito de ser o chefe da mafia dos ingressos da Copa. O inglês havia sido preso na segunda-feira e solto horas depois por causa de um habeas corpus.

Fofana e outros suspeitos também tiveram sua prisão preventiva decretada. Dos 11 que tiveram a prisão preventiva decretada, nove estavam na cadeia cumprindo prisão temporária. Só Whelan e Marcelo Pavão haviam conseguido um habeas corpus e estavam livres. Pavão, porém, já se apresentou na 18ª Delegacia de Polícia ainda nesta tarde.

Ainda nesta quinta, o Ministério Público denunciou 12 envolvidos de integrar a máfia dos ingressos. A Justiça acatou a denúncia e decretou a prisão de 11 acusados. Só José Massih não teve a prisão decretada.

Todos os acusados pelo devem responder pelos crimes de formação de organização criminosa, cambismo, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal.

Os acusados já afirmaram polícia que são inocentes. A defesa de Whelan entrou com recurso nesta quinta-feira, alegando que a prisão descumpre decisão liminar que libertou o executivo na terça. "Não há como ser decretada prisão preventiva de Raymond Whelan", disse o advogado Fernando Fernandes.

Operação Jules Rimet

A operação desbaratou a máfia dos ingressos foi batizada de Jules Rimet, em alusão ao nome do primeiro presidente da Fifa. Ela é resultado de mais de um mês de investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro e Ministério Público.

Na operação, quase 200 ingressos da Copa já foram apreendidos na ação, além de dinheiro e máquinas para pagamento em cartão de crédito. Os bilhetes pegos pela polícia eram reservados pela Fifa a seus patrocinadores, a clientes de pacotes de hospitalidades e até a membros de comissões técnicas. Dez ingressos, inclusive, eram reservados as integrantes da comissão técnica da seleção brasileira.

Segundo Polícia Civil, a quadrilha vendia ingressos por até R$ 35 mil. Com isso, lucrava até R$ 1 milhão por jogo. Na Copa, o grupo poderia faturar R$ 200 milhões.

A polícia informou que o esquema não é novo. Ele funcionava há quatro Copas. O trabalho seria tão lucrativo que integrantes da quadrilha trabalhariam durante o torneio e depois descansariam por quatro anos até o próximo Mundial.

Suspeitos presos e Whelan negam que cometeram qualquer crime. A Match, aliás, divulgou um comunicado na quarta-feira criticando o trabalho da Polícia Civil do Rio de Janeiro e declarando que a prisão do seu diretor executivo foi "ilegal e arbitrária".

O delegado Barucke disse que as críticas são uma forma de defesa da Match.

Match volta a responsabilizar desconhecimento da polícia

Em carta enviada à imprensa nesta quinta-feira, a Match voltou a dizer que a operação da Polícia Civil é consequência de desconhecimento. O tom é similar ao que a empresa havia adotado no primeiro posicionamento oficial sobre a prisão de Whelan.

"A 18ª Delegacia de Polícia Civil do Rio de Janeiro não é expert na venda de ingressos de hospitalidade da Fifa. Uma releitura sobre o modelo de comercialização, disponível no site da Fifa, teria alertado sobre a diferença entre ingressos e pacotes de hospitalidade", escreveu a Match.

O documento é descrito como uma explicação de Jaime Byrom, presidente da Match Services e da Match Hospitality, empresas que trabalham com a Fifa. O grupo detém exclusividade para comercialização de pacotes corporativos e camarotes em eventos realizados pela entidade esportiva.

A tese da Match é que Whelan realmente conversou com integrantes do grupo preso inicialmente pela Polícia Civil, mas fez isso para tentar vender pacotes de hospitalidade. De acordo com a empresa, isso justifica o preço (US$ 24,5 mil) que ele cobrava por um ingresso para a decisão da Copa.

"Longe de ajudar a incriminar o senhor Whelan, essas conversas mostram claramente uma discussão sobre possível venda de um produto de hospitalidade", completou.

Assim como havia feito no primeiro posicionamento oficial, a empresa disse nesta quinta-feira que a ação da Polícia Civil não tem base legal. No entanto, a Match fez elogios ao trabalho de algumas autoridades brasileiras envolvidas na operação.

*Atualizada às 18h10

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