Ingressos da máfia de cambistas são reais, mas donos podem fugir de punição
Rodrigo Mattos e Vinicius Konchiski
Do UOL, no Rio de Janeiro
Após verificação de dois exemplares, a Fifa confirmou a veracidade de exemplares de ingressos apreendidos pela polícia na operação da polícia contra a máfia de cambistas. Mas, ainda assim, donos podem não ser punidos por repassar bilhetes. Até agora só negociadores estão presos e sofrerão penas.
Na noite de quinta-feira, a polícia civil levou duas entradas para a entidade, que confirmou que essas eram válidas, segundo apurou o UOL Esporte. Na manhã desta sexta-feira, o restante da carga de ingressos foi verificado por experts da federação internacional. Não houve nenhum relato de falsificação.
Apesar disso, uma punição para os donos dos bilhetes repassados aos cambistas está longe de ser certa. Eles não respondem criminalmente pelos bilhetes a não ser que se prove que venderam de propósito para a máfia com a intenção de obter lucro. A Fifa só vai puni-los se for comprovado que algum item do código de ética da entidade foi ferido - o fato de terem o nome nas entradas não é suficiente.
"Não podemos comentar porque há um processo em curso. Precisamos rastrear os ingressos, e os canais pelos quais sairiam. Certos nomes, ou organizações, se apareceram nos ingressos, não são responsáveis necessariamente (pela revenda) pelos ingressos. (…)Estamos trabalhando com as autoridades", afirmou uma nota oficial de Thierry Weil, diretor de ingressos da Fifa. A entidade tem chips que identificam para quem foi dado cada bilhete.
A porta-voz da Fifa prometeu que quem violar o código de ética da Fifa pode ser punido de acordo com essa norma. "Veremos quem violou e ver quais as sanções se houve violação. Pode haver responsabilização. Tudo será considerado. A pessoa pode ser punida. Para futuro, o ingresso será cancelado. E pode entrar na revenda".
A questão é que não há nenhuma garantia de que os ingressos apreendidos serão de fato revendidos. Muitos deles podem ser para as quartas de final, jogos nesta sexta-feira e neste sábado, e não haverá mais tempo hábil para renegociá-los. Bilhetes de convidados que estiverem dentro do pacote, para assentos Vips, também não participavam da negociação geral de bilhetes da entidade.
O coordenador estratégico da Polícia Civil do Rio de Janeiro para a Copa do Mundo, delegado Tarcísio Jansen, explicou que não é porque uma pessoa tem um ingresso com seu nome apreendido que ela faz parte do esquema de venda ilegal de bilhetes. Segundo ele, só é crime vender tíquetes com preço além do marcado no bilhete ou então transferir esse ingresso a alguém sabendo que ele será comercializado pela quadrilha.
"Ter ingresso e revender não é crime. Dar o ingresso não é crime", explicou. "Crime é vender o ingresso por um valor maior e ciente de uma ação criminosa por trás de tudo isso."