Galã da Bélgica tem uma mancha no passado. E ele não consegue apagá-la
Luis Augusto Simon
Do UOL, em São Paulo
Axel Thomas Witsel, negro de olhos verdes, com 1,83 m, é um dos galãs mais queridos da seleção da Bélgica, que enfrenta a Coreia do Sul às 17h desta quinta-feira no Itaquerão. "Ele é um grande ídolo, as garotas gostam dele, mas não se pode dizer que seja uma celebridade. É um jovem muito reservado", diz o jornalista Olivier Smets.
O estilo reservado tem a ver com um lance muito duro, que modificou a sua vida. Witsel, um "diabo vermelho" de ótimo passe e raros erros, precisou passar por um duro exílio – ainda passa – para voltar a ser admirado e respeitado pelos belgas. Ainda é contestado, mas principalmente pelos fanáticos do Anderletch. Eles não perdoam o dia em que o carneiro quebrou o carniceiro, como muitos se referem àquela dividida de 30 de agosto de 2009.
Era domingo à noite, dia de clássico entre Standard Liége e Anderletch. E havia apenas uma bola para quatro pernas naquela jogada. Witsel chegou atrasado e pegou, por cima da bola, a perna de Marcin Wasilewski, um defensor de muita força e pouca técnica, que sempre gostou de usar o cotovelo nas disputas com adversários.
A cena disponível é terrível - você pode ver no vídeo abaixo, mas prepare-se para ficar chocado. Jogadores do Anderletch começaram a chorar, vendo a perna do companheiro toda estendida, com a fratura de tíbia e perônio. Witsel foi suspenso por oito partidas. Virou capa diária de jornais. Foi chamado de criminoso. O garoto amado por todos passou a ser odiado. Pedras foram jogadas na janela da casa de seus pais. O incidente mudou o jogador. "Ele se tornou mais fechado, era possível em sua face que ele estava sofrendo com essa tormenta", disse seu pai ao "The Guardian".
Depois da suspensão, Witsel precisou recuperar a fama que havia perdido. Filho de mãe belga e pai com raízes na Martinica, ele chegou à base do Standard com nove anos. Sempre foi considerado um jogador versátil, um volante com saída de bola excepcional e um meia com bom poder de desarme.
Aos 15 anos de idade, era cobiçado pelo Real Madrid, Arsenal e Feyenoord, mas permaneceu fiel ao Standard Liege. Logo chegou às seleções de base e, em 2008, comandou o Standard na conquista de um título nacional que não vinha havia 25 anos. Foi eleito o jogador do ano e chamado pela primeira vez pela seleção principal.
O tempo tudo cura e o criminoso voltou a ser o jogador habilidoso. Em julho de 2011, o Benfica pagou 8 milhões de euros por ele. Assinou por cinco anos, mas ficou apenas um. Em setembro de 2012 o Zenit pagou 40 milhões de euros para levá-lo. A transferência causou revolta nos jogadores russos (o clube também contratou no período o brasileiro Hulk por 60 milhões de euros). A crise só foi resolvida quando o presidente Vladimir Putin intercedeu, elogiando as contratações.
Hoje, aos 25 anos, Witsel é um dos intocáveis do treinador Marc Wilmots. Tem carisma, força, técnica, visão, excelente passe e nunca perde uma bola. "Ele é meu professor dentro de campo", diz o treinador. "Witsel começou a carreira como um jogador mais defensivo, com boa saída de bola, mas hoje joga mais à frente e ajuda muito os companheiros. Tem muita posse de bola", explica Steven Vanhyfte, também jornalista belga. Está pronto para brilhar.
A Bélgica, que disputa seu 12ª Copa, sonha com uma participação tão boa como em 1986, quando chegou à semifinal. Mesmo que consiga e que Witsel tenha destaque nessa participação, o jogador será lembrado sempre pela entrada que quebrou um companheiro de profissão, assim como omo Maradona e sua mão de Deus e Zidane com sua cabeçada em Materazzi.