Favorita dos hipsters, Bélgica leva choque de realidade na Copa do Mundo
Fernando Duarte
Do UOL, no Rio de Janeiro
Invicta nas eliminatórias europeias, numa campanha em que marcou 26 de 30 pontos possíveis, e com uma geração de jovens jogadores que já vinha empolgando os fãs hipsters de futebol internacional, a Bélgica chegou à Copa do Mundo como um dos times destinados a empolgar. Mas depois de duas vitórias apertadas e sem brilho, os Diabos Vermelhos levaram um choque de realidade em seu retorno ao torneio.
Contra a Argélia, tiveram que correr atrás do resultado desde os 25 minutos e só a 10 do fim conseguiram a virada. Contra a Rússia, a equipe em vários momentos foi subjugada pelos russos, que perderam uma chance incrível no primeiro tempo e ainda obrigaram o goleiro Thibaut Courtouis a duas difíceis defesas em chute de longe. O gol de Origi veio num raro momento em que o principal jogador belga, o meia Eden Hazard, conseguiu escapar da vigilância dos russos.
"Não fizemos uma boa partida contra a Rússia e sofremos com a Argélia, mas isso faz parte de uma competição tão dura quanto a Copa do Mundo. Somos também uma equipe muito jovem e é normal que o nervosismo atrapalhe um pouco. Mas estamos classificados para as oitavas de final e isso mostra que fizemos algo direito", brinca o zagueiro e capitão Vincent Kompany, jogador do Manchester City.
Ausentes da Copa desde 2002, quando perderam para o Brasil nas oitavas-de-final de forma controversa (um gol mal-anulado do hoje treinador Marc Wilmots), os belgas chegaram ao Mundial turbinados por uma reinvenção de seu futebol e por uma geração diferenciada de jogadores que hoje engrossa o elenco de alguns dos principais clubes da Europa – dos 23 chamados por Wilmots, apenas três jogadores ainda atual na Liga Belga. O time é o terceiro mais jovem da competição (média de idade de 25,3 anos) e tem nada menos que 11 jogadores baseados na Inglaterra, o que ajudou os belgas a virarem o segundo time de muitos torcedores ingleses.
Liderada pelo habilidoso Hazard, do Chelsea, a Bélgica sobrou nas eliminatórias e e determinou bem cedo que a Croácia teria de jogar a repescagem para chegar ao Brasil. Marcou 18 gols e sofreu apenas quatro, um desempenho que ajudou o time a disparar no ranking da Fifa e fazer dos Diabos cabeças-de-chave. Empolgou a torcida local e "agregada" o suficiente para que o time fosse apontado até como um possível semifinalista, ainda mais depois de cair num grupo relativamente simples – a Coreia do Sul completa o grupo.
"Nós nunca nos iludimos com os resultados das eliminatórias. Mesmo lá nós ganhamos jogos por 1 a 0. Não será possível ganhar jogando bonito o tempo todo e eu não me importo se a torcida vai ficar entediada, o importante é conseguirmos três pontos", explica o meia Marouanne Fellaini, referindo-se às provocações da torcida brasileira durante a vitória sobre os russos no Maracanã.
Classificada, a Bélgica precisa apenas de um empate contra a Coreia do Sul em São Paulo para garantir o primeiro lugar no Grupo H. O adversário sairá do Grupo G, onde estão Alemanha, Portugal, EUA e Gana. Os "meninos" comandados por Wilmots ainda não tiveram muitas partidas contra adversários de expressão, apesar de terem derrotado a Holanda por 4 a 2 há dois anos, e um confronto com os alemães não parece ser o preferido dos jogadores, apesar do discurso de "não se pode escolher adversário".
"Não faz muito sentido ficar fazendo contas quando ainda não temos garantido o primeiro lugar do grupo. Há muitas seleções fortes. Admito que a Alemanha é a seleção mais perigosa pela qualidade de seus jogadores e a tradição que tem no futebol, mas não poderemos ir longe nessa competição sem enfrentar grandes times", acredita o zagueiro Daniel Van Buyten, do Bayern de Munique e o mais velho jogador do elenco belga (36 anos).