Argentinos rodam 2,2 mil km em ônibus 71 movidos por vinho e Sheila Mello
Marinho Saldanha
Do UOL, em Porto Alegre
Encarar uma viagem de 2,2 mil km não seria fácil em um carro confortável ou em um ônibus novo. Imagine em um veículo fabricado em 1971. Para aproveitar a Copa do Mundo, Juan Carlos Vera, o filho Rodolfo, e mais cinco amigos juntaram todo dinheiro que conseguiram e embarcaram em uma aventura. E o que parecia árduo se tornou mais fácil por dois motivos: vinho e Sheila Mello.
Estacionado próximo ao Parque da Harmonia, em Porto Alegre, um ônibus Mercedes Benz não esconde seus 43 anos de estrada. Por fora são partes remendadas, pintura que mistura figuras com locais arranhados, antenas improvisadas e vidros que já não abrem como deveriam.
Mas nem o aspecto antigo impede o zelo que o senhor Juan Carlos tem pelo veículo. Há, colado na lataria por fora, fotos de Messi, do Papa Francisco, e até um recado para os brasileiros: "No sean boludos", ou "Não sejam idiotas". Pancho I, como foi batizado, esbanja estilo. (Pancho, na Argentina, é o apelido de Francisco. Portanto o ônibus leva o nome do Papa Francisco i).
"Este tipo de veículo é barato. Mas quem tem não vende. Fizemos todo o percurso de Mendoza até aqui sem um problema sequer. Ele é mais que um veículo, é um tesouro, não tem preço", disse Juan Carlos, proprietário do ônibus há 17 anos.
Logo na entrada da casa improvisada, que receberia tranquilamente 5 pessoas, mas está abrigando 7, o que mais chama atenção não são as acomodações ou o bom estado de conservação, mas o apreço por uma brasileira: Sheila Mello. Sempre nua, ou quase isso.
"Os meninos adoraram a revista. Recortaram fotos dela e colaram por todos os lados", sorriu Juan Carlos.
De fato, há Sheila em todos os cantos do veículo. "Ela nos motivou ainda mais na viagem", brincou. São todas fotos de revistas masculinas, que adornam camas, mesas e paredes do ônibus.
Revezando-se entre três motoristas, eles encararam cinco dias de viagem até Porto Alegre somente para viver a Copa do Mundo. Sem ingressos para os jogos, a ideia é assistir sempre na Fan Fest até dia 25, quando a Nigéria será adversária na capital gaúcha.
"Não vamos ao Rio de Janeiro porque temos medo. As estradas são muito velozes e nós não andamos rápido [o ônibus só vai até 80 km/h]. Vamos ficar por aqui enquanto der", revelou o anfitrião.
E para ajudar nos custos, eles trouxeram caixas de vinho argentino produzido artesanalmente por eles em Mendoza. E antes mesmo de vender, uma boa parte é separada para consumo interno. "Estamos vendendo, mas este é apenas mais um objetivo. Se vendermos tudo, vamos para o Rio de Janeiro. Mas o que não vendemos, bebemos. E bebemos muito", disse sorrindo.
Antes de atender a reportagem do UOL Esporte, os sete estavam na Fan Fest gaúcha torcendo pelo Uruguai contra a Inglaterra. Só Juan Carlos voltou. Ele precisava se arrumar para ir à missa. "Mesmo longe de casa, vou sempre", comentou. A fé divide espaço com Sheila no carro. Panfletos de oração e imagens estão presentes, mas chamam menos atenção que as curvas da ex-dançarina do grupo 'É o Tchan'.
"Estou muito feliz por tudo que está acontecendo aqui. O povo tem nos recebido muito bem, são muito amáveis. Torcemos por uma final entre Brasil e Argentina. Mas vamos esperar para ver o que acontece", finalizou antes de se despedir.
Ainda há vinho e Sheila Mello para mais alguns dias. A chegada da Argentina é muito esperada em Porto Alegre. São aguardados cerca de 20 mil no estádio para o jogo com a Nigéria. Espalhados pela cidade, a expectativa supera os 50 mil hermanos.