Em Salvador, Croácia leva o "cheirinho" da Copa aos sem-ingresso

Vagner Magalhães

Do UOL, em Salvador

Sexta-feira, 20h. O estádio Pituaçu, em Salvador, reúne cerca de 8,5 mil torcedores para acompanhar a vitória de 1 a 0 da Croácia contra a Austrália, em amistoso preparativo para a Copa do Mundo. Na próxima quinta-feira, os croatas enfrentam o Brasil, em São Paulo, na abertura do Mundial. Os ingressos foram vendidos a R$ 60 (R$ 30 a meia). Na plateia, aqueles que ficaram sem acesso às entradas para a Copa, viram nessa partida a oportunidade de sentir um "cheirinho" do Mundial. Outra chance é comprar um ingresso para o confronto Bósnia e Irã, válido pela Copa, a partir de R$ 180. A partida é a única com ingressos regulares disponíveis para os seis jogos que vão ocorrer em Salvador.

Pituaçu está longe do propagado padrão Fifa. Seu estado de conservação é apenas regular. Com o entorno todo em obras, o acesso é difícil e o trânsito desanimador. Em média, o preço das bebidas era metade do que será cobrado durante a Copa. Cerveja Brahma (R$5), Budweiser (R$ 6), Refrigerante (R$ 5) e copo de água a R$2.
 
O advogado Nuno Ribeiro, 28, é torcedor do Bahia. Foi a Pituaçu justamente para sentir, como ele mesmo definiu, um "cheirinho" da Copa. "São duas seleções que vão disputar o Mundial e a Croácia tem um bom time. É bom ver um jogo com a certeza de que a gente não vai se estressar", disse ele, que estava com uma camisa do Bahia, que atravessa mau momento no Campeonato Brasileiro.
 
Ele é um dos que está pensando seriamente em comprar ingresso para a partida entre Bósnia e Irã para poder participar do Mundial no Brasil. "Sei lá quando, se é que teremos outra Copa aqui", disse ele, que acompanhou duas partidas da Copa das Confederações no ano passado. "Fui um daqueles que participou dos protestos e depois entrou de fininho no estádio", diverte-se.
 
Entre os torcedores, 40 estavam em um ônibus fretado de Itabuna, no interior da Bahia. No caso deles, o interesse era ver de perto o brasileiro naturalizado croata Sammir. No ônibus estavam os pais do jogador, parentes, amigos e até o seu primeiro técnico, Alexandro Alves Santana, conhecido como Amaral, pela semelhança com o meio-campista que atuou nos anos 90 pelo Palmeiras.
 
"Sammir é um craque. Jogava muito, desde menino. Driblava todo mundo. No seu primeiro título, fez o gol da vitória e chorou muito", recorda. No campo, Sammir, que é atacante do Getafe, da Espanha, começou a partida banco, entrou no segundo tempo, e foi elogiado pelo técnico Niko Kovac.
 
"Juntamente com os outros jogadores que entraram, Sammir ajudou a cadenciar o jogo, depois que a Croácia fez 1 a 0", disse. Ao final do jogo, Sammir foi até o alambrado e jogou a sua camisa para o grupo que ali esperava por ele. "Nunca imaginei que viesse um dia jogar com a Croácia aqui na Bahia. Agora só falta ir à Fonte Nova", disse ele.
 
Na porta do estádio, a mãe de Sammir, Erci da Silva Cruz, 53, não conseguiu segurar as lágrimas. "Estou muito emocionada em vê-lo jogar de perto. Torço para que ele e a Croácia sejam muito felizes na Copa do Mundo".
 
No meio do público, poucos croatas e australianos também estiveram presentes. Marijan Grgic era um deles. Caracterizado com uniforme croata e uma grande bandeira do País, fez a alegria dos brasileiros e passou mais de duas horas tirando fotos com eles.
 
Com mais dois amigos, Grgic fez uma viagem de 45 dias pelo Brasil, que inclui passagens por São Paulo, Foz do Iguaçu, Brasília, Manaus, Belém Salvador e Rio de Janeiro. "Estamos adorando o Brasil e temos ingressos para cinco partidas do Mundial. As três da Croácia na primeira fase, França e Suíça, em Salvador, e Argentina contra a Bósnia, no Rio de Janeiro.
 
Com um caminhãozinho de madeira, repleto de garrafas térmicas, o ambulante Edvaldo Nolasco Santana, 47 anos, aproveitava a chance de o padrão Fifa ser flexibilizado para o amistoso. "Aqui, posso vender meu cafezinho por R$ 1 e alguns cigarros avulsos", diz ele, que ganha a vida com isso. Durante a semana, visita o comércio do centro de Salvador e em dias de eventos, faz o mesmo, cobrando o dobro do preço. "Aqui, eu tenho de pagar ingresso para entrar", diz.
 
Durante a Copa do Mundo, ele está com acesso garantido para trabalhar nos seis jogos do Mundial na Arena Fonte Nova. Vai vender pipocas para a empresa que tem os direitos de comercialização. Dos R$ 10 cobrados por pacote, ele terá uma comissão de R$ 1. "A gente tem de se preocupar em vender, mas sempre dá para dar uma olhadinha no jogo. De leve, para não perder o freguês", diz.
 
 

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