Indecisão de Mano ajuda a explicar por que J. César é titular pela 2ª vez

Gustavo Franceschini, Paulo Passos e Ricardo Perrone

Do UOL, em São Paulo

Quando o Brasil perdeu da Holanda em 2010 a palavra de ordem na seleção brasileira foi "renovação". O conceito funcionou para quase todo o time, com exceção do goleiro. Reserva em 2006, Júlio César era homem de confiança de Dunga há quatro anos e chega à Copa do Mundo como titular pela segunda vez consecutiva. Só que dessa vez o status tem mais a ver com a indefinição de Mano Menezes do que com a boa fase do jogador.

O ex-treinador da seleção era o homem escolhido para renovar o time de Dunga, mas nunca definiu quem seria o titular de sua meta. Em pouco mais de dois anos de trabalho, Mano Menezes testou sete goleiros diferentes. Júlio é quem mais jogou (11 partidas), mas foi descartado no meio do ciclo.

Veterano de seleção, Júlio foi chamado por Mano pela primeira vez em fevereiro de 2011, quando Victor caiu em desgraça com o treinador. À época na Inter de Milão, foi o ex-flamenguista quem disputou como titular a Copa América daquele ano.

Durante a competição, ele deu mostras de sua força ao pedir, junto com Lúcio, a entrada de Maicon na equipe na vaga de Daniel Alves, sob a justificativa de que o trio dava mais segurança. A derrota para o Paraguai nos pênaltis minou essa parceria, que foi desfeita de vez em 2012, no amistoso em que o Brasil venceu a Bósnia por 2 a 1. Depois de ter treinado mal, Júlio César falhou no gol dos europeus e sacramentou a imagem ruim que tinha adquirido com a comissão técnica.

Sem o goleiro que o acompanhou durante um ano e meio de trabalho, Mano Menezes se enrolou. Apostou em Jefferson no primeiro jogo, deu uma sequência de três partidas a Rafael, testou o jovem Gabriel e parecia ter se decidido por Diego Alves quando foi demitido.

Sem confiança no goleiro do Valencia, Felipão decidiu ouvir Carlos Alberto Parreira e fechar com Júlio César, que chega à Copa com 24 jogos, contra oito de Jefferson, sete de Diego Alves e seis de Victor. Pode parecer muito, mas não se compara ao domínio que Júlio teve no ciclo anterior.

Sob o comando de Dunga, o goleiro jogou em nada menos que 42 partidas, contra dez de Doni, cinco de Gomes e quatro de Hélton. A diferença básica é que, a caminho da África do Sul, Júlio ganhou a vaga em 2007, antes do início das Eliminatórias da Copa.

Manter-se na posição não foi tarefa fácil. No início, o goleiro despertou desconfiança da crítica e da torcida. No primeiro turno das Eliminatórias, contra o Uruguai, no Morumbi, por exemplo, havia o temor de que Júlio César fosse vaiado devido à boa fase de Rogério Ceni, capitão e líder de um São Paulo muticampeão.

A vitória por 2 a 1 com direito a grandes defesas deu segurança ao goleiro, que ao mesmo tempo crescia na Inter de Milão. Em 2010, Júlio foi à Copa no auge da forma, considerado por muitos e ele mesmo como o melhor do mundo e campeão europeu com o time italiano. Mais confiante, o camisa 1 da seleção de Dunga comprou o discurso do treinador e por vezes entrou em atrito com a imprensa e exagerou.

Júlio errou na eliminação contra a Holanda, entrou em um espiral decadente na carreira e chegou a passar seis meses encostado na segunda divisão da Inglaterra. Com Felipão, mudou toda a postura, baixou a guarda e esbanjou humildade em sua primeira entrevista na Granja Comary. A evolução, como ele mesmo definiu, permitirá que ele atinja um feito e tanto: em toda a história da seleção, só Gilmar, Emerson Leão e Taffarel foram titulares em duas Copas diferentes.

"Posso falar que me tornei um profissional melhor, mais focado. Quando as coisas acontecem positivamente na carreira, você acaba relaxando um pouco.  Hoje, me sinto mais preparado. Tirei muitas coisas positivas daquela adversidade", disse ele. 

Júlio César, goleiro brasileiro
Júlio César, goleiro brasileiro

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