Corinthians aponta valorização imobiliária como legado do Itaquerão

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

A valorização imobiliária que tem levado muitos moradores de Itaquera, zona leste de São Paulo, a não conseguir pagar seus aluguéis está sendo vendida pelo Corinthians como um dos legados de seu novo estádio.

Desde o mês passado, milhares de famílias ocupam uma área perto do Itaquerão em protesto contra o aumento dos aluguéis percebido nos últimos meses no bairro que vai receber a abertura da Copa do Mundo.

Em um relatório financeiro publicado na quinta-feira, que tem uma parte dedicada ao novo estádio, o Corinthians aponta no item "Legado 2014-2020" a "valorização do mercado imobiliário" na região, onde moram principalmente pessoas de classe-média e baixa.

Chama-se de gentrificação ou enobrecimento urbano o processo pelo qual a região de uma cidade recebe novos serviços, construções, é revitalizada e fica tão cara que chega a ser inviável para uma parte de seus moradores tradicionais.

Essas pessoas, então, precisa se mudar para regiões mais distantes.

O processo é criticado por urbanistas e pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-teto) que veem nele a causa da expulsão da população mais carente de sua região tradicional.

Em conversas recentes com moradores de Itaquera, a reportagem ouviu relatos de que tudo no bairro tem ficado mais caro, do supermercado aos aluguéis.

Para o Corinthians, porém, o encarecimento de Itaquera é positivo.

"Isso é anterior ao estádio", afirmou Raul Corrêa da Silva, o diretor de finanças do clube. "Logicamente a região está passando por uma grande transformação, e as construtoras começam a perceber e investir. Isso é você trazer todo um progresso para a região de Itaquera."

A urbanista Raquel Rolnik, relatora especial da ONU para habitação, já havia mostrado que os grandes eventos esportivos mundiais sempre estão acompanhados de alta no preço dos imóveis. Analisando em seu blog pessoal a situação da moradia em São Paulo, ela a classificou como uma "emergência habitacional".

"Na ausência de um serviço social de moradia que dê respostas concretas a essa emergência habitacional", escreveu Rolnik, "ocupar terrenos ociosos é uma forma de luta para pressionar por políticas públicas que atendam essas demandas e, ao mesmo tempo, uma alternativa real ao desespero de famílias que simplesmente não conseguem mais pagar o aluguel."

Na quinta-feira, o MTST foi às ruas da capital paulista para protestar contra a falta de moradias. Eles prometeram intensificar às manifestações se suas demandas não forem atendidas.

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