Ausência em tour na Ásia e promessa espanhola influenciaram Diego Costa
Paulo Passos
Do UOL, em São Paulo
A decisão de jogar pela Espanha e não pelo Brasil, o que tanto irritou o técnico Luiz Felipe Scolari, foi tornada pública por Diego Costa apenas nesta terça-feira, mas começou a ganhar força há quase um mês, quando o técnico da seleção brasileira excluiu o atacante do Atlético de Madri da convocação para os amistosos na Ásia contra Zâmbia e Coreia do Sul. Ficar fora dessa lista foi a deixa para o jogador abrir de vez as portas para o interesse espanhol em tê-lo no elenco campeão do mundo.
O UOL Esporte apurou que, antes do anúncio da lista, o sergipano de Lagarto teria sido avisado pelo seu agente que seria chamado por Scolari para ir à Ásia. O agente de Diego Costa é o português Jorge Mendes, um dos mais influentes do mundo e responsável por administrar as carreiras dos atacantes Cristiano Ronaldo e Falcao Garcia e do técnico José Mourinho, entre outros.
Mendes trabalhou com Scolari na sua ida para o Chelsea, da Inglaterra. A assessoria de imprensa do técnico informa que, desde então, ele não trabalha mais com o português. Hoje Scolari diz não ter empresário.
Em 25 de setembro, um dia antes da divulgação da lista de convocados para os amistosos de outubro, Diego Costa afirmou ao UOL Esporte que ainda não havia se decidido sobre jogar por Brasil ou Espanha. "Eu devo muito à Espanha. Não posso dizer hoje nem que sim nem que não, mas deixo aberto", afirmou à época.
A expectativa do atacante era por uma convocação pelo Brasil. Sem ter sido lembrado, entretanto, aceitou um convite de Vicente Del Bosque. Na primeira semana de outubro, o sergipano almoçou com o técnico da seleção espanhola. O encontro serviu para ele ouvir o que queria do treinador: a promessa de que, se a Copa do Mundo fosse hoje, ele estaria entre os convocados da Espanha.
O que se viu depois disso foi uma corrida da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para tentar impedir a manobra da Federação Espanhola de Futebol. Antes, Felipão já havia tentado evitar a situação ao chamar o atacante para os amistosos de março, contra a Itália e Rússia, imaginando que, assim, barraria qualquer chance do atacante defender outra seleção. "Diego Costa vem sendo observado desde que assumi a seleção. Com detalhes que venho observando nos últimos jogos e em conversas com treinadores europeus, vejo que ele merece uma oportunidade", afirmou o técnico na ocasião.
O problema é que a Fifa (Federação Internacional de Futebol) mudou o regulamento referente a convocações meses depois, em julho. Agora, a entidade máxima diz que apenas jogadores que atuaram em competições oficiais da Fifa por uma seleção não podem defender outra. Amistosos não são mais considerados, o que abriu a brecha para os espanhóis tentarem Diego Costa.
Também em julho, após não ter sido chamado para a Copa das Confederações, Diego Costa obteve a nacionalidade espanhola - ele está há seis anos trabalhando no país europeu e tinha direito ao benefício.
Ciente do movimento da Federação Espanhola e da intenção do jogador em aceitar o convite, a CBF tentou agir. Numa medida rara, anunciou a convocação antecipada de Diego Costa e mais quatro atletas (Lucas Leiva, Marquinhos, Hulk e Daniel Alves) que atuam no futebol europeu. A lista completa será conhecida na próxima quinta-feira.
A entidade brasileira informou que a convocação antes da data prevista ocorreu para resolver trâmites "para obtenção de vistos de entrada nos Estados Unidos - local do amistoso contra Honduras no dia 16 de novembro - e Canadá - local do amistoso contra o Chile no dia 19 de novembro". Dois dos cinco relacionados, Diego Costa e Daniel Alves, têm passaporte europeu e não precisam de visto para entrar tanto nos Estados Unidos quanto no Canadá.
A estratégia de tentar mudar a decisão de Diego Costa não deu certo. Após o anúncio da Federação Espanhola de que o jogador tinha decidido defender o país europeu, Scolari anunciou que o atacante estava "desconvocado".
"Ele está dando as costas para um sonho de milhões, o de representar a nossa seleção pentacampeã em uma Copa do Mundo no Brasil", disse o técnico ao site da CBF.
Do lado da Espanha, só alegria. O secretário-geral da Federação, Jorge Pérez, comemorou e declarou nunca ter duvidado da palavra do brasileiro, apesar de reconhecer que a decisão era complicada. "Não queríamos pressioná-lo, era uma decisão difícil e ele precisava pensar bem a respeito", afirmou.
Agora, tanto Brasil como Espanha têm cada um 22 vagas em disputa para a Copa do Mundo. Se Scolari já antecipou a convocação do goleiro Julio Cesar, Del Bosque colocou no pacote espanhol oferecido a Diego Costa a certeza de jogar o Mundial de 2014. Mas como visitante.