Ultimato de Valcke e pressão de patrocinadores 'azedam' relação entre Fifa e governo

Rodrigo Mattos e Vinícius Segalla

Do UOL, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte

  • Rodrigo Mattos/UOL

    Loja da Coca-cola próxima ao Maracanã amanhece cercada após protesto; problema irrita a Fifa

    Loja da Coca-cola próxima ao Maracanã amanhece cercada após protesto; problema irrita a Fifa

Os acontecimentos da semana que se encerra fizeram com que "azedasse" a relação entre a Fifa (Federação Internacional de Futebol) e o governo federal. Na última quinta-feira, dois ônibus da entidade foram apedrejados em Salvador, durante onda de protestos que varre o país.

Esta foi a gota d´água que transbordou a paciência do secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, que já estava bastante contrariado com incidentes envolvendo a Copa das Confederações, como a depredação de lojas e equipamentos dos patrocinadores do evento e reclamações por parte de comitivas de seleções contra furtos, roubos e falta de segurança que sofrem no Brasil.

Valcke, então, segundo o UOL Esporte apurou, fez com que chegasse aos ouvidos do gerente geral de segurança do COL (Comitê Organizador Local da Copa-2014), Hilário Medeiros, o seguinte recado, a ser transmitido também às autoridades do governo brasileiro: ou o Brasil dava conta de garantir a segurança da Copa das Confederações, ou a Fifa levaria os jogos faltantes para outro lugar.

O secretário-geral disse mais: caso algum membro ou equipamento da Fifa ou das comitivas de seleções nacionais venha a sofrer algum novo ataque, a entidade passará a se julgar no direito de executar os artigos da Lei Geral da Copa que permitem o cancelamento do evento, com ônus bilionário para o governo brasileiro e ressarcimento à Fifa. O nível de irritação da entidade pode ser medido pela declaração de Valcke, que classificou o episódio como "triste".

Já na última sexta-feira, membros da Fifa se reuniram com autoridades de segurança do governo brasileiro, ligadas à Sesge (Secretaria Nacional de Segurança para Grandes Eventos), subordinada ao Ministério da Justiça.

A Fifa levou um pote de mágoas, e esperava sair do encontro com mais garantias do que as que efetivamente lhe foram oferecidas. Um dos maiores problemas da Fifa são as reclamações dos patrocinadores em relação à falta de segurança para fazer seus eventos, principalmente aqueles que não ficam nas imediações dos estádios.

Em cada cidade-sede da Copa das Confederações, por exemplo, há um ponto oficial de eventos do torneio, onde há lojas e ações promocionais dos patrocinadores da Fifa. Esses locais, que não ficam nos limites de dois quilômetros de distância dos estádios da competição, não gozam da segurança proporcionada pelas autoridades federais.

Na reunião da última sexta-feira, a Fifa ouviu que, por lei, o governo federal só pode responder pelas localidades no entorno dos estádios. Outras áreas das cidades-sede estão sob jurisdição dos governos estaduais e suas respectivas polícias militares.

O máximo que as autoridades brasileiras prometeram foi que, caso seja necessário, as Forças Armadas estão preparadas e serão convocadas para garantir a segurança da Copa das Confederações.

"Pagando o pato"

Além deste assunto, outro tema foi abordado pelos membros da Fifa. A entidade se mostrou contrariada pelo fato de ter sua imagem arranhada pelos problemas que seriam de inteira responsabilidade dos organizadores brasileiros em relação à Copa das Confederações, notadamente o atraso nas obras previstas e o custo dos estádios.

Membros da Fifa afirmam que não podem ser responsabilizadas pelo Brasil não ter conseguido montar a estrutura prometida a tempo e pelo custo inicialmente anunciado. A posição é de que "o que atrasa fica mais caro e tem mais chance de apresentar problemas".

Tudo isso é dito em conversas internas. O discurso oficial do governo brasileiro, do COL e da Fifa é o de que todos são parceiros na festa da Copa das Confederações e possuem nada mais do que objetivos idênticos: realizar o melhor evento possível para o Brasil e para o mundo.

Protestos na Copa das Confederações
Protestos na Copa das Confederações

Veja também



Shopping UOL

UOL Cursos Online

Todos os cursos