Felipão não discute mérito de protestos e destoa do apoio dado pelo elenco
Fernando Duarte e Gustavo Franceschini
Do UOL, em Fortaleza
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Flávio Florido/UOL
O técnico da seleção brasileiras Luiz Felipe Scolari não quis comentar os protestos no país
Luiz Felipe Scolari finalmente falou sobre os protestos que tomaram conta das maiores cidades do país nos últimos dias. Depois de ter se negado a falar sobre o assunto, o treinador abordou o tema e não foi incisivo, evitando tratar do mérito das manifestações, postura bem diferente daquela adotada por seus comandados.
"Nós trabalhamos em um setor que pode barrar alguém, abrir portas pra alguém? Nós fazemos aquilo que temos obrigação de fazer, jogar futebol, outras áreas têm que fazer aquilo que acham correto. Nós podemos fazer o que sabemos, podemos opinar, concordar, mas não vai interferir em nada", afirmou o técnico, em entrevista coletiva no estádio Castelão, em Fortaleza.
"Em uma democracia é normal haver manifestações e tomara que continuem a ser pacíficas e democráticas. Acho que vocês viram também muitas manifestações em Londres, antes das Olimpíadas. O que se fala é de algumas pessoas que não conhecem muito bem o Brasil", completou Felipão.
Duas horas antes, Hulk e David Luiz tinham se pronunciado sobre o assunto em entrevista no hotel da seleção em Fortaleza. Ao contrário do comandante, ambos foram incisivos ao avaliarem a situação.
"Sou brasileiro. Vivo fora, mas amo meu país. Sou a favor do direito de expressão do cidadão, mas sem violência. O cidadão, se não está feliz, tem direito de se expressar, é só assim que vamos enxergar onde estão os erros. O brasileiro ama o seu país e é por isso que as manifestações estão acontecendo", afirmou David.
Hulk, normalmente um dos jogadores mais monossilábicos da seleção, mostrou uma surpreendente vontade de falar sobre o tema. Em diversas respostas ele falou que "os manifestantes têm razão" e ainda ressaltou a necessidade das autoridades prestarem mais atenção às reivindicações.
"Eles têm toda a razão e o que pedem faz todo o sentido. Temos que dar ouvidos. O Brasil precisa melhorar em muitas coisas. A gente sabe que é verdade", afirmou o jogador.
Após pergunta sobre o que faria se não fosse um rosto conhecido e visse as imagens das manifestações, o jogador admitiu que teria vontade de se juntar aos protestos. "Eu vim de baixo, passei muita dificuldade na vida e hoje estou numa situação melhor. Mas bate uma vontade (de ir às ruas)".
Além deles, o lateral Daniel Alves e o zagueiro Dante também se manifestaram nas redes sociais. No Twitter, Dante escreveu: "Vamos juntos, Brasil. Amo meu povo e sempre apoiarei vocês". Já Daniel Alves usou o Instagram para pedir "Ordem e Progresso para um Brasil sem violência, por um Brasil melhor, por um Brasil em paz, por um Brasil educado, por um Brasil saudável, por um Brasil honesto, por um Brasil feliz."
O assunto deve acompanhar a seleção durante a Copa das Confederações justamente pelo torneio estar no centro dos acontecimentos. Em várias das manifestações que tomaram as ruas do país na última segunda, por exemplo, os grandes eventos foram alguns dos principais alvos, por conta do gasto excessivo e da falta de legado.
Além disso, a seleção também tem convivido com os manifestantes. Em Goiânia, estudantes e sindicalistas usaram a praça em frente ao hotel onde o time estava hospedado para reclamarem melhores condições de trabalho. Na ida para Brasília, um outro grupo de trabalhadores ameaçou paralisar a rodovia pela qual a seleção passaria, forçando o time a viajar de avião.
No sábado passado, em Brasília, as horas que antecederam a abertura da Copa das Confederações foram marcadas por muitos protestos contra o torneio do lado de fora do estádio Mané Garrincha. Na última segunda, por fim, um grupo de estudantes foi até a porta do hotel da seleção depois de uma passeata em apoio ao Movimento Passe Livre.
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