"É um atrevimento ver qualquer rival do Brasil como favorito", diz Maturana, ex-técnico da Colômbia
Paulo Passos
Do UOL, em Nova Jersey
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AFP
Francisco Maturana acredita que Brasil é favorito para o amistoso desta quarta
Francisco Maturana, 63 anos, conhece como poucos o futebol colombiano. Já foi jogador, técnico e diretor da seleção do país. Sua última passagem, como dirigente, terminou após a Copa América. A mais marcante, entretanto, aconteceu na década de 90, quando dirigiu do banco de reservas o time de Asprilla, Higuita, Rincón e cia nas Copas de 1990 e 1994. Em entrevista ao UOL Esporte, o treinador descarta favoritismo para os colombianos no duelo contra o Brasil nesta quarta-feira, às 22h30, em Nova Jersey.
"É muito atrevimento dizer que o rival do Brasil é o favorito. Brasil é Brasil. Não tem que jogar classificação então fica mais difícil de montar um time. Mais coerente é o Brasil favorito em qualquer circunstância", defende Maturana.
Em entrevistas, técnico e jogadores brasileiros fizeram questão de exaltar o rival no amistoso. A Colômbia está em oitavo no ranking da Fifa, cinco posições à frente do Brasil.
CONFIRA A ENTREVISTA EXCLUSIVA COM MATURANA:
UOL Esporte: Você acredita que esta é a melhor geração do futebol colombiano desde o seu time da década de 90?
Maturana: A geração atual é a mesma de três anos. Agora, estão encontrando maturidade, até por causa da ida de jogadores para Europa. Tem um técnico muito bom, com história e feitos. Acho que é uma questão de sequencia. Foi dado tempo e a equipe está realmente evoluindo. Mas acho difícil comparar times de épocas distintas.
FRACASSO NA COPA DE 94
Se diz que havia conflito, invasão da máfia, ameaças, apostas? Isso é folclore. O futebol é simples, mas após as coisas acontecerem é preciso buscar explicações.
UOL Esporte: O Brasil não está jogando as Eliminatórias da Copa do Mundo e tem encontrado dificuldades em amistosos com times mais fortes. Você acha que por isso, a Colômbia por ser apontada como favorita?
Maturana: É muito atrevimento dizer que um rival do Brasil é o favorito. Brasil é Brasil. Não tem que jogar classificação para Copa então fica mais difícil para formar o time, mas tem talentos. O mais coerente é o Brasil ser favorito sempre, em qualquer circunstância.
UOL Esporte: Você tem visto jogos do Neymar? Acha que ele pode ser o melhor jogador do mundo?
Maturana: Hoje, Neymar está entre os cinco melhores do mund, com certeza. Mas vivemos em uma época onde o Messi está acima de todos. Não vejo nem o Cristiano Ronaldo perto dele. Messi já começa a ser comparado com Pelé, Maradona. Não consigo comparar jogadores de épocas diferentes, mas o fato das pessoas falarem isso mostra como ele está à frente dos demais.
UOL Esporte: O colombiano Falcao García também está na lista de indicados da Bola de Ouro da Fifa. Você acredita que ele pode um dia ser o melhor do mundo?
Maturana: Quais o requisitos para ser o melhor do mundo? O Careca fazia gols, muitos e espetaculares, mas não foi escolhido melhor do mundo. Tinha o Maradona e outros. São coisas diferentes ser o melhor do mundo e o melhor em marcar gols. Sim, faz parte da estatística, é o objetivo do jogo, mas o gol não é tudo. Falcao é um atacante muito bom, um jogador que marca muitos gols, mas é diferente de ser o melhor.
UOL Esporte: Talvez o jogo mais marcante daquela seleção colombiana que você comandou tenha sido a goleada por 5 a 0 sobre a Argentina. Aquele vitória é o maior orgulho que você tem no futebol?
Maturana: Não. Eu tenho orgulho de estar no futebol, de ter triunfado e aprendido muito. Mas para mim, o melhor jogo da seleção colombiana foi o empate em 1 a 1 com a Alemanha, na Copa de 1990. Esse jogo me marcou muito, jogamos de igual para igual, criamos, foi um jogo tremendo. O da Argentina foi um golpe de autoridade, claro. Ganhar como ganhamos em Buenos Aires foi marcante. Mas se você olhar a partida não é de dizer que fomos cinco vezes melhores que eles. São coisas do futebol, das chances aproveitadas, da imediatez do jogo.
UOL Esporte: E o que aconteceu com aquele time na Copa de 1994, quando foram eliminados surpreendentemente na primeira fase. Se fala em brigas, influências externas...
Maturana: (interrompe a pergunta):..Não, não. Tentam buscar explicações para algo que é o futebol: ganhar, perder. Eram os mesmos jogadores da campanha das eliminatórias, que brilhou em 1993. Estávamos na plenitude. Mas perdemos o primeiro jogo, aquilo afetou o time emocionalmente. A Argentina sofreu isso em 2002. Tinha um grande time, de ótima campanha nas eliminatórias e, por circunstâncias do futebol, fracassou no Mundial.
UOL Esporte: Mas e os relatos de que havia problemas entre jogadores que eram de Cali com os de Medellín? E até a influência do momento vivido pela Colômbia na época, com o poder dos narcotraficantes que financiavam os clubes?
Maturana: Eu digo uma coisa: eram os mesmos jogadores de 93. Perdemos porque não jogamos como antes. Se diz que havia conflito, invasão da máfia, ameaças, apostas? Isso é folclore. O futebol é simples, mas após as coisas acontecerem é preciso buscar explicações.
COM MELHOR GERAÇÃO DESDE 94, COLÔMBIA QUER LIMPAR HISTÓRICO DE LIGAÇÕES ENTRE FUTEBOL E NARCOTRÁFICO
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Uma boa campanha nas eliminatórias, jogadores atuando com destaque na Europa e um deles, Falcao García, na lista dos indicados para o prêmio de melhor do ano da Fifa. Por esses motivos, a seleção colombiana que enfrenta o Brasil na próxima quarta-feira, em amistoso em Nova Jersey, nos Estados Unidos, é tida no país como a melhor desde a geração de Valderrama, Asprilla, Rincón e cia. Além de tentar ultrapassar os feitos do time que encantou nas eliminatória para a Copa de 94 e fracassou nos Estados Unidos, o que os colombianos querem também é limpar o histórico de ligações com o narcotráfico, que marcou o passado do futebol no país. Durante os anos 80 e 90, no auge do domínio dos narcotraficantes na Colômbia, os clubes eram financiados com dinheiro do tráfico de drogas.