Com a melhor geração desde 94, Colômbia quer limpar histórico de ligações entre futebol e narcotráfico

Paulo Passos

Do UOL, em Nova Jersey

Uma boa campanha nas eliminatórias, jogadores atuando com destaque na Europa e um deles, Falcao García, na lista dos indicados para o prêmio de melhor do ano da Fifa. Por esses motivos, a seleção colombiana que enfrenta o Brasil na próxima quarta-feira, em amistoso em Nova Jersey, nos Estados Unidos, é tida no país como a melhor desde a geração de Valderrama, Asprilla, Rincón e cia.

Além de tentar ultrapassar os feitos do time que encantou nas eliminatória para a Copa de 94 e fracassou nos Estados Unidos, o que os colombianos querem também é limpar o histórico de ligações com o narcotráfico, que marcou o passado do futebol no país. Durante os anos 80 e 90, no auge do domínio dos narcotraficantes na Colômbia, os clubes eram financiados com dinheiro do tráfico de drogas.

Atualmente, já não se vê de forma comprovada a influência dos grupos criminosos nas principais equipes do país. O que ajudou a iniciar uma discussão que gerou polêmica no futebol colombiano. Clubes que venceram títulos com ajuda do dinheiro do tráfico deveriam desconsiderar as conquistas?

RUMO À COPA DE 2014

  • Com Falcao, Colômbia faz boa campanha e está na terceira colocação nas eliminatórias do Mundial

"É uma discussão e todos sabemos do que aconteceu no passado na Colômbia e é algo que a nova administração, a nova gestão com transparência está estudando, mas ainda não temos uma posição definida neste momento", afirmou o presidente do Millonarios, Felipe Gaitán. O clube de Bogotá venceu os títulos nacionais de 1987 e 1988, quando recebia ajuda do narcotraficante Gonzalo Rodríguez Gacha, conhecido com 'El Mexicano'. 

O simples fato de admitir que o clube estudava retirar as estrelas da camisa pelos títulos conquistados na década de 80 gerou controvérsia. Parlamentares e o próprio governo colombiano defenderam a medida e sugeriram que América de Cali e Atlético Nacional, de Medellín, fizessem o mesmo.

"Seria uma grande lição do Millonarios. Vamos ver quem se candidata a seguir esse gesto histórico", afirmou o ministro do Interior, Fernando Carrillo Flórez.

As críticas de torcedores, jogadores e técnicos, entretanto, levaram o presidente do Millonarios a voltar atrás e descartar a devolução dos títulos.

"O narcotráfico foi uma peste, sim, para a Colômbia, mas teve influencia sobre toda a sociedade. Não faz sentido revisar e mudar as partidas que foram jogadas", afirmou em entrevista ao UOL Esporte o ex-técnico da seleção colombiana Francisco Maturana, que comandou o Atlético Nacional na conquista da Libertadores de 1989. "De onde vinha o dinheiro para trazer os jogadores não me importava. A influencia não era no campo, era na administração. Se fosse tudo comprado, por que treinávamos, por que ficávamos fora de casa, longe das nossas famílias?", defende o treinador.

Há quem pense diferente. O jornalista colombiano Fernando Araújo Vélez, autor do livro "Pena Máxima", que trata sobre a influencia dos narcotraficantes no futebol do país, defende que títulos como o do Campeonato Colombiano de 1987 e 1988, por exemplo, vencido pelo Millonarios sejam revistos. "Houve sequestros, mortes, subornos e medo. Mas é como se houvesse um pacto. O que aconteceu no futebol colombiano nos anos 80 e 90 ficou esquecido", diz o jornalista, que relata casos de suborno e ameaças a árbitros por parte dos narcotraficantes em seu livro.

PABLO ESCOBAR E OUTROS TRAFICANTES DOMINARAM CLUBES MAIS VENCEDORES NOS ANOS 80 E 90

Ricos, clubes como América de Cali e Atlético Nacional de Medellín disputavam de igual para a igual com os times argentinos e brasileiros na Libertadores da América nos anos 80 e 90. A equipe de Cali foi três vezes consecutivas vice-campeão. Já o Atlético Nacional venceu o torneio em 1989. Foi a primeira vez que um colombiano levou o troféu mais cobiçado pelos times da América do Sul. Os dois times, assim como o Millonarios, de Bogotá, tinham padrinhos ricos e influentes na época do auge do pode dos narcotraficantes da Colômbia. Pablo Escobar (FOTO), por exemplo, financiava o Atlético Nacional, de Medellín. O traficante, assassinado em 1993, ajudava o clube em contratações e em subornos e ameaças aos árbitros. Foi do time de Medellín que saiu a base da seleção colombiana que disputou as Copas de 1990 e 1994. O filme americano ?The Two Escobars? retrata a influência do mais famoso capo colombiano na seleção do país. O documentário mostra uma visita que os jogadores fizeram ao traficante quando ele estava preso em uma cadeia.

 

Veja também



Shopping UOL

UOL Cursos Online

Todos os cursos