Privatização do Maracanã devolverá ao Governo 18% do valor gasto com as últimas três reformas
Vinicius Konchinski e Rodrigo Durão Coelho
Do UOL, no Rio de Janeiro e São Paulo
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Ministério do Esporte/Portal da Copa
Maracanã, no Rio de Janeiro, passou por três reformas. Agora, será concedido à iniciativa privada
O Governo do Rio de Janeiro anunciou na segunda-feira que pretende receber cerca de R$ 7 milhões por ano pela privatização do Maracanã. O estádio e seu entorno serão concedidos a uma empresa por 35 anos, e o que essa companhia pagar ao Estado pelo controle da área servirá para cobrir parte dos investimentos públicos já feitos no local.
AS REFORMAS DO MARACANÃ
Obra | Ano | Valor |
Reforma para Mundial de Clubes da Fifa | 1999 | R$ 106 milhões |
Reforma para o Pan-Americano | de 2005 a 2007 | R$ 304 milhões |
Reforma para a Copa do Mundo | de 2010 a 2013* | R$ 869 milhões* |
Total | R$ 1,279 bilhão | |
Ganho com privatização | R$ 231 milhões |
- *Obra ainda em excecução
A parcela desse retorno, no entanto, é pequena comparada ao total já gasto pelo poder público no Maracanã. Tudo que o Rio de Janeiro receberá por repassar o controle do espaço equivale a 18% do custo das últimas três reformas do estádio.
Ao privatizar o Maracanã, o Governo deve ganhar R$ 231 milhões. Serão 33 parcelas anuais de R$ 7 milhões. Dos 35 anos da concessão, em dois, a concessionária não pagará nada. Esse período é de carência. Já com as reformas no estádio, o governo do Rio já gastou R$ 1,279 bilhão.
Esse valor inclui os custos das obras exigidas pela Fifa para que o Rio de Janeiro sediasse o Mundial de Clubes em 2000, as obras de modernização para os Jogos Pan-Americanos de 2007 e a reforma do estádio para a Copa do Mundo de 2014 – esta ainda em execução. A soma leva em conta somente os valores brutos, sem correção monetária, mas ajuda a demonstrar que a maior parte do investimento feito no "Maior do Mundo" não terá retorno para os cofres públicos.
Obras no Maracanã
Segundo o secretário estadual da Casa Civil, Regis Fichtner, o valor das outorgas foi estimado com base na expectativa de ganhos da futura administradora do Maracanã. Ele explicou que empresas interessadas podem até oferecer pagamentos maiores ao governo para terem mais chances de assumirem o estádio na disputa pela concessão. Porém, adiantou que o governo já sabia que não recuperaria os investimentos feitos nos últimos anos.
PRIVADO POR R$ 7 MILHÕES AO ANO
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O governo do Rio de Janeiro divulgou nesta segunda-feira as primeiras informações sobre o processo de privatização do Maracanã. A administração do estádio será repassada à iniciativa privada no ano que vem, antes da reinauguração da arena, prevista para fevereiro. Pela concessão, o Estado do Rio de Janeiro ganhará cerca de R$ 7 milhões por ano.
"Em 2008, quando começamos a estudar a concessão, pensávamos em transferir à iniciativa privada os custos da reforma [para a Copa]. Mas a conta não fechava. O retorno não é tão grande assim", disse ele. "O Estado teve que investir antes."
Fichtner ressaltou que, apesar do retorno aos cofres público não chegar perto do investimento, a concessão abre espaço para novas obras. Com a privatização, o complexo esportivo do Maracanã receberá cerca de R$ 496 milhões em novos projetos até 2016. A construção de estacionamentos, um museu e praças é uma das obrigações que da nova concessionária.
Última chance de protesto
A proposta de privatização do Maracanã está aberta para consulta pública até 8 de novembro. Neste mesmo dia, o governo realizará uma audiência pública para discutir a concessão. A previsão é que a versão final do edital saia dez dias depois.
"Esperamos que na audiência pública de novembro eles nos escutem", afirma Gustavo Mehl, membro do Comitê Popular da Copa do Rio de Janeiro. "O governo está sendo hipócrita quando diz respeitar o caráter do Maracanã. Na privatização, ele não leva em consideração a opinião de nenhum grupo de torcedores."
Mehl teme também que a privatização ponha em risco a identidade do estádio. "Por isso acreditamos em uma reversão da licitação e uma gestão 100% pública, para que a sociedade mantenha seus controles e não fique vulnerável à mudança de vontade de uma empresa."
"Somos contra o processo de elitização, com ingressos caros e a descaracterização da nossa forma de torcer. Defendemos a ideia de que 50% dos ingressos sejam fixados a valores populares e que uma parte da arquibancada tenha cadeiras removíveis, para preservarmos a festa da torcida, com suas baterias e bandas", afirma Mehl.
Especialista em cultura popular carioca, principalmente no que se refere a futebol, o professor e escritor Luiz Antônio Simas endossa a posição de Mehl. Para ele, o processo não faz sentido "nem do ponto de vista financeiro ou simbólico".
"É uma coisa meio esquizofrênica já que o próprio governo admite que o Maracanã é rentável. Privatiza-se o que não é rentável", diz ele.
O Maracanã deve ser concedido à iniciativa privada em 2013. Hoje, o estádio está fechado para reformas. Quando reabrir, já deve ter o seu administrador definido.