Mano sinaliza nova chance a Fred, mas fortalece esquema sem um "9" e com estilo catalão
Fernando Duarte
Do UOL, em Wroclaw (Polônia)
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Mowa Press
Mano Menezes em campo no amistoso contra o Iraque; técnico parece apostar em sistema sem "9"
Mano Menezes sinalizou, depois da goleada sobre o Iraque, que ainda pretende apostar em um centroavantes como Fred ou Luis Fabiano. Na prática, porém, a carência de jogadores convincentes na posição tem levado o treinador a investir numa seleção ''catalã'. Assim como o Barcelona, a seleção tem flertado com o que se chama de esquema 4-6-0.
Trata-se da formação em que o papel de centroavante é exercido por quatro jogadores de características ofensivas, trocando o que se chama de ''número 9 clássico'' por um rodízio de investidas que, na teoria, tornaria a vida dos marcadores adversários bem mais difícil. Na prática, o sucesso dos catalães nos últimos anos também sugere eficácia – de mãos vazias na temporada passada, desde 2009 o Barcelona conquistou duas Ligas dos Campeões e três títulos espanhóis, além de dois Mundiais de Clubes da Fifa.
O sistema não combina com a tradição recente do Brasil, que montou times de sucesso na última década em torno de um ou até dois centroavantes, caso da seleção de Carlos Alberto Parreira de 2006. No ano passado, em uma entrevista após o prêmio Laureus, o holandês Johan Cruyff, idealizador do estilo do Barcelona atual, chegou a comparar a filosofia brasileira de hoje com a do Real Madrid, em um paralelo hipotético.
Mano Menezes parece disposto a mudar isso. Ele utilizou o "Brasil catalão" em várias ocasiões recentemente, incluindo nas duas últimas vitórias do Brasil – as goleadas sobre China (8 a 0) e Iraque (6 a 0). Se a fragilidade dos adversários precisa ser levada em conta, o certo é que os jogadores envolvidos gostaram da formação. Incluindo Neymar e Kaká, este que pode se gabar de ter jogado pela seleção com os dois últimos grandes ''noves'' do futebol brasileiro, Ronaldo e Adriano.
"Gostei da maneira como tínhamos que nos movimentar e abrir espaços. Essa alternância dos quatro homens foi boa", afirmou Kaká, ironicamente um atleta do Real Madrid, que tanto tem sofrido com a hegemonia do Barcelona.
O esquema usado pelos catalães foi, na verdade, criado por um problema parecido com o do Brasil. Depois de negociar o camaronês Samuel Eto'o com a Inter de Milão no início da temporada 2009/10, em uma transação que envolveu a chegada do sueco Zlatan Ibrahimovic ao Camp Nou, o Barcelona teve uma queda de rendimento. A solução encontrada foi suprir a necessidade com a categoria coletiva, algo facilitado demais pelo desempenho de jogadores como Xavi, Iniesta e, sobretudo, Lionel Messi.
Os catalães, porém, não inventaram o sistema, que tem como origem a seleção romena de 1994. O Manchester United campeão europeu da temporada de 2007-2008 também funcionou assim e, na final da última Eurocopa, a seleção espanhola goleou a Itália com seu único centroavante, Fernando Torres, entrando a apenas 15 minutos do fim do jogo.
Após o jogo com o Iraque, porém, Mano defendeu a importância de um centroavante, dizendo que a seleção precisa de ao menos um plano B tático. ''Não podemos abrir mão de um homem de referência porque nem sempre se consegue resultados'', explicou o treinador.
O problema é que este tal homem de referência ainda não apareceu. Apesar de ainda não ter sido lembrado e, inclusive, ter criticado publicamente o técnico da seleção, Fred vem ganhando cada vez mais força e, graças à briga pela artilharia no Brasileiro, pode reaparecer na seleção. Luís Fabiano, convocado para o Superclássico das Américas, tem contra si a idade e as lesões, ao passo que Leandro Damião ainda se beneficia muito mais de um universo de escolha mais escasso. Pato, por sua vez, vive uma rotina de gangorra e que também inclui lesões.
Com Neymar como a grande referência do futebol brasileiro na atualidade (ele, por sinal, é o artilheiro da era Mano, com 14 gols, quase o dobro dos oito de Damião), a ascensão de Oscar e o ressurgimento de Kaká, o momento parece empurrar a seleção para uma via em que a camisa número 9, a exemplo do que ocorreu no jogo com o Iraque, não será vista na formação titular, pelo menos na prática.