Em Cuiabá e Manaus, Valcke encontrará obras da Copa atrasadas e R$ 1,47 bi mais caras

Vinícius Segalla*

Do UOL, em São Paulo

  • Divulgação

    As obras da Arena Amazônia, em Manaus (AM), atingiram 42% de conclusão em julho de 2012

    As obras da Arena Amazônia, em Manaus (AM), atingiram 42% de conclusão em julho de 2012

O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, chega nesta terça-feira ao Brasil para mais uma rodada de visitas de inspeção às cidades que irão receber os jogos da Copa do Mundo de 2014. Os municípios visitados serão Manaus (AM), e Cuiabá (MT), palco de quatro partidas da primeira fase do Mundial cada um.

O cartola francês irá visitar os estádios que estão sendo construídos para a competição (Arena Pantanal e Arena Amazônia), além de se encontrar com autoridades públicas de Manaus, Amazonas, Cuiabá e Mato Grosso, sempre acompanhado pelo secretário executivo do Ministério do Esporte, Luis Fernandes, além do ex-jogador Ronaldo, membro do COL (Comitê Organizador Local da Copa).

Valcke já demonstrou preocupação com o andamento das obras de mobilidade urbana que estão planejadas, além das intervenções nos aeroportos brasileiros programadas para ampliar a capacidade dos terminais do país até a Copa.

Em Cuiabá e em Manaus, ele encontrará um quadro de atraso e aumento na previsão de custos das principais obras. Das seis principais empreitadas planejadas nas duas cidades, quatro estão atrasadas em relação ao cronograma inicial, definido em janeiro de 2010 por União, estados e cidades que serão sede da Copa, e todas sofreram aumento nas previsões de custos. Em 2010, esperava-se gastar nas seis obras, ao todo, R$ 3,18 bilhões. Agora, a previsão é a de que as obras consumam R$ 4,58 bilhões, um aumento de R$ 1,4 bilhão, ou 44%.

Veja, abaixo, qual é a situação das obras nas duas capitais.

 

Construção das Arenas   

ESTÁDIOS

  Previsão de entrega em 2010 Previsão atual de entrega Previsão de custo em 2010 (Em R$ milhões) Previsão atual de custo (Em R$ milhões)
Arena Pantanal (MT) Dezembro de 2012 Dezembro de 2012 454,2 518,9
Arena Amazônia (AM) Dezembro de 2012 Junho de 2013 515 550,7
  • Fontes: Controladoria Geral da União e Ministério do Esporte

As obras da Arena Pantanal, em Cuiabá, seguem evoluindo de acordo com o cronograma, com previsão de entrega em dezembro deste ano, planejamento estabelecido em 2010. Segundo informações do Ministério do Esporte, os trabalhos na arena atingiram 46% de conclusão em julho deste ano.

O custo atual previsto é de R$ 518,9 milhões, com R$ 285 milhões de financiamento federal. Com capacidade para 43 mil espectadores durante o Mundial, o projeto conta com arquibancadas móveis para 17 mil pessoas. Em 2010, a expectativa era gastar R$ 454,2 milhões.

No último dia 21, a Secopa -MT (Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo) anunciou um aditivo no contrato da obra de R$ 60,6 milhões. Segundo o órgão estadual, a medida foi adotada em função da necessidade de revisão e atualização em alguns itens do projeto do estádio, como instalações gerais e acabamento. Ainda faltam ser licitados equipamentos de tecnologia da informação, cadeiras e placar eletrônico, o que deverá ocorrer até o fim do ano.

Já em Manaus, a Arena Amazônia, que inicialmente estava prevista para ficar pronta em dezembro deste ano, agora tem previsão de entrega para junho de 2013. O custo inicial previsto era de R$ 515 milhões, e atualmente está em R$ 550,7 milhões.

E este valor já foi maior. No início do ano, o TCU (Tribunal de Contas da União) encontrou um sobrepreço de R$ 86 milhões nas contas da obra, então orçada em R$ 618 milhões. Um relatório do tribunal demonstrou, por exemplo, que o preço contratado para pagar os dutos de ventilação do estádio era de R$ 80,82/kg. A título de comparação, o mesmo equipamento, em uma obra de reforma do edifício do TCU, custou R$ 22,49/kg. O maior preço verificado nos estádios da Copa para o mesmo produto, excetuando a Arena Amazônia, é de R$ 22,61/kg, no Estádio Nacional de Brasília (DF). Só neste item, o cálculo da corte de contas é de um sobrepreço de quase R$ 3 milhões.

Em virtude dos custos sobrevalorizados, em maio deste ano, foram suspensos os repasses do empréstimo federal para a obra, de R$ 400 milhões. O Estado do Amazonas e a empreiteira responsável pelos trabalhos, a Andrade Gutierrez, tiveram que rever suas planilhas, reduzindo o custo da obra para R$ 550,7 milhões, recuperando assim a linha de crédito federal.

 

Aeroportos

OBRAS EM AEROPORTOS

  Previsão de entrega em 2010 Previsão atual de entrega Previsão de custo em 2010 (Em R$ milhões) Previsão atual de custo (Em R$ milhões)
Cuiabá (MT) Julho de 2013 Dezembro de 2013 89,1 91,31
Manaus (AM) Dezembro de 2013 Dezembro de 2013 327,4 394,10
  • Fontes: Controladoria Geral da União e Infraero

As ampliações previstas para os aeroportos de Manaus e Marechal Rondon (Grande Cuiabá)deverão ficar prontas até o final do ano que vem. Em Cuiabá, a previsão era a de que os trabalhos estariam concluídos em junho de 2013, mas "mudanças de planejamento levaram à revisão das datas", informa a Infraero, estatal brasileira que administra os aeroportos do país. É que a obra, prevista inicialmente para ser tocada pela empresa federal, agora será contratada pelo Estado de Mato Grosso, que deverá licitar a empreitada nas próximas semanas.

Já em Manaus, a previsão dos custos das obras de ampliação do terminal de passageiros, a serem concluídas em dezembro de 2013, saltou de R$ 327,4 milhões (2010) para atuais R$ 394,1 milhões. Procurada pelo UOL Esporte, a Infraero informou que o acréscimo de valor se deve a uma mudança no projeto de reforma, que passou a contemplar a construção de um segundo andar no terminal, separando por níveis as áreas de desembarque e embarque. Segundo a estatal, a alteração no projeto inicial garante maior agilidade no atendimento e no fluxo dos passageiros, aumentando o conforto e eficiência nas operações aeroportuárias.

 

Intervenções urbanas

PRINCIPAIS OBRAS DE MOBILIDADE URBANA

  Previsão de entrega em 2010 Previsão atual de entrega Previsão de custo em 2010 (Em R$ milhões) Previsão atual de custo (Em R$ milhões)
VLT de Cuiabá (MT)* Julho de 2012 Junho de 2014 489 1.477
Monotrilho de Manaus (AM) Dezembro de 2013 Maio de 2014 1.307 1.554
  • * Inicialmente, o projeto de Cuiabá para a Copa era a construção de uma linha de BRT (corredor exclusivo de ônibus)
  • Fontes: Controladoria Geral da União e Ministério do Esporte

As principais obras de mobilidade urbana previstas nas duas capitais são as que mais preocupam os organizadores da Copa nas cidades. Em Cuiabá, a construção de uma Linha de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) está licitada por R$ 1,47 bilhão. Por contrato, o consórcio construtor deve entregar o sistema em junho de 2014, mês da Copa, que tem seu primeiro jogo na capital matogrossense no dia 13. A previsão inicial de entrega era junho de 2012.

Além disso, as obras, conforme revelou o UOL Esporte no dia 17 de agosto, foram contratadas por meio de uma licitação suspeita. O ex-assessor especial do governo de Mato Grosso Rowles Magalhães Pereira da Silva disse que o consórcio VLT Cuiabá pagou R$ 80 milhões em propinas para garantir que venceria a concorrência pela obra. Por isso, o resultado da licitação já era conhecido um mês antes da abertura das propostas, segundo ele.

Depois das reportagens do UOL Esporte, a Polícia Civil de Mato Grosso e os ministérios públicos abriram novas investigações sobre o VLT. Rowles foi exonerado do cargo e desde então não proferiu publicamente nenhuma declaração.

Já o governador de Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB), embora afirme desejar uma apuração profunda do caso, ainda não informou quem indicou Rowles ao cargo, os motivos de sua contratação ou as funções que desempenhava. Pelo contrário, desde o dia 17 de agosto, o governador tem evitado a imprensa, e se recusado a responder perguntas sobre o assunto.

Em Manaus, o projeto de um monotrilho também enfrenta problemas. A obra, orçada em R$ 1,55 bilhão, tinha prazo de entrega previsto para dezembro de 2013. Agora, oficialmente, fala-se em maio de 2014.

Apesar disso, a Ordem de Serviço (OS) para início da obra foi assinada pelo Estado do Amazonas e pelo Consórcio Monotrilho Manaus, composto pelas empresas CR Almeida S.A., Engenharia de Obras Mendes Júnior Trading e Engenharia S.A. em janeiro deste ano. Segundo este documento, as empreiteiras têm 40 meses, a contar da assinatura da OS, para entregar a linha, ou seja, até julho de 2015.

 

* Atualizada às 16h14

Obras da Copa
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