A construtora Delta, acusada pela Polícia Federal de operar um esquema de financiamento de campanhas eleitorais junto com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e de oferecer dinheiro a parlamentares em troca de favores, é a responsável por três obras de mobilidade urbana que compõem o plano do Brasil de preparação para receber a Copa do Mundo de 2014. Juntas, as empreitadas têm um custo total de R$ 1,12 bilhão.

Na conta, não estão presentes as obras do Maracanã, da qual a empresa teria deixado de fazer parte do consórcio executor na última sexta-feira, e da construção de um novo terminal no aeroporto de Cumbica (SP), realizada pela empreiteira no ano passado por R$ 86 milhões, em um contrato emergencial, feito sem licitação.

Questionada pelo UOL Esporte, a Delta não respondeu se pretende deixar as obras em questão. Em duas delas, em Belo Horizonte (MG) e no Rio de Janeiro, a empresa faz parte de um consórcio construtor. Já em Fortaleza (CE), a empreiteira é a única responsável pela construção de um eixo viário cujos trabalhos tiveram início em janeiro deste ano.

"A Delta Construção não comentará a apuração da reportagem. A determinação da empresa é concentrar seus esforços na defesa de seu nome, de sua reputação e de sua história", foi tudo o que informou a empreiteira.

A obra de maior valor em que a Delta está envolvida é a construção das Transcarioca, um corredor expresso de ônibus com 39 km de extensão, que ligará a Barra da Tijuca ao Aeroporto Internacional do Galeão.

A Delta e a construtora Andrade Gutierrez compõem o Consórcio Transcarioca, responsável pelo trecho Barra-Penha, de custo estimado em R$ 798 milhões. Inspetorias realizadas pelo Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro na obra encontraram, até o fim do ano passado, inconsistências como:

- Custos unitários de itens da obra superiores aos previstos inicialmente

- Realização de procedimentos sem a comprovação de necessidade

- Execução de trabalhos por custos "excessivamente superiores" aos preços de referência com que trabalha o governo do Rio de Janeiro

- Medições em duplicidade e serviços executados com sobrepreço.

Já em Belo Horizonte, a Delta compõe, junto com a Construtora Cowan, o consórcio que assinou contratos que somam R$ 170 milhões para construir parte de um corredor especial de ônibus na avenida Antonio Carlos.

Lá, a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público de Minas Gerais investiga um sobrepreço na obra apontado pelo Tribunal de Contas de MG de 350%. Além disso, o jornal "O Globo" denunciou, na semana passada, que a prefeitura de Belo Horizonte teria assinado o contrato com o consórcio três meses antes da criação do CNPJ do consórcio. O MP também investiga esta denúncia. Prefeitura e empreiteiras não se pronunciaram.