Odebrecht trabalha para segurar gastos em obra e visa 5% de lucro no Itaquerão
Roberto Pereira de Souza
Do UOL, em São Paulo
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Odebrecht
Construtora deverá injetar até R$ 50 milhões para concluir obra
A margem de lucro que a Odebrecht terá na construção do Itaquerão não deve passar de 5%, no melhor cenário de controle de custos de engenharia. Outra descoberta dos financistas envolvidos no projeto e na construção do estádio que será do Corintians, em 15 anos: faltará dinheiro na conta geral e a construtora está preparada para colocar entre 20 e R$ 50 milhões como aporte extra, para finalizar os trabalhos em dezembro de 2013.
A média de lucro líquido nas chamadas obras pesadas, que exigem grande movimento de máquinas e estrutura construtiva, pode chegar no máximo a 12% (nas obras sérias com orçamentos transparentes).
"Mas essa faixa de lucro de 5% em Itaquera é bastante razoável, sim." disse o engenheiro José Roberto Bernasconi, ex-presidente do Sindicato Nacional de Arquitetura e Engenharia de Construção (Sinaenco). "Em consultorias, falamos em até 12% de lucro líquido mas isso é bastante raro", explicou o engenheiro.
Bernasconi faz ainda um alerta sobre o tema: com orçamento fechado, se o planejamento não foi feito dentro de um padrão rigoroso e "se o projeto executivo (que detalha custos e materiais até parafusos) não considerar todas as variantes, as construtoras poderã ter problemas de balanço até a entrega das arenas".
"Essas obras podem trazer surpresas desagradáveis. Claro que a Odebrecht é uma empresa altamente capacitada para gerenciar esses gastos. Mas problemas podem surgir. Sei que algumas construtoras estão contratando e montando equipes de gestão de crise para enfrentar dificuldades de imagem nos próximos meses", disse o engenheiro.
Lucros baixos, segundo Bernasconi, podem ocultar uma estratégia de mercado mais poderosa: "a Odebrecht está montando uma empresa de consultoria em arenas de futebol. Com o auxílio e entrada do BNDEs no Mercosul, essa estratégia pode compensar eventuais perdas de lucro no Itaquerão", comenta Bernasconi. " A construtora deve se projetar nesse mercado também. Em 15 ou 20 anos será forte nesse segmento com projetos possíveis em toda a América Latina", prevê o engenheiro.
A batalha contra os números reais chegou aos certificados de incentivo a investimentos na zona leste (CIDs), títulos emitidos pela Prefeitura de São Paulo no valor de R$ 420 milhões e que vai ajudar a pagar a construção do estádio. O contrato da construtora para execução da obra tem preço fechado: R$820 milhões.Se faltar dinheiro, a empresa deverá cobrir o saldo negativo das operações.
O Fundo Arena de Investimento Imobiliário, dono do novo estádio e de toda a receita gerada com a operação da arena (nos próximos 16 anos) terá de negociar esses títulos no mercado sem saber ao certo que valor cobrar com o deságio inevitável.
"Haverá um deságio, isso é certo. Esperamos uma taxa de cerca de 5% a 10% na redução do preço de face dos títulos", disse um executivo que conversou com UOL Esporte na condição de anonimato.
Alguns títulos públicos sofrem desvalorização quando são negociados no mercado. O CID é um certificado que dá direito a isenção no pagamento parcial de ISS e IPTU, na cidade de São Paulo, a partir de 2014. O deságio desse papel significa que o valor de face de R$ 420 milhões poderá ser, de fato, de R$ 350 mi a R$ 380 milhões.
Como a obra do Itaquerão foi orçada em R$ 820 milhões, a receita principal foi dividida entre os R$ 400 milhões emprestados junto ao BNDES e os R$420 milhões obtidos com a venda dos CIDs. Com o deságio, a construtora terá de bancar o que falta para fechar a conta.
"Vai faltar dinheiro e a construtora vai assumir o ônus porque é controladora do FII, junto com a BRL Trust. Isso está no regulamento do Fundo. Os donos de cotas seniores se responsabilizam por qualquer tipo de inadimplência ou falta de caixa", revelou o executivo de finanças.
A informação reservada sobre o baixo lucro por parte da Odebrecht e com "oferecimento de lastro operacional na construção do estádio" teria chocado até a presidente Dilma Rousseff, quando soube da situação.
"É possível até que a construtora consiga, com muito esforço, atingir o break even", comentou o executivo financeiro que assessora as negociações de financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES)
Conseguir o break even financeiro significa empatar investimentos com despesas, sem lucro operacional líquido, ou simplesmente lucro zero.
"Para conseguir um melhor resultado operacional estamos tentando reduzir os custos de construção", explicou o executivo.
O corte de custos variáveis na compra de insumos necessários à conclusão da obra até dezembro de 2013 pode garantir uma margem de lucro maior à construtora. Todos os gastos estão na planilha financeira e alguns técnicos estão debatendo detalhes de como baixar a despesa até com a cobertura da nova arena.
Testes recentes feitos em túnel de vento, na Alemanha, determinaram ajustes na estrutura de metal leve que suportará o tecido sintético da cobertura, dentro do melhor padrão Fifa para arenas internacionais.
"Há uma busca por redução de custos na cobertura, sim", garantiu um financista envolvido nos cálculos.
O empréstimo público do BNDES ainda não foi aprovado. Essa operação em obras de estrutura ou de grande porte pode levar entre 18 e 24 meses. A expectativa é que o dinheiro chegue em parcelas a partir do segundo semestre de 2012.
Obras no Itaquerão