Neymar é talento esportivo completo, diz psicóloga do Santos

Fernanda Nidecker

Da BBC Brasil em Londres

Neymar
Neymar

Maior estrela do futebol brasileiro no momento, Neymar atrai todos os holofotes. Aos 22 anos, o craque da camisa 10 da Seleção chega ao seu primeiro Mundial com o moral alto após ter brilhado na campanha vitoriosa na Copa das Confederações e conquistado o prêmio de melhor jogador da competição.

Além de uma ficha técnica que acumula sete títulos na carreira e 34 gols pela seleção desde 2010, o atacante carrega também as esperanças de milhões de torcedores que sonham ver o Brasil ser hexacampeão em casa.
 
Segundo a psicóloga do Esporte do Santos, Juliane Fecchio, que trabalhou com Neymar durante seus anos na Vila Belmiro, o craque será o jogador mais pressionado na seleção, mas deverá saber lidar bem com as cobranças.
 
"Neymar é um atleta diferenciado, tem habilidades psicológicas muito boas", avalia.
 
"Ele é um talento esportivo de forma completa", define Fecchio, em entrevista ao programa de rádio do Serviço Mundial da BBC "The Burden of Beauty" (O Fardo da Beleza, em tradução livre).
 
O programa, cuja primeira parte vai ao ar nesta quarta-feira, aborda as pressões – dentro e fora dos estádios – que o Brasil sofre ao receber a Copa em casa.
 
 
Fecchio relembra que, nos dias de jogo quando estava no Santos, o atacante sempre aparentava calma e procurava relaxar na concentração.
 
"Ele jogava videogame, dormia, como se fosse um dia como outro qualquer. A gente tinha até a impressão de que estava com sono antes de entrar em campo, mas quando começava a jogar tudo mudava", afirma a psicóloga.
 
O zagueiro da seleção David Luiz define a atuação brilhante de Neymar como "natural" e diz que a equipe quer ajudá-lo a ser o melhor do Mundial.
 
"Essa Copa pode ser uma grande oportunidade para ele", disse, lembrando o jogo psicológico que o atacante faz para desestabilizar o adversário.
 
"Ele tem essa capacidade de driblar e fazer o oponente parecer bobo, perder a concentração e marcar com facilidade".
 
 Fecchio, que trabalhou com a psicóloga da seleção, Regina Brandão, acha que o técnico Luiz Felipe Scolari conseguiu formar um grupo coeso, algo fundamental para o equilíbrio emocional do time.
 
Segundo ela, uma das tarefas de Brandão inclui a elaboração de um perfil psicológico de cada jogador, traçado por meio de questionários.
 
A partir disso, a equipe técnica recebe conselhos sobre como lidar com cada um, inclusive até sobre o palavreado a ser empregado.
 
"Se o técnico fala para um jogador mais autoconfiante: 'Eu conto com você neste jogo', ele entra em campo e pode dar conta do recado", explica.
 
Já se o jogador estiver inseguro ou muito ansioso, a mesma frase poderá ter efeito oposto e prejudicar o desempenho do atleta, avalia.
 
Para esse jogador, segundo Fecchio, o certo seria dizer "você é importante".
 
"A escolha certa das palavras faz toda a diferença."
 
Ronaldo
 
A responsabilidade que recai sobre Neymar nesta Copa remete à mesma situação vivida por Ronaldo no Mundial da França, em 1998.
 
Então melhor jogador do mundo pelo segundo ano consecutivo, o atacante disputou sua segunda Copa com quase 22 anos, a mesma idade de Neymar.
 
Horas antes da final contra a dona da casa, Ronaldo sofreu uma convulsão. Chegou a ser riscado da escalação inicial, mas acabou entrando em campo e teve uma atuação apagada. O sonho de levantar a taça foi adiado por mais quatro anos, após a vitória dos franceses por 3 a 0.
 
Em sabatina promovida pelo jornal Folha de S. Paulo no mês passado, Ronaldo disse que a cobrança que sofreu em 98 é a mesma que será vivida agora por Neymar.
 
"Copa do Mundo é a maior pressão que um atleta pode ter", afirmou Ronaldo, aproveitando para dar a dica: "Tem que transformar em motivação".
 
Fecchio concorda. Ela acrescenta que uma das técnicas que aplica para motivar os atletas é a da visualização.
 
O exercício consiste em fazer o jogador ficar em um cômodo escuro, em silêncio e, após algumas respirações profundas, ele mentaliza seu sucesso em várias situações: seja em uma cobrança de pênalti ou em um chute dentro da área.
 
"Ao eliminar o medo e a insegurança aumentamos as chances de que o desempenho seja melhor".
 

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