Busquets, Iniesta, Xavi e Xabi Alonso, que formam o meio-campo espanhol |
A Espanha não jogou tão bonito quanto se esperava. E ainda esteve longe de encantar o mundo como fez há dois anos, no título da Eurocopa. Mas a conquista da Copa do Mundo neste domingo manda uma mensagem clara ao “planeta bola”: o futebol de passes entra no lugar da retranca como modelo a seguir.
O título espanhol mostra também a importância da experiência adquirida nas categorias de base para o sucesso no time profissional. Os principais exemplos disso são os três campeões mundiais sub-20 de 1999, Casillas, Xavi e Marchena.
A lista, no entanto, é lotada de atletas que defenderam a Espanha em categorias de base. Dos 23 atletas convocados por Del Bosque, 15 disputaram um torneio de nível mundial da Fifa, seja ele sub-20, Sub-17 ou o torneio de futebol das Olimpíadas. Fazem parte desse grupo Albiol, Capdevilla, David Silva, Fábregas, Fernando Torres, Iniesta, Javi Martinez, Llorente, Mata, Pepe Reina, Piqué e Puyol.
Até mesmo quem não teve essa experiência defendeu seleções das categorias de base. O artilheiro David Villa, por exemplo, jogou na seleção sub-21, assim como o volante Busquets.
Do time titular, os únicos que não defenderam seleções de base foram o lateral-direito Sergio Ramos e o volante Xabi Alonso.
Até a Copa do Mundo do Brasil, em 2014, o império da força defensiva instituída pelo título da Itália em 2006 não existe mais. A nova regra será povoar o meio-campo com jogadores habilidosos. E o objetivo será dominar, sempre, a posse de bola graças à troca de passes rápida e em abundância.
E o Brasil pode ser usado nesse exemplo. A estratégia de Dunga na Copa de 2010 foi baseada no paradigma italiano. A defesa, pela primeira vez, foi a estrela verde-amarela no Mundial. O time sempre jogava bem quando era atacado, mas quando precisava encarar um time mais defensivo, se complicava.
Com a Espanha mostrando uma nova maneira de pensar o futebol, esse estilo de jogo pode mudar. Imagine um meio campo formado por dois volantes que saibam marcar, mas tenham qualidade na saída de jogo. À frente, dois meias responsáveis pela armação com qualidade no passe. Nada mais de volantes de contenção, que só sabem dar passes laterais.
Quem assistiu aos jogos da Espanha na Copa do Mundo sabe exatamente o que isso significa. Nas sete partidas disputadas na África do Sul, a média de posse de bola da Fúria foi de 59%. Em duas partidas, na derrota contra a Suíça (63%) e na vitória sobre Portugal (61%), por exemplo, foram mais de 60% de domínio.
E a arma para usar isso são os jogadores mais leves, que desarmam e armam jogadas. Se Marcos Senna foi peça fundamental da equipe que venceu a Eurocopa em 2008, na África do Sul ele foi substituído por Sérgio Busquets, um volante muito mais habilidoso. “Senna foi importante há dois anos, mas encontramos um jogador em Sergio Busquets que faz o seu trabalho defensivo tão bem quanto e ainda pode fazer mais na troca de passes”, já dizia Vicente Del Bosque no início da Copa.
Busquets, o equivalente a Gilberto Silva na escalação brasileira, terminou a Copa como o segundo melhor em eficiência de passes, segundo o Datafolha, com 95,3%. Só é superado por Felipe Melo, com 96,3%.
A diferença entre os dois, no entanto, é que o espanhol passa para frente. Seus dois alvos principais são Xavi e Iniesta (segundo a Fifa), os meias de criação da Fúria. O brasileiro, por sua vez, procurou mais defensores (Michel Bastos, Gilberto Silva, Lucio, Juan e Maicon) do que criadores (Elano, Kaká e Robinho).
E vale lembrar: Busquets é o mais desconhecido desse meio-campo, que tem ainda Xabi Alonso e os dois cérebros, Xavi e Iniesta. Da lista dos 11 jogadores que mais tocaram a bola na competição, 7 eram espanhóis (Pique, Capdevila e Sergio Ramos completam a lista) – segundo a Fifa.
Aos críticos defensivistas, a posse de bola espanhola também serve para explicar a boa defesa. O time de Vicente Del Bosque é o primeiro da história a vencer a Copa do Mundo sem tomar nenhum gol na fase de mata-mata. Além disso, com apenas dois gols sofridos no Mundial, se igualou aos 2 que a Itália de 2006 sofreu na campanha vitoriosa.
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