Eduardo Galeano, sobre o jogo dramático entre Uruguai e Gana: "Parecia filme de Hitchcock"
Autor de livros consagrados dentro (“Futebol ao Sol e à Sombra”) e fora do esporte mais popular do mundo (“As Veias Abertas da América Latina”), o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano celebrou a boa campanha de seu país na Copa do Mundo de 2010, levando em conta o pequeno tamanho da nação e sua tradição futebolística.
Antes de saber que o Uruguai seria eliminado pela Holanda na semifinal, Galeano afirmou em entrevista ao jornal alemão "taz -Die Tageszeitung”, de Berlim, que, independentemente do resultado, “volta a ser milagrosamente certo que um país com menos habitantes que um bairro de Buenos Aires é capaz de conquistar o troféu mundial”.
Apesar dos 3,5 milhões de habitantes – poucos, se comparado às outras potências futebolísticas – o Uruguai tem uma tradição no futebol que, para Galeano, influenciou muito o feito da equipe na África do Sul.
“Festejamos isso porque o Uruguai é um país muito ‘futebolizado’, e aqui todos os bebês nascem gritando ‘gooool’. A camisa celeste tem muita energia dentro. E a história também ajuda”, complementa, relembrando os dois títulos olímpicos, de 1924 e 1928, além das Copas do Mundo de 1930 e 1950 – nesta última, os uruguaios protagonizaram o famoso “Maracanazo”, quando desbancaram o Brasil na final em pleno Maracanã.
Galeano comentou ainda a sofrida classificação uruguaia para a semifinal, contra Gana, nos pênaltis, após o atacante Luis Suárez impedir um gol dos africanos com a mão, debaixo das traves, e o ganense Gyan errar a cobrança em seguida.
“Foi um filme de Hitchcock. Me cortou a respiração. A minha e a de todos que assistiram à partida mais emocionante deste Mundial”, definiu o uruguaio, que não deixou de assinalar sua tristeza pela derrota de Gana. “Ganhou o Uruguai, e assim ficou selada a derrota de toda a África. Eu festejei e, ao mesmo tempo, senti uma profunda tristeza. No futebol, como na vida, há alegrias que doem”.
Questionado sobre as razões que teriam levado à derrocada do Brasil na Copa do Mundo, Galeano criticou o técnico Dunga por querer copiar o estilo de marcação e extrema disciplina tática dos europeus.
“Nós, latino-americanos, não vamos bem quando copiamos as receitas do êxito europeu. Nem no futebol, nem em nada. Li e escutei várias vezes, a propósito desta seleção alemã, a que compete agora, o seguinte elogio: ‘Parece uma equipe sul-americana’. A receita de Dunga não era a melhor para o mais sul-americano dos sul-americanos: de que estava doente o Brasil para precisar desse tipo de remédio?”, se questiona Galeano.
Galeano aproveitou também para elogiar o desempenho da Alemanha na África do Sul. “Assombrosa. Tem a força e a velocidade dos velhos tempos, mas uma elegância e uma alegria que talvez seja o aporte de tantos jovens incorporados em suas fileiras, em sua maioria imigrantes ou filhos de imigrantes. No futebol, como na vida, a mestiçagem melhora”.
Já sobre as razões que levaram a Argentina a ser eliminada com uma goleada, o escritor é enfático: “Obviamente não cuidou do meio campo, faltou articulação entre a vanguarda e a retaguarda e Messi foi limpamente bloqueado, na boa lei, pela defesa alemã. Talvez isso tenha algo a ver com a ‘messidependência’”, define.
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