Lula se encontrou com Mwai Kibaki, presidente do Quênia, e disse torcer agora pelo Uruguai na Copa
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou uma visita ao Quênia, nesta terça-feira, para fazer comentários sobre a derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo.
Após um encontro com o presidente queniano, Mwai Kibaki, em Nairóbi, o presidente disse que ainda não havia se recuperado da tristeza de ver o Brasil perder para a Holanda e que agora está torcendo para o Uruguai.
“Estamos todos torcendo para que o Uruguai seja campeão do mundo. Nada contra os europeus, mas tudo a favor do Mercosul”, disse Lula. Ele já havia dito que, após a saída do Brasil da Copa, torceria para os times do bloco comum do sul.
Os comentários do presidente, que dedicou 11 minutos ao tema, foram uma tentativa jocosa de ganhar a simpatia dos anfitriões, como é de praxe em suas visitas internacionais. É a primeira vez que um presidente brasileiro visita o Quênia.
Entretanto, muitos quenianos estavam apoiando Gana – derrotada justamente pelo Uruguai –, o último time africano a ser eliminado da Copa.
“Eu ainda não digeri a derrota do Brasil e a cada dia que passa eu me aproximo mais da África do Sul e eu sinceramente não sei como será o meu dia entrando no estádio para ver a final e não ver nenhum jogador brasileiro”, prosseguiu Lula, que terminará seu périplo de dez dias pela África na final da Copa do Mundo, em Johanesburgo.
“Espero que tenha algum jogador brasileiro em alguma seleção que esteja disputando a final. Se for Uruguai, nós temos pelo menos um bom jogador do Botafogo do Rio que joga na seleção do Uruguai. Se for a Alemanha, nós temos um brasileiro naturalizado.”
O presidente mandou também um recado ao povo brasileiro e aos jogadores. “A vida é assim. Ela é feita de derrotas e de vitórias. A luta continua. Nada de baixar a cabeça”, disse o presidente.
“Vamos esperar para o ano 2014 para ver se como anfitriões da Copa do Mundo a gente possa ganhar o campeonato. Espero que o Quênia se prepare muito para que possamos fazer uma final Brasil e Quênia, e que dê empate, e que os dois presidentes do Brasil e do Quênia batam o pênalti para ver se não erram.”
Futebol à parte, Lula assinou em Nairóbi cinco memorandos de entendimento na área de produção de bioenergia, educação e comércio.
Na área agrícola, o Brasil já está iniciando projetos para transferir tecnologia para transformar não só para o Quênia, mas também para outros países do Leste da África, em produtores de biocombustível e alimentos de forma sustentável.
O coordenador da Embrapa-África, Leovegildo Lopes de Matos, disse à BBC Brasil que o objetivo das parcerias nesta região é abrir as portas para o que, no futuro, pode vir a ser um mercado para sementes, material genético e máquinas agrícolas brasileiros.
Em seu discurso, o presidente queniano destacou especialmente as parcerias na área de energia. Ele qualificou Lula de “líder do mundo em desenvolvimento” e “um advogado das relações sul-sul”.
Depois do encontro entre os dois presidentes, Lula encerrou um seminário empresarial para aproximar o setor privado brasileiro das oportunidades abertas pelo bloco econômico do Leste da África (EAC, sigla em inglês), formado por Quênia, Tanzânia – próxima escala na visita presidencial –, Uganda, Ruanda e Burundi.
O Quênia, onde o setor manufatureiro responde por 20% do PIB, é o país mais industrializado da região.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, no ano passado o comércio do Brasil com o Quênia foi de pouco mais de US$ 91 milhões, graças, quase totalmente, às importações quenianas de veículos agrícolas, tratores, máquinas, combustíveis, ferro e aço e aparelhos e instrumentos mecânicos, que somaram US$ 89,5 milhões.
Entretanto, um estudo encomendado pelo governo brasileiro identificou o potencial de vender bilhões de dólares nos mesmos setores onde já há trocas comerciais e em negócios com outros produtos, como cereais, fármacos e papel e celulose.
Em seu discurso para os empresários, Lula procurou passar a mensagem de que é possível superar “as incompreensões e o desconhecimento do potencial e das possibilidades que nós temos de fazer negócios com os países africanos, e os africanos com o Brasil”.
O presidente destacou que foi justamente a diversificação da balança comercial – que em seu governo passou a incluir mais países em desenvolvimento – que segurou a economia brasileira de efeitos mais fortes da crise econômica.
Ele lembrou o passado colonial da América Latina e da África para afirmar que ambas as regiões têm “pouco tempo de experiência comercial”.
“Foram aqueles que nos colonizaram que determinaram o que era que devia acontecer conosco. E muitas vezes nós ainda temos as nossas economias dependentes daqueles que nos colonizaram. Portanto, o que estamos fazendo aqui é uma coisa mais que revolucionária. Estamos dizendo que Brasil e Quênia têm histórias comuns”, defendeu Lula.
“Estamos dizendo o que é que a gente quer a partir de hoje, a partir de ontem, a partir de amanhã. Não pode o Brasil, só porque é uma economia maior, vir ao Quênia só para vender. É preciso que essa política comercial seja uma via de duas mãos, em que a gente compra e vende. Em que a gente produz e transfere tecnologia. Em que um ensina ao outro o que tem de expertise, para que os dois possam crescer.”
“O dado concreto é que nós estamos nos descobrindo. Eu tenho certeza de que o Quênia não conhece 10% do que o Brasil pode oferecer, e o Brasil não conhece 10% do que o Quênia pode oferecer.”
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