Eles se apaixonaram no Maracanazo e vão a nova final 'forçados' pela Fifa

Luiza Oliveira e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, no Rio de Janeiro

Maracanã, 16 de julho de 1950. Um jogo em que todos os brasileiros tiveram motivos de sobra para chorar. Mas Gabriel Ferreira e Marylia Borba da Silva não têm do que reclamar. No local mais improvável, o casal se conheceu e iniciou uma trajetória de amor que já deu origem a dois filhos, quatro netos e uma bisneta.

O casamento que coleciona bodas de prata, ouro, rubi e diamante em mais de seis décadas impressiona a todos pelas circunstâncias fora do padrão. No local onde todos só queriam saber da disputa nos gramados entre Brasil e Uruguai pelo título da Copa do Mundo, o jovem de apenas 25 anos paquerava a menina de apenas 18. E deu certo.

"Após o gol do Gigghia, vi que o título estava perdido e passei a conversar com ela: 'vamos sair?'. Chamei ela para um passeio mais tarde, no Campo de São Cristóvão, ela aceitou e tudo começou. Ela costuma dizer que naquele dia, o país inteiro perdeu, mas nós dois ganhamos", relembrou Gabriel.

O roteiro de conto de fadas tinha tudo para ganhar mais um capítulo perfeito neste domingo, na final da Copa do Mundo, se o Brasil chegasse à decisão e à conquista do hexacampeonato. No entanto, a goleada por 7 a 1 sofrida para a Alemanha, na última terça-feira, mudou os planos e desanimou o casal. O aposentado de 89 anos já não se encanta mais com a oportunidade de escrever mais um capítulo histórico.

Ele até irá com a esposa de 82 anos ao jogo, mas apenas por um compromisso "padrão Fifa" assumido anteriormente.

"Eu desanimei. Não gostaria de ir não. A Copa já acabou. Depois dessa derrota vergonhosa tudo perdeu o sentido e, depois de velho, os sentimentos não são mais os mesmos de antes. O Maracanã também era muito melhor, tinha a geral, agora encolheu. Eu só vou porque já tenho um compromisso com a Fifa", explicou Gabriel.

Dona Marylia admite a chateação com a saída da seleção brasileira. "Fica uma frustração sim. Quando eu soube que o Brasil seria a sede da Copa, eu falei 'vamos à final para reviver tudo que aconteceu'. Eu queria que fosse contra o Uruguai para fazermos a vingança. Ele dizia que não porque se perdesse de novo seria mais vergonhoso. Infelizmente, não deu. Mas vamos ao jogo assim mesmo".

A presença na final entre Alemanha e Argentina só está garantida porque os dois serão personagens do filme oficial a ser lançado pela Fifa após o Mundial.

"Os caras me procuraram, estão gravando comigo há um bom tempo já. Vieram várias vezes na minha casa, até me filmaram tomando banho [risos]. Não posso dizer não agora. Mas se não tivesse esse compromisso, não iria", disse Gabriel.

E ainda que não tenha tanto interesse na partida, o casal formado na final de 50 já sabe para quem torcer na decisão de 2014: Argentina. "Pelo menos é um time sul-americano, e a Copa não vai para a Europa. Um europeu ganhar aqui dentro? Pelo menos ganha a Argentina, eu penso assim, por ser um daqui do nosso continente e a taça não ir para longe", disse Marylia.

"Não estava torcendo para nenhum dos dois, mas a Argentina só tem dois campeonatos e a Alemanha tem três. Entao deixa eles empatados, senão a Alemanha vai ficar muito perto do Brasil. Ela já passou com o maior goleador. Deixa para a Argentina ganhar", disse Gabriel que ainda não perdeu a chance de cornetar o time de Felipão.

"Sempre falei para a Marylia que não iria longe. Faltou gente experiente, mais treino e uma organização na defesa. No último jogo, por exemplo, o técnico colocou o David Luiz na direita, sendo que ele sempre jogou pela esquerda. Não pode", criticou o torcedor com quase nove décadas de "experiência".

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