MP corre para evitar liberdade de suspeitos da máfia do ingresso
Vinicius Konchinski
Do UOL, no Rio de Janeiro
Esta quinta-feira será decisiva para o futuro dos suspeitos de integrarem a quadrilha internacional de cambistas que vendia ilegalmente ingressos da Copa do Mundo de 2014. No final do dia, vence a prisão temporária de 11 detidos no Rio de Janeiro. Caso a Justiça não decida ainda nesta quinta pela prisão preventiva dos supostos membros da quadrilha, todos devem ser soltos a partir de meia-noite da sexta-feira.
E para que a prisão preventiva seja decretada, o trabalho do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) será fundamental. O órgão recebeu na quarta-feira o inquérito com os resultados das investigações sobre a máfia dos ingressos realizadas pela Polícia Civil. Agora, precisa avaliar os documentos e decidir se vai seguir a sugestão do delegado Fábio Barucke e abrir mesmo um processo contra os suspeitos, além de solicitar à Justiça que eles permaneçam presos.
O pedido pela prisão preventiva dos suspeitos tem que ser feito ainda na quinta. A Justiça também precisa avalia-lo e aprova-lo. Caso contrário, os suspeitos de integrar a quadrilha estão livres para voltar às ruas e quem sabe até sair do país.
"Estamos fazendo um esforço máximo para avaliar todo o inquérito e decidir o mais rápido possível sobre a denúncia e a solicitação da prisão preventiva", afirmou o promotor Marcos Kac, da 9ª PIP (Promotoria de Investigação Penal) do MP-RJ, horas depois de receber o inquérito sobre a máfia dos ingressos das mãos do delegado Fábio Barucke, titular da 18ª Delegacia de Polícia do Rio de Janeiro.
No inquérito, Barucke indiciou 12 suspeitos por cambismo e associação criminosa. Entre eles, está o empresário argelino Mohamadou Lamine Fofana, apontado como chefe da quadrilha que vendia ingressos por preços muito acima do mercado.
Fofana está preso no Rio há dez dias. Caso não tenha sua prisão preventiva decretada, ele deve ser libertado. O próprio promotor Kac admite que, a princípio, ele não teria qualquer impedimento legal para viajar até mesmo para fora do país.
Gravações feitas pela polícia com a autorização da Justiça apontam que Fofana negociava ingressos da Copa do Mundo ilegalmente. Em telefonemas, o argelino tratava da compra de bilhetes com o inglês Raymond Whelan, diretor da Match Services, empresa parceira da Fifa na organização do Mundial. "Os indícios são fortes", afirmou Barucke, sobre as provas coletadas contra a quadrilha (leia trechos das gravações aqui).
Whelan, da Match, também chegou a ser preso pela Polícia Civil do Rio de Janeiro no na segunda-feira. Ele foi solto horas após conseguir um habeas corpus. O delegado Barucke também recomendou sua prisão preventiva.
O promotor Kac não adiantou se vai mesmo solicitar todas as prisões sugeridas pela polícia. Ele disse que ainda precisa avaliar o inquérito. O promotor, entretanto, reconhece que uma demora nessa avaliação pode acarretar na liberdade dos suspeitos. Kac, contudo, disse que não pode se deixar levar pela urgência.
"O inquérito é extenso. Houve um grande trabalho da polícia", disse Kac. "Estou fazendo tudo o que posso, mas não posso deixar de avaliar tudo."
Operação Jules Rimet
A operação que prendeu Fofana, Whelan e outros dez suspeitos de integrar a máfia dos ingressos foi batizada de Jules Rimet, em alusão ao nome do primeiro presidente da Fifa. Ela é resultado investigações da polícia e do próprio MP-RJ. É natural, portanto, que o promotor siga a recomendação do delegado.
Na operação, quase 200 ingressos da Copa já foram apreendidos na ação, além de dinheiro e máquinas para pagamento em cartão de crédito. Os bilhetes pegos pela polícia eram reservados pela Fifa a seus patrocinadores, a clientes de pacotes de hospitalidadese até a membros de comissões técnicas. Dez ingressos, inclusive, eram reservados as integrantes da comissão técnica da seleção brasileira.
Segundo Polícia Civil, a quadrilha vendia ingressos por até R$ 35 mil. Com isso, lucrava até R$ 1 milhão por jogo. Na Copa, o grupo poderia faturar R$ 200 milhões.
A polícia informou que o esquema não é novo. Ele funcionava há quatro Copas. O trabalho seria tão lucrativo que integrantes da quadrilha trabalhariam durante o torneio e depois descansariam por quatro anos até o próximo Mundial.
Suspeitos presos e Whelan negam que cometeram qualquer crime. A Match, aliás, divulgou um comunicado na quarta-feira criticando o trabalho da Polícia Civil do Rio de Janeiro e declarando que a prisão do seu diretor executivo foi "ilegal e arbitrária".
O delegado Barucke disse que as críticas são uma forma de defesa da Match.