A música criada por torcedores argentinos e que se popularizou durante a copa diz "Brasil, me diga como se sente, tendo em casa seu papai". Papai aqui significa carrasco, e a música é inspirada na eliminação brasileira diante dos vizinhos na Copa de 90. A seleção brasileira não é exatamente freguesa da alviceleste – tem 35 vitórias nos confrontos diretos, contra 36, só uma a mais – mas existe um argentino que é carrasco do Brasil, e está na Copa. Seu nome é José Pekerman, e ele comanda a seleção da Colômbia, adversária do time de Felipão nas quartas de final.

Cinco títulos – quatro deles batendo o Brasil

O "papai" Pekerman comandou a seleção argentina Sub-20 entre 1995 e 2001. No período, ganhou dois Sul-Americanos (1997 e 1999) e três Mundiais (1995, 1997 e 2001). Dos cinco títulos conquistados, quatro foram com vitórias sobre a seleção brasileira.

Os Mundiais

A freguesia começou no Mundial de 1995 – o duelo entre Brasil e Argentina aconteceu na final. As estrelas das duas equipes, inclusive, estão trabalhando na Copa de 2014, como comentaristas: do lado brasileiro, Caio Ribeiro; do argentino, Juan Pablo Sorin. O time brasileiro tinha ainda Zé Elias, Denílson e Luizão, enquanto a Argentina não tinha tantas estrelas: apostava nas promessas Ibagaza e Biagini. Caio, eleito depois o melhor do torneio, não brilhou, e os comandados de Pekerman venceram por 2 a 0.

A sina se repetiu dois anos depois, em 97. Desta vez, a seleção brasileira tinha Athirson, Pedrinho, Alex e Fernandão. A Argentina, porém, tinha uma geração de ouro: Aimar, Riquelme, Samuel e Cambiasso. O encontro foi nas quartas de final, com outro 2 a 0 e outra eliminação.

Janela sem encontros e brilho de Xavi

Em 1999, não deu para nenhuma das duas equipes sul-americanas – quem levou a melhor foi a Espanha, onde despontava Xavi. O Brasil, que tinha Júlio César, caiu diante do Uruguai; a Argentina, diante do México. Em 2001, Pekerman voltou a levantar a taça, com a geração de D'Alessandro e Saviola; os brasileiros, porém, foram eliminados antes de encontrar os rivais, pela seleção de Gana, nas quartas de final.

Trunfos no Sul-Americano

O "papai" Pekerman levou a melhor sobre a seleção brasileira também em dois Sul-Americanos Sub-20, que são decididos em pontos corridos. Em 1997 e 1999, duas vitórias sobre o time brasileiro na fase final foram decisivas para que a equipe alviceleste terminasse na ponta.

Troco brasileiro

Os quatros títulos do treinador argentino justificam a fama de carrasco, mas nem todos os encontros entre Pekerman e seleção terminaram em dor e mágoa.  Nas seleções de base, o Brasil deu o troco no Sul-Americano de 2001: comandado por Adriano e Léo Lima, venceu a Argentina por 1 a 0 e ficou com o título.

Depois da fase de ouro nas seleções de base, o técnico foi promovido para a equipe principal. Na Copa América de 2004, encontrou o Brasil na final, mas a seleção canarinho, desta vez, trouxe seu próprio executor: o mesmo Adriano marcou um gol nos minutos finais do jogo, converteu sua cobrança na vitória por pênaltis.

O sobrevivente

No elenco atual, o único sobrevivente dos encontros com Pekerman é Júlio César. O goleiro esteve na equipe derrotada no Sul-Americano de 99, e na equipe eliminada no mundial do mesmo ano, antes de cruzar com a Argentina. Revidou o revés em 2004, pegando o pênalti de D'Alessandro na final da Copa América.

Luz no fim do túnel

O atual técnico da seleção colombiana é respeitadíssimo, mas tem fama de cientista louco. Em 2006, treinando a Argentina, foi criticadíssimo por sacar Riquelme no intervalo do jogo contra a Alemanha, pelas quartas de final – sofreu o empate e, nos pênaltis, foi eliminado. Em 2013, já pela Colômbia, pareceu encontrar a formação ideal nas eliminatórias com uma goleada por 5 a 0 sobre a Bolívia; no jogo seguinte, mudou de dois para três zagueiros, e perdeu para a Venezuela, voltando a receber uma enxurrada de críticas.

Infelizmente para o Brasil, as chances de que Pekerman decida sacar James Rodriguez e Cuadrado do time para o jogo de sexta-feira são bem remotas. Felizmente, carrascos e fregueses do passado pouco importam quando a bola rola dentro de campo: em quartas de final de Copa do Mundo, a cabeça de toda a delegação da seleção brasileira está longe dos torneios Sub-20 da era Pekerman.