Profissional desde os 14, James Rodríguez vira "Neymar da Colômbia" na Copa
Guilherme Costa e Luis Augusto Simon
Do UOL, em São Paulo
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AFP PHOTO / Eitan ABRAMOVICH
Meia James Rodriguez, um dos destaques da Copa do Mundo até aqui, controla a bola durante treino da Colômbia em São Januário, no Rio de Janeiro. Equipe encara o Uruguai no Maracanã, neste sábado
Camisa amarela, número 10 às costas, foi eleito pela Fifa o melhor jogador em duas das três partidas da primeira fase da Copa de 2014. Tem apenas 22 anos, mas concentra grande parte das esperanças do país no torneio. Podia ser Neymar. É James Rodríguez. Profissional desde os 14 anos e ídolo precoce, o principal nome da seleção colombiana no Mundial é comparado no país sul-americano ao astro brasileiro.
"James é tão importante para a Colômbia quanto Neymar é para o Brasil. São dois jogadores fantásticos, mas que precisam ser apoiados por todo o restante do time. Estou muito otimista quanto às chances da Colômbia neste Mundial, e James é uma das razões para isso", disse o ex-jogador colombiano Faustino Asprilla, que está no Brasil e trabalha como comentarista na rádio "Blu" durante a Copa.
Os torcedores da Colômbia concordam. "Ele é o nosso Neymar. Ainda é cedo para dizer o que ele vai representar para o futebol da Colômbia, mas James está fazendo história", ponderou Juan Pablo Bermudez. "Ele é nossa maior esperança", adicionou Beatri Parra. "Valderrama ainda é nosso maior 10. James é como Neymar, mas ainda é jovem e está começando", finalizou Juan Camilo Jimenez.
Na verdade, o impacto de James Rodríguez na Copa é maior do que a produção de Neymar. Maior, aliás, do que qualquer outro jogador. A despeito de ter sido poupado e entrado apenas no segundo tempo da terceira partida, o colombiano marcou três gols e deu duas assistências. Nenhum atleta participou diretamente de tantas bolas nas redes.
Esse é um dos números que balizaram uma escolha da Fifa. A entidade elaborou ranking baseado na eficiência dos jogadores em diferentes quesitos, e James Rodríguez foi eleito o melhor da primeira fase da Copa de 2014.
"James tem feito o que esperamos dele. Desde o começo da Copa ele tem mostrado que está muito bem fisicamente e que podemos confiar nele", disse o argentino José Pekerman, técnico da seleção colombiana. "Ele tem nos ajudado muito. É um jogador de muita qualidade, que está vivendo um bom momento e que tem se esforçado muito para isso. É uma peça fundamental para nós", completou o lateral esquerdo Pablo Armero.
Os três gols já transformaram James Rodríguez no maior artilheiro da Colômbia em Copas – ele superou Bernardo Redin, que havia marcado dois em 1990. Além disso, o camisa 10 ajudou a seleção sul-americana a vencer os três jogos da primeira fase de 2014. Antes, o time só havia obtido três triunfos na soma de todas as participações na competição.
A Colômbia jogará contra o Uruguai neste sábado em duelo válido pelas oitavas de final da Copa. Os Cafeteros nunca passaram dessa fase em um Mundial. Se conseguirem o feito em 2014, James Rodríguez certamente será um dos responsáveis. Aos 22 anos, o meia concentrou atenções na seleção colombiana depois que Falcao García sofreu uma lesão e foi descartado para a competição.
Sem Falcao, a Colômbia perdeu sua maior referência ofensiva. Perdeu também um jogador badalado em âmbito mundial. Ganhou um gigantesco ponto de interrogação sobre o que seria da seleção na Copa. E James Rodríguez tratou de solucionar isso.
"O início da Copa tem sido muito bom para todos nós. Eu quero sempre contribuir com o time, seja com gols ou com passes. Tenho bons jogadores ao meu lado, e isso ajuda muito", disse o meia.
A infância no Tolima e a estreia como profissional
A responsabilidade que o camisa 10 carrega aos 22 anos é grande, mas James tem estofo suficiente. O pai, Wilson James Rodríguez Bedoya, também foi jogador. Chegou a representar a Colômbia no Mundial sub-20 de 1985 e saiu de casa quando o garoto ainda era criança.
James Rodríguez foi criado pela mãe e pelo padrasto em Ibagué, cidade que fica perto da fronteira da Colômbia com a Venezuela. Aos dois anos, já frequentava treinos do Tolima. Aos cinco, ingressou na escolinha do clube.
Migrou ainda criança para o Evingado, time em que debutou como profissional aos 14 anos. A estreia de James Rodríguez aconteceu em 2006, ano em que a equipe foi rebaixada para a segunda divisão. Ele participou no ano seguinte da campanha do retorno.
Mas o Evingado é apenas clube formador. Fundado há 24 anos, o time colombiano já teve nomes como Fredy Guarín, Juan Quintero, Pabón e Molina (ex-Santos) em suas equipes menores. "Vemos isso como uma linha de negócio", admitiu o presidente Felipe Paniagua em entrevista ao site "Fútbol Red".
Da Argentina à França
Em 2008, a linha de negócio levou James Rodríguez ao Banfield (Argentina). O colombiano tornou-se, aos 17, o estrangeiro mais jovem a disputar uma partida do Campeonato Argentino.
Depois de ter feito um golaço num confronto com o Lanús, em fevereiro de 2010, James Rodríguez foi chamado pelo "Diário Olé" de "James Bond" do Banfield. No mesmo ano, porém, ele foi expulso na derrota por 2 a 0 para o Internacional, em Porto Alegre, que eliminou os argentinos da Copa Libertadores – na ida, o time do colombiano havia batido os brasileiros por 3 a 1.
Nessa altura, James Rodríguez já era nome observado por muitos times europeus. O mais rápido foi o Porto, que contratou o colombiano em julho de 2010. Inicialmente, ele assinou contrato de quatro anos com a equipe portuguesa.
O Porto teve ajuda de uma série de investidores para contratar James Rodríguez. Depois, precisou fazer várias negociações menores para comprar os direitos do jogador. Na temporada 2012∕2013, o colombiano recebeu a camisa 10 da equipe portuguesa.
Um ano depois, o Monaco desembolsou os 45 milhões de euros da multa rescisória e tirou James Rodríguez do Porto. Na primeira temporada, o colombiano foi o recordista de assistências do Campeonato Francês (13). Também anotou nove gols e foi incluído no time ideal da competição.
Estilo de jogo gera comparações
Alguns colombianos se referem a James Rodríguez como "novo Pibe", alusão a Carlos Valderrama, icônico camisa 10 dos Cafeteros até a década de 1990. O jornalista Gabriel Meluk não concorda: "Valderrama era um jogador de posse de bola e jogo horizontal. James tem toques rápidos e verticais, e por isso já fez três gols. Se você deseja alguma comparação, pense no Kaká do início da carreira".
Quando James Rodríguez estava no Banfield, a comparação mais comum na Argentina era com outro jogador: pela habilidade e pelas arrancadas, ele chegou a ser chamado de "o novo Cristiano Ronaldo".
O ex-jogador Álvaro Nuñez, que foi companheiro do pai de James Rodríguez na base da seleção colombiana, acha que o camisa 10 se parece com outra pessoa. "Apesar de o pai ser destro, eles têm estilo muito similar". O meia que está disputando a Copa nunca viu o progenitor em campo.
Engenharia, música e um vídeo polêmico
A vida pessoal de James Rodríguez também é precoce: ele é casado com Daniela Ospina Ramírez, que é irmã de Ospina, goleiro titular da seleção da Colômbia. A primeira filha do casal, Salomé, nasceu quando o meia tinha apenas 21 anos.
James Rodríguez tatuou no antebraço o nome da filha. Depois disso, passou a comemorar gols beijando a região.
A família, contudo, não é a única paixão do camisa 10 da Colômbia. Ele também é muito fã de salsa, apesar de não saber dançar. Em 2013, o jogador se matriculou no curso de engenharia de sistemas na Universidade Nacional Aberta e à Distância do país sul-americano.
Fora de campo, a cena mais famosa de James Rodríguez aconteceu quando ele ainda era jogador do Banfield. Em uma entrevista a um programa de TV, o jogador colombiano se complicou, gaguejou feio e repetiu uma série de palavras nas respostas.
Se a comparação considerar apenas a desenvoltura na frente das câmeras, James Rodríguez não tem nada a ver com Neymar, Cristiano Ronaldo ou Kaká. Para sorte da Colômbia, a desenvoltura que mais interessa à seleção é a que ele tem entregado com maestria em 2014.