Copa do Mundo breca turistas da neve na cidade mais fria do Brasil
Bruno Freitas
Do UOL, em São Joaquim (SC)
Enquanto seleções e torcedores europeus derretem em jogos do Rio de Janeiro para cima, o país da Copa também experimenta temperaturas negativas neste mês de junho. Famoso destino de quem quer ver neve no Brasil nos últimos anos, a serra de Santa Catarina já vive dias de frio intenso, mas o fluxo habitual de turistas ainda não decolou. E a culpa parece ser justamente do Mundial da Fifa.
Santa Catarina ficou fora do rol de sedes da Copa e também não recebeu a preparação de nenhuma das 32 seleções do torneio. Assim, com alguma distância da festa do futebol, a zona gelada espera algumas semanas até a bola parar.
São Joaquim tem sido contemplada pela neve nos últimos anos e disputa a reputação de cidade mais fria do Brasil com outras localidades catarinenses, como Urupema. Estima-se que pelo menos 100 mil pessoas de todo país tenham passado pelo município nas últimas temporadas de inverno. Mas em 2014, a romaria em busca do gelo deve engrenar somente depois da Copa.
"Se atrapalhou a Copa? Com certeza um pouquinho. Porque no ano passado, no mês de junho, nós já estávamos com a cidade, de segunda a segunda, lotada", diz Caroline Tomaz Carvalho, diretora de turismo e eventos de São Joaquim.
"No ano passado nós estávamos com muitos turistas já no mês de junho, porque o nosso frio começou em maio. Então este ano, por causa da Copa, muitos estão vendo em casa, outros estão viajando", acrescenta a representante da prefeitura.
Mesmo impactado pela Copa, o turismo do frio em São Joaquim viveu as primeiras horas de corrida serra acima na última semana, com a noite mais fria do ano. Diante da possibilidade de neve apontada por meteorologistas, catarinenses de outras regiões viajaram às pressas na quarta-feira passada para tentar testemunhar a queda dos flocos de gelo do céu. Mas, apesar da temperatura -7° na madrugada da região, a manhã veio apenas com gramados e carros cobertos pela geada.
"Sempre que tem expectativa de neve, a gente vem para cá à procura dela. E dessa vez não foi diferente. A meteorologia falou que talvez tivesse neve, e a gente correu para a serra. Já que era feriado, aproveitamos a oportunidade e estamos aqui", afirmou Patrick Binhoti, coordenador de vendas, de Florianópolis.
"Eu estava indo do trabalho para casa, aí eu vi uma expectativa de neve e tal e disse: vamos", relata Roberta Melo, advogada de Balneário Camboriú, que viajou ao lado do marido Antônio Silva.
Os visitantes de São Joaquim se esbaldam no conhecido estilo de vida do pacote do frio, com jantares de fondue e vinho e passeios com aquelas roupas vistosas que quase nunca saem do armário. E pela televisão, seguem de olho na Copa, impressionados com o contraste brasileiro de calor excessivo nas sedes do Norte e Nordeste. Aí salta à imaginação: suíços, russos e companhia poderiam jogar por aqui, não?
"Com certeza, era uma grande oportunidade de ter jogos por aqui, porque ficaria mais de acordo com a realidade que eles estão acostumados a viver. Eles indo para o Nordeste, devem sofrer bastante", opina Patrick Binhoti, de Florianópolis.
"Eu estava comentando isso com a minha esposa. Não lembro qual era o jogo, mas eles estavam suando bastante, era em Manaus, muito quente. Tem outros jogando em Porto Alegre, que esse frio veio do Rio Grande do Sul agora. Com certeza seria mais agradável para os europeus estarem jogando nesse friozinho", reflete Antonio Silva, empresário de Balneário Camboriú.
Mas mesmo sem as estrelas do futebol por perto, um clima de Copa inspira a meta do turista que vem a São Joaquim. Caso o céu ajude, vale comemorar como se fosse um gol.
"Se tiver neve aqui, é uma comemoração, é um gol que a gente faz", brinca Alexandre Murilo, de São Carlos, funcionário do ministério da Fazenda.
Chance é o que não falta. Na temporada de frio de 2013, mais de cem cidades catarinenses registraram neve, e São Joaquim foi uma localidades das mais contempladas. A expectativa é que os flocos que encantam os turistas apareçam em julho e agosto.