Vira-casaca assumido! Brasileiro até chora pela Alemanha no interior gaúcho
Bruno Freitas
Do UOL, em Teutônia (RS)
Um brasileiro prende a respiração quando Muller, Ozil e companhia pisam em campo com a camisa da seleção alemã. Volnei Elson Thomé da Cruz mudou toda a rotina em razão da paixão pelo país do Bayern de Munique e da cerveja e já sofre na Copa com o sonho da tetra na cabeça. Gaúcho de Pejuçara, o fanático de 32 anos buscou um pedacinho da Alemanha no Rio Grande do Sul para cumprir seu projeto de vida como torcedor.
Um torcedor que assumiu a Alemanha para torcer desde 1998, completando agora cinco Copas vestido de branco e preto. Um fã que chorou copiosamente com a derrota da seleção de Oliver Kahn para o time de Ronaldo em 2002. Por esse conceito de vida, Volnei se instalou há três anos em Teutônia, quase 300 km distante de sua cidade natal.
Como o nome pode sugerir, Teutônia abriga uma das comunidades alemãs mais engajagas do país. Junto com a vizinha Westfália, forma um pedaço do país europeu em território do Rio Grande do Sul. O munícipio tem apenas 33 anos, mas a região se orgulha da imigração iniciada em 1858.
A simpática localidade se esforça para preservar costumes, como os cantos típicos exercidos pelos 42 grupos de coros locais. Parte dos moradores também domina o dialeto Hunsrück, enquanto que o alemão é ensinado a crianças em escolas da cidade. No dial da Rádio Popular, um programa no idioma faz sucesso sob o comando da carismática octogenária Wautrade Wartschow. Tudo isso faz o fanático torcedor se sentir em casa.
"Na verdade eu tenho descendência pela minha mãe, da antiga Prússia [reino que deu origem à nação alemã]. Por ser uma cultura nossa, da família dela, as últimas cinco Copas, com essa, torcer para a Alemanha, sempre, do primeiro ao último jogo", explica o rapaz de 32 anos, profissional de automação industrial.
A obstinação de Volnei para se aproximar da cultura alemã envolveu estudo do idioma em madrugadas e em folgas durante o trabalho. Hoje, o torcedor dos tricampeões mundiais até vive um relacionamento feliz com uma descendente, de Teutônia.
Volnei não se incomoda com as brincadeiras no trabalho e torce sem peso na consciência para a Alemanha. Inclusive, aguarda que nas próximas semanas Klose supere Ronaldo como maior artilheiro nas Copas. Nem mesmo uma projeção de duelo entre as duas seleções abala a escolha do gaúcho. Pelo contrário – a esperança é que o time de Neuer e Muller se vingue da final perdida em 2002.
"Quando eu vi o Brasil ganhar da Alemanha, de 2 a 0, foi uma vitória expressiva. A gente chorou muito lá em casa. A gente ficou na sala, todos de mãos dadas no sofá. De repente a gente viu 2 a 0, não tinha como recuperar. Na época o Brasil tinha uma diferença em títulos, e eu pensava: poxa, é justo nós ganharmos essa. Mas não deu", relembra.
Na última segunda-feira, a reportagem do UOL acompanhou a estreia da Alemanha na Copa no sofá ao lado ao de Volnei, em sua casa em Teutônia. Mesmo com a facilidade de jogo imposta sobre Portugal de Cristiano Ronaldo, o brasileiro sofreu bastante. No intervalo, ligou para a irmã para comemorar a vantagem parcial no placar e já discutiu as chances de classificação.
"Eu sofro, tento não roer as unhas, eu fico com as mãos geladas, eu tremo, eu fico tenso. Digamos que eu preciso de uma massagem pós-jogo de tão tenso que eu fico", descreve.
"Eu mudei toda uma história em razão da Alemanha. Eu mudei de cidade, eu mudei de cultura para se aproximar cada vez mais da Alemanha, pela minha paixão pela Alemanha. Eu acredito que não tenha alguém mais fanático do que eu", acrescenta o admirador dos tricampeões mundiais.