Colombianos viajam de jipe e vendem café por sonho de ver a Copa no Brasil
Guilherme Costa
Do UOL, em Cuiabá (MT)
Foram dois anos para formatar a ideia e mais de 40 dias de viagem até chegar ao Brasil. Tudo isso em jipes que não são os carros mais confortáveis do mundo e que não passam de 60 quilômetros por hora. Um grupo de sete colombianos (seis homens e uma mulher) e três carros virou atração em um dos pontos mais movimentados de Cuiabá. Depois de terem passado por Equador, Peru e Bolívia, eles vendem café para tentar bancar o sonho de ficar no país até o fim da Copa do Mundo.
"Saímos da Colômbia no dia 1º de maio. Até agora, nós nos sustentamos com venda de café e de broches do nosso país. Além disso, fazemos apresentações com os jipes girando em apenas duas rodas", relatou Leonardo Ramirez Quevedo.
A comitiva foi montada a partir de uma ideia do agricultor Carlos Arturo Velandia Quiroga. A maior parte do grupo é formada por gente que trabalha com café (alguns com plantio, outros como baristas), e a viagem até o Brasil já custou US$ 1 mil (R$ 2,2 mil) por pessoa. Segundo o cálculo dele, outros US$ 2 mil (R$ 4,4 mil) são necessários para custear a viagem de cada um até o fim.
"Nós somos todos apaixonados por café. Não vamos ter lucro nessa viagem, e todos os elementos que nós escolhemos, como os carros e os produtos que nós vendemos, fazem parte da cultura colombiana. Até o show com o jipe é algo comum no nosso país. Quisemos combater a falsa ideia de que a Colômbia é apenas narcotráfico", contou Leonardo Mercado, outro integrante da comitiva.
Os cafés são tirados de uma máquina que tem o formato da frente de um jipe. Durante o dia, o grupo usa os capôs para espalhar os grãos a fim de secá-los. Os shows com os carros ainda não foram feitos no Brasil porque dependem de autorização do poder público local.
"Disseram que temos de conversar com a prefeitura, mas espero que autorizem. Queremos fazer essa apresentação perto do estádio no dia do jogo contra o Japão [24 de junho] porque essa seria uma forma de reunir a torcida da Colômbia", completou Mercado.
Durante a viagem, um dos maiores desafios do grupo foi a variação climática. Eles passaram por baixas temperaturas na Cordilheira dos Andes e chegaram até Cuiabá, que tem média acima dos 30ºC nesta época do ano. Os jipes não têm boa proteção para nenhuma das condições extremas.
"Essa adaptação foi difícil, mas estamos nos virando. Temos conseguido dinheiro para bancar nossa hospedagem e uma viagem que vai ficar marcada para todos nós", disse Mercado. "Por ser na América do Sul e por tudo que a Colômbia já fez, a Copa já é especial para o povo do país. Tem sido um sonho", completou.
Em Cuiabá, até o visual inusitado dos jipes tem sido fonte de renda para o grupo. Eles colocaram placas sobre os carros pedindo colaborações para as pessoas que tiverem interesse de tirar fotos.
A ação do grupo deve-se a uma preocupação extra: além da subsistência, eles ainda precisam de ingressos para o jogo contra o Japão na Arena Pantanal. "Ganhamos um ontem [sábado] de um rapaz aqui de Cuiabá, mas ainda não sabemos o que fazer por mais entradas. Falamos com autoridades e até com a Fifa quando saímos da Colômbia para que nos ajudassem a comprar os bilhetes, mas ninguém nos ouviu. Agora, esperamos aparecer e chamar atenção para que alguém nos dê mais", afirmou Mercado.