Lateral de Camarões já falou que não liga para futebol e só joga pela grana

Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

A honestidade é considerada uma das maiores virtudes, mas, em excesso, é capaz de trazer problemas. Polêmicas não faltam na carreira do lateral camaronês Benoit Assou-Ekotto, que ficou conhecido nesta Copa após agredir com uma cabeçada o companheiro de equipe Moukandjo na partida de sua seleção diante da Croácia.

Muito antes do golpe dirigido ao colega de equipe, Ekotto – ou Benni, como é conhecido pelos torcedores do Tottenham, clube que defende desde de 2006 (passou a última temporada emprestado ao Queens Park Rangers) – ganhou fama na Inglaterra por seu comportamento fora de campo. O lateral costuma causar estrago com as palavras, sendo brutalmente honesto ao expor opiniões e verdades de forma incomum para um jogador de futebol.

Amor à camisa, atletas que beijam o escudo de seus clubes ou se dizem torcedores desde que eram crianças são coisas que Ekotto despreza. Em várias entrevistas a veículos de mídia britânicos em 2010, admitiu, sem nenhuma cerimônia, que joga futebol apenas por dinheiro.

"Se eu jogo bola com meus amigos, posso amar futebol. Mas por que vim para a Inglaterra, sem conhecer ninguém e sem falar inglês? É um emprego" disse. "Não sei porque todos mentem. Quando você aceita um emprego, é pelo dinheiro. Todo jogador é assim. E se você beija a camisa, diz que é um sonho, e sai seis meses depois? Não entendo quem fica chocado quando digo que jogo por dinheiro. Futebol não é minha paixão", disse ao jornal The Guardian.

Assim como sua paixão por futebol, seus amigos de verdade estão fora do futebol. Benni não tem nenhum pudor em admitir que não tem amigos de verdade no trabalho, e ainda vai além: não acredita em amizades no futebol.

"Chego ao CT às 10h30 e começo a ser profissional. Termino às 13h, e não jogo mais futebol. Sou como um turista em Londres: eu ando pela cidade, eu como", contou. "Não tenho problema com ninguém, mas não tenho o telefone de jogadores. Não ligo para meus companheiros de time. Não acredito em amizades no futebol".

A honestidade na relação fria e profissional com o futebol não é a única posição polêmica de Ekotto. Filho de um pai camaronês, o lateral esquerdo nasceu e cresceu na França, mas optou por atuar por Camarões. A resposta é bem direta.

"Não tenho nenhum sentimento pela seleção francesa. Não existe" disse. "A França, em seu coração, tem um problema, e tem sido incapaz, ou simplesmente desinteressada em adotar os filhos de suas ex-colônias. É difícil aceitar, e é essa a base de tudo o que é disfuncional na sociedade francesa", explicou.

E para a cabeçada em Moukandjo, qual seria a explicação? Problemas pessoais? Frustração pela eliminação no Mundial, ou algum xingamento do companheiro? É bem mais simples, até chocante, mas o lateral conta sem meias palavras, um episódio comum em qualquer pelada.

EFE/EPA/JEON HEON-KYUN

"Começou no primeiro jogo, contra o México. O Moukandjo tentou driblar dois jogadores, perdeu a bola e eu disse que deveria ter passado para mim. Ele concordou", explica. "A mesma coisa aconteceu no jogo contra a Croácia. Tudo bem, todo mundo pode errar. Mas eu fui reclamar e ele me mandou sair do pé dele. Não podia aceitar a reação dele, se estivesse 0 a 0, não teria acontecido", disse ao jornal francês L'Equipe.

A vida de Ekotto, entretanto, não é feita só de polêmicas. O jogador faz questão de manter os pés no chão, e viver como um cidadão inglês comum. Em sua garagem, possui cinco carros de luxo, mas, quando dirige, utiliza um pequeno veículo do modelo Smart. Normalmente, anda de metrô – possui o cartão, espécie de Bilhete Único inglês.

A outros projetos, direciona a paixão que não sente pelo futebol: é embaixador da ONU contra a pobreza na África, mantém uma equipe Sub-12 para crianças carentes na Inglaterra e pretende, ao se aposentar, ser presidente de uma organização de caridade no seu país de origem.

Por tudo isso, Ekotto, mesmo sabendo que sua participação na Copa de 2014 se encerra após a partida, será profissional e estará em campo contra o Brasil nesta segunda. Depois, a vida segue, no Tottenham, no metrô de Londres, e nos projetos de caridade. O próprio jogador, afinal, disse ao site Goal.com em 2011 que "existem coisas mais importantes do que chutar uma bola".

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