O Brasil recebe os melhores do mundo. Mas eles vêm aqui voar de balão
Bruno Freitas
Do UOL, em Rio Claro (SP)
Você sabe, claro - os melhores do planeta vêm ao Brasil tentar erguer o troféu de campeão mundial em julho. O que você provavelmente não sabe é que tem gente que vai fazer isso voando de balão. A Copa passou por cima do calendário esportivo de 2014 no país, mas o balonismo não se importou. A poucos dias do torneio da Fifa, o campeonato nacional da modalidade agitou os céus de Rio Claro, turbinado por competidores estrangeiros. E no próximo mês será a vez do Mundial, mais uma vez na cidade do interior paulista.
Apenas quatro dias depois da apoteose da Copa agendada para o Maracanã, na grande final, mais um título mundial estará em jogo em solo brasileiro. De 17 a 27 de julho, Rio Claro recebe os ases dos balões, em evento que carrega uma expectativa de público ousada para a modalidade – mas modesta se comparada ao padrão Fifa.
"A estratégia já vem sendo implementada e a gente espera 30 mil pessoas por dia acompanhando o balonismo", afirmou Edson Romagnoli, presidente da Confederação Brasileira de Balonismo, sobre a expectativa para o Mundial de julho.
Mas nem todo mundo comunga desta fé. Duas vezes campeão nacional, o experiente piloto Rui Kalousdian se divertiu no ar, mas não disfarçou a frustração com a frequência de fãs do Brasileiro encerrado no último domingo: "a questão de divulgação, pela CBB ou o que seja… você viu algum outdoor aí? Hoje é sábado, não tem ninguém aí".
Na verdade, a organização da Prefeitura de Rio Claro trabalhou com afinco a divulgação do evento, mas o esforço principal virá antes do Mundial. Uma demonstração de que a modalidade tem seu potencial de público se deu na noite do último sábado. Se horas antes pouca gente acompanhou as sessões competitivas do 27º Brasileiro, quando a luz natural caiu muitos curiosos se aglomeraram no Aeroclube de Rio Claro para ver a exibição de fogo dos balões, com eles no chão. Aí, ao som de rock'n'roll, o evento bônus conferiu uma dose de espetáculo à disputa dos ares.
Para o Mundial de julho, depois da Copa, são esperados mais de cem balões, com repersentantes de 30 países. O evento acontece pela primeira vez na América Latina. No último final de semana, quatro equipes dos Estados Unidos se infiltraram na disputa do Brasileiro para ganhar experiência, visando o próximo mês. O veterano Gary Heavin, com 32 anos de experiência, disse que aprendeu principalmente sobre o voo sobre campos de cana-de-açúcar e com os truques do vento local.
"Nos Estados Unidos nós diriamos que o Brasil está perseguindo o anel de ouro. E se você não tenta chegar ao máximo que pode, você não sai do lugar. Portanto, se você ir atrás das estrelas, o mínimo que pode conseguir será alcançar a lua. Eu tenho muito orgulho do Brasil. Então, parabéns", declarou Heavin sobre o país que concentrará nas próximas semanas os mundiais de futebol e balonismo.
COPA SACRIFICA CALENDÁRIO DE ESPORTE E NEGÓCIO
A já esperada onipresença da Copa dividiu em dois o calendário de eventos esportivos no país, ou adiantando tudo até o fim de maio, ou então empurrando eles para agosto em diante.
Da mesma forma, o calendário de feiras e eventos também foi impactado bruscamente pelo gigantismo da Copa. O turismo de negócios acusou o golpe já no final de maio. Três semanas antes do Mundial da Fifa as grandes capitais já registravam baixas incomuns de frequência, com ocupação decepcionante da rede hoteleira, mesmo entre as sedes do Mundial.
O medo de preços altos, multidão e caos logístico também afugentou os turistas habituais, aqueles sem ingresso para a Copa, que necessariamente não estão vidrados no evento da Fifa. Três semanas antes do Mundial, apenas 26,5% das passagens aéreas para as sedes no período do torneio haviam sido vendidas, segundo informação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Antes do início de junho, ainda 45% dos quartos de hoteis nas sedes estavam vazios para a Copa, em informação do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb), reproduzida pelo site da BBC.
Mas o país certamente voltará à normalidade após a paralisação que a Copa promete impor. E nada com mais estilo do que dar um tempo no futebol através de balões cruzando os céus. Assim, no embalo da final da Fifa, Rio Claro quer reivindicar seu breve instante de Maracanã, apenas quatro dias após o desfecho da febre de bola.