Seleção vive 'déjà vu' em cenário da virada da nova era Scolari
Gustavo Franceschini e Pedro Ivo Almeida
Do UOL, em Fortaleza
O mesmo adversário, o mesmo palco, na mesma rodada. Nesta terça-feira, o Brasil entra em campo com uma sensação de dèjá vu. Há um ano, Neymar e companhia enfrentavam o México, pela segunda rodada da Copa das Confederações, em Fortaleza. Agora, farão o mesmo pela Copa do Mundo, relembrando o jogo onde tudo começou.
Foi no Castelão que, há um ano, a seleção começou a entrar em comunhão com a torcida. Quando o Hino Nacional deixou de ser tocado nos alto-falantes do estádio, 57 mil pessoas cantaram a plenos pulmões o primeiro trecho da música à capela, emocionando os jogadores.
"Fiquei surpreso com aquela recepção toda. Na hora do Hino você escuta as pessoas cantando da forma que foi. Agora, se tratando de Copa, é outra situação", disse Thiago Silva, capitão do time.
A festa não era inédita. Historicamente se canta o hino assim em jogos de vôlei, por exemplo, e outros países ja usaram o mesmo expediente com suas seleções. Essa geração, por exemplo, ouviu a canção dessa forma pela primeira vez em 2011, em Belém, no Superclássico das Américas contra a Argentina. Foi em Fortaleza, porém, que isso se transformou em uma marca. Dali em diante, o espetáculo se repetiu por onde o Brasil passou e foi arma até contra o experiente time da Espanha, que sucumbiu no Maracanã com um 3 a 0 inapelável.
A comunhão, é verdade, não começou no estádio. Nos dias que antecederam a partida, o Brasil criou uma febre em Fortaleza e foi acompanhada por todos os lugares. Em um treino no estádio Presidente Vargas, por exemplo, Felipão e a comissão técnica se viram obrigados a abrir os portões para a entrada de uma multidão de 4,5 mil pessoas.
O apoio foi importante porque o jogo dentro de campo também foi um marco. A despeito de todo o peso de uma estreia, o 3 a 0 contra o Japão não representou exatamente um desafio para a seleção na primeira rodada. Foi contra o México, em Fortaleza, que a seleção começou a se testar de verdade em uma competição oficial.
"Não tenho a estatística do confronto, mas me parece que é muito equilibrado. Os dois times devem ter um posicionamento correto do início ao fim. Lembrem-se que no ano passado o segundo gol foi feito aos 40 minutos do segundo tempo. As duas equipes jogam futebol de muita qualidade", relembrou Luiz Felipe Scolari.
A vitória com dificuldade não chegou a ser ofuscada, mas dividiu o noticiário com outro acontecimento marcante da Copa das Confederações. Foi em Fortaleza que as manifestações que já tomavam o país atingiram de vez a atmosfera que envolvia a seleção brasileira. No dia do jogo contra o México, cerca de 40 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar, foram às ruas da capital cearense.
O protesto, que tentava chegar na porta do Castelão, parou na barreira policial. Uma construção vizinha ao confronto virou cenário de guerra, com tijolos e pedras sendo atirados nos oficiais, que devolviam com bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha. "Quebraram o vidro de uma máquina, bagunçaram tudo, mexeram nos materiais, mas não atrasou a obra", explicou Josino da Costa, encarregado da obra, que o UOL Esporte visitou na última segunda.
A dona do posto de gasolina que serviu de concentração para o protesto não teve a mesma sorte. "Ela teve de gastar uns R$ 7 mil. Quebraram todas as geladeiras, invadiram a dispensa e destruíram duas bombas de combustível", explica Josimar Pessoa, gerente do estabelecimento, um ano depois do ocorrido. O quebra-quebra fez a Fifa cogitar cancelar a Copa das Confederações, tamanha a repercussão que o protesto teve.
Em 2014, não se imagina que isso possa acontecer de novo – embora a dona do posto em questão tenha encomendado tapumes por precaução. Da mesma forma, será mais difícil para a torcida brasileira repetir a festa do ano passado na mesma intensidade.
Se há um ano os mexicanos eram coadjuvantes em Fortaleza, desta vez eles têm um papel maior. Espalhados pela cidade desde o fim de semana e demonstrando grande empolgação nas ruas e praias, pouco mais de 13 mil torcedores da seleção mexicana devem estar no estádio para o jogo.
Além de dominarem alguns voos que chegavam à capital cearense nos últimos dias, os animados mexicanos desembarcaram em dois grandes transatlânticos – um no domingo e outro na segunda-feira - que traziam mais de quatro mil torcedores.
Brasil e México se enfrentam a partir das 16h (horário de Brasília). O jogo terá acompanhamento em Tempo Real pelo Placar UOL Esporte.