Felipão encontra rival à altura no quesito show: o técnico do México
José Ricardo Leite e Paulo Passos
Do UOL, em Fortaleza (CE)
A busca de proximidade com a torcida é uma das marcas de Luiz Felipe Scolari como técnico de futebol. Nada de paletós e sapatos finos. Sempre agasalhos e bonés dos clubes ou da seleção que comanda. Comemorações efusivas, discursos de apelo emocional e caras e bocas como se fosse um artista do cinema mudo ou um performático dos palcos. Só que o gaúcho vai se deparar na tarde desta terça-feira, a poucos metros de distância, com alguém que consegue igualá-lo nesse show.
Miguel Herrera, 46 anos, tem muito em comum com Felipão. Assim como o brasileiro, pegou uma seleção em cacos e conseguiu resgatar a confiança. Tirou o México do buraco e de uma eliminação precoce no torneio classificatório da América do Norte e Central, nos últimos jogos, passou à repescagem e classificou o time. E tudo isso com muito abraço, caras e bocas.
As comemorações do mexicano são mais espalhafatosas. Uma delas até virou hit na web local quando comandava o América. Ele começou a se bater loucamente, todo molhado, chacoalhando a cabeça de um lado para o outro.
Se em seu país Herrera não é uma estrela de comerciais como Felipão, ele dá o troco com sobras mas redes sociais. Enquanto o brasileiro não tem e se recusar participar, Herrera abusa das redes e interage com os fãs como se fosse um anônimo. Por lá, assume o papel de turista com fotos íntimas da família, cozinhando e até vestido de Papai Noel.
Já ousou e chegou a pedir aos fãs que mandassem sugestões de convocados para um jogo da seleção. Tenta não deixar nenhum fã sem resposta e, mesmo quando criticado, responde para os internautas. Abusa do famoso "selfie" em suas fotos. Em seu perfil no Twitter, são várias.
Herrera se comporta como um tiete pelas fotos que coloca. É só encontrar uma celebridade que faz pose, para em breve contar o ocorrido na rede social. Até o mascote Fuleco já foi um dos alvos do seus selfies.
Scolari, apesar de querer o apoio do público, procura ficar mais nas concentrações durante as grandes competições e evita o corpo a corpo com os torcedores pelo imenso assédio que sofre. Já tentou caminhar em momentos importantes, mas não teve sossego e agora deixa a relação com os brasileiros para o estádio por meio de gestos e declarações diárias.
"Tivemos algo que estávamos esperando para ver. Vocês viram a reação da torcida com os jogadores na estreia. Em grupo, torcida com jogadores. Eles (torcedores) foram excelentes. Reagem e reagem bem quando precisamos", afirmou na véspera do jogo contra o México.
Miguel Herrera é mais ousado não mede consequências no contato pessoal. Na segunda-feira, saiu pelas ruas foi cumprimentar os vários mexicanos que estavam na frente do hotel Luzeiros. Gesticulava para todos e balançava a bandeira, algo impensável para Scolari nesta Copa.
"É muito bom poder estar perto das pessoas e dos fãs. Eles têm que perceber que nós não somos intocáveis. Gosto de conversar com as pessoas", falou o mexicano.
Scolari procura colocar limites na exposição não só de sua vida, mas também na de sua família, tanto que os mantêm afastados do ambiente do futebol. Já Herrera trouxe sua família ao Brasil. A filha chegou a discutir com torcedores pelo Twitter depois de uma derrota nos jogos preparatórios.
Se Scolari ganhou o apelido de Felipão para maior proximidade com o público, o mexicano tem um apelido mais diferente: "El Piojo", que significa "piolho", bicho que fica nos cabelos. A comparação é por ser um baixinho que não para um minuto sequer.
Relação com jogadores
Na relação com atletas, os dois têm a similaridade de terem muita proximidade e uma relação passional com seus jogadores. De modo parecido com Scolari, Herrera gosta de acolher jogadores teoricamente perseguidos e bancá-los, mesmo que sejam contra a opinião pública.
É o caso do defensor Francisco Rodriguez. Sua má fase o fez até ser transferido de clube, deixando o América, onde era perseguido pela torcida, para o rival Cruz Azul. Ainda assim é um dos homens de confiança de Herrera, que é bancado por ele.
Outro caso é o pedido do povo mexicano para que Chicharito Hernandez, do Manchester United, seja titular. Principal estrela do time, foi colocado no banco pelo técnico. E, assim como Felipão, Herrera não liga pra apelos. "Respeito as pessoas que querem Hernandez, mas me parece que os 11 que estou escalando estão em melhores condições no momento pelo que vimos no jogo contra Camarões", falou na segunda-feira.