Suspense, atraso, tensão... Médico da seleção assusta mesmo sem cortes

Gustavo Franceschini, Paulo Passos e Ricardo Perrone

Do UOL, em Teresópolis (Rio de Janeiro)

Atraso de 20 minutos, sala lotada com jornalistas impacientes e tensos. Não é Neymar para falar do próximo rival ou Felipão para responder sobre as suas opções. No começo da preparação para a Copa do Mundo, as estrelas são os membros do departamento médico da seleção, mais precisamente o chefe dele, José Luiz Runco. Com ironia, alguma acidez com a imprensa e uma convicção preparada, coube ao doutor da comissão técnica afastar os boatos sobre um possível corte.

A entrevista durou cerca de uma hora, mas na primeira resposta Runco disse que todos estavam 100%. Em boa parte do resto do tempo, teve de explicar que Júlio César, Maicon, Oscar e Neymar também estão 100%, como se eles não fizessem parte do "todos". "Soube que cortaram Maicon, Oscar e Jô. Espetacular", disse Runco, cheio de ironia logo que ouviu o questionamento.

A insistência pode cansar o médico, mas não se pode dizer que ele não tenha certa parcela de culpa. Runco vai para a sua quarta Copa na seleção e conviveu com vários problemas ao longo desses Mundiais. Como praxe, costuma adotar um discurso otimista que muitas vezes tromba com a realidade. Em 2010, isso foi levado ao extremo.

No contexto de clausura e conflito com a imprensa criado por Dunga, Runco minimizou a lesão de Kaká e chegou a negar um problema com Elano. O primeiro operou o púbis semanas após a Copa e passou quase um ano longe dos gramados, enquanto o último não jogou na eliminação contra a Holanda por conta de uma lesão no tornozelo esquerdo.

Dessa vez, o burburinho começou antes da Copa. Depois de uma temporada europeia desgastante, em que jogadores como Neymar, Oscar e Marcelo conviveram com lesões, havia o temor de um corte no início da preparação. Os médicos eram aguardados com o resultado positivo dos exames na última terça, mas a comunicação da CBF mudou os planos e escalou os três goleiros para a primeira entrevista coletiva.

A ansiedade só aumentou com a divulgação de notícias de que alguém estava prestes a ser cortado. Oscar, na manhã desta quarta, teve de negar as especulações em um vídeo. O resultado de tudo isso? Uma entrevista coletiva concorrida.

Como foi a hora do show
Runco chegou acompanhado do fisiologista Emerson Garcia, do cardiologista Serafim Borges e do preparador físico Paulo Paixão. Chefe do grupo, o médico tomou para si a missão de apresentar os colegas de comissão técnica, que normalmente caberiam ao assessor de imprensa Rodrigo Paiva.

Com desenvoltura, explicou os exames feitos ao longo dos últimos dois dias, acionou os companheiros na hora certa e abriu para as perguntas. Com o microfone nas mãos, os jornalistas por vezes transformavam dúvidas em projeções pessimistas. "Alguém será poupado dos treinos? E dos amistosos? Quem não está bem?", diria a imprensa se tivesse uma única voz.

"No momento todos encontram-se em perfeitas condições, evidentemente com necessidade de alguns reparos", era o que dizia Runco, em linhas gerais, para todas as questões. "Se algum atleta não for visto no grupo não significa que está machucado. Pode estar fazendo trabalho específico de musculação. Quando tiver alguém machucado, vamos estar aqui ou avisar via assessoria", completou, prometendo transparência.

Só que as dúvidas se acumulavam. "Gente, eu estou vendo muita gente levantando a mão. Fiquem calmos que vai dar para atender quase todo mundo", avisou Rodrigo Paiva. Foi a senha. Em uma cobertura da seleção brasileira, repórteres têm muita necessidade de produzir conteúdo e pouco contato com seus entrevistados. Uma chance como essa, portanto, era de ouro.

O quarteto do departamento médico respondeu sobre psicologia, recuperação rápida de jogadores durante a competição, calendário europeu e formas de treinamento. "Sei que o tema é interessantíssimo, mas estamos no fim, gente. Vamos para as últimas", avisou Rodrigo Paiva, não sem certa ironia.

Paulo Paixão também foi bastante acionado. Educado, o veterano preparador físico respondeu educadamente todos os "boa tarde" que recebeu e falou, pausadamente, sobre a parte que lhe cabia. Foi do resultado dos exames ao que a imprensa pode esperar do seu trabalho. Fim da coletiva e mais ironia.

"Queria agradecer aos senhores pelo seminário em medicina esportiva. Foi quase isso mesmo, ne? Uma hora", brincou Rodrigo Paiva, aparentando surpresa com o interesse da imprensa em um tema teoricamente árido. Uma hora não bastou.

Runco e Paixão, solícitos ainda ficaram mais cerca de 20 minutos atendendo a imprensa à boca pequena. Responderam, em geral, às mesmas perguntas, sempre com paciência. A meia hora do treino da tarde, finalmente, o fim das dúvidas. "Agora sou eu que estou tirando ele daqui, gente. Não dá mais", encerrou Rodrigo Paiva, depois da última rodada de questionamentos sobre a condição da seleção. 

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