CBF tentou cercar Granja com tapumes, mas parou na resistência dos vizinhos

Gustavo Franceschini, Luiza Oliveira e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, em Teresópolis (RJ)

Apoiados em uma grade de pouco mais de um metro de altura na manhã desta quarta-feira, seis moradores de um condomínio vizinho à Granja Comary acompanhavam de perto o primeiro treino com bola dos jogadores da seleção brasileira no período de preparação para a Copa do Mundo. A cena chega a ser comum para quem mora no local e divide o espaço com o centro de treinamento há mais de duas décadas, mas esteve perto de não ocorrer neste ano que o Brasil sedia o Mundial.

As casas em questão ficam dentro do condomínio em que está localizada a Granja Comary, são ocupadas por famílias de classe média alta e ficam atrás de um dos gols do principal campo do CT, justamente aquele que será usado por Neymar e companhia até a Copa do Mundo.

Durante as reuniões de planejamento para a utilização da Granja no período pré-Copa, o técnico Luiz Felipe Scolari revelou à diretoria da CBF e aos administradores do local que pretendia impedir que o treino da seleção fosse visto por quem está fora do terreno da confederação. A ideia era impedir que, durante os trabalhos da equipe, moradores de casas próximas reunissem parentes e amigos e criassem um clima de algazarra indesejado às vésperas do Mundial.

"A gente tinha pensado em levantar um tapume para fechar o campo para aquelas casas que têm lá. Pensamos num tapume de três metros de altura, mas aí os moradores pediram para não fazer e a gente deu esse voto de confiança", disse Felipão, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

O pedido foi feito, mas inicialmente não foi atendido pela CBF, que colocou os tapumes cerca de dez dias antes da apresentação da seleção. Só que a tranquilidade pretendida por Felipão ficou só na ideia. Revoltados com a perda da visão da paisagem do vasto local verde e, principalmente, com a chance de ver a seleção, os moradores do local protestaram.

A Granja Comary foi cedida pela tradicional família Guinle à CBF em 1987. O documento de cessão do terreno, que regulamenta os direitos e deveres da entidade no local, proíbe instalações de cercas de mais de 1,40m. Cinco moradores de diferentes casas do condomínio confirmaram à reportagem a decisão da CBF e o desconforto gerado pela situação.

"Do dia para a noite, eles colocaram tapumes de ponta a ponta na grade e fecharam a visão toda. Isso aqui parecia um presídio. E não podemos aceitar. Há um documento a ser respeitado. Os moradores pagaram caro aqui pela visão que sempre tiveram. Vamos manter tudo em ordem, não vai ter torcida aqui dentro, mas queríamos que respeitassem isso. Todo mundo reclamou muito, até que um senhor que costuma liderar as coisas daqui conversou com a Prefeitura e resolveu tudo. Há pouco mais de uma semana eles retiraram os tapumes", contou Roni da Silva, que trabalha como caseiro em uma das propriedades.

Pedro Ivo Almeida/UOL
Vista de condomínio vizinho à Granja foi liberada após reclamações

Procurada pela reportagem, a confederação minimizou o problema, contrariando a declaração de Felipão. A assessoria de imprensa da entidade informou que o tapume só foi colocado ao longo da grade que separa o centro de treinamento do condomínio por um erro de interpretação dos administradores da Granja, que não teria entendido a posição correta. Na versão da CBF, o tapume deveria ficar perpendicular à grade que separa o campo das casas em questão e a insatisfação dos vizinhos seria fruto de uma confusão.

Ainda de acordo com a assessoria da entidade, o próprio técnico Luiz Felipe Scolari teria observado o erro em uma visita há alguns dias. Ao contrário do que foi publicado na entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ele mesmo teria pedido para que os tapumes fosse retirados. Segundo a CBF, não houve qualquer problema com os condôminos.

A Prefeitura de Teresópolis desmentiu a confederação. Em resposta enviada por sua assessoria de imprensa à reportagem, o poder municipal confirmou o impasse entre condomínio e CBF, dizendo que houve uma reunião entre representantes dos moradores e da entidade, que se comprometeu a retirar os tapumes que driblavam o documento de cessão do terreno e impediam a visão.

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