De olho no cofre

Estádio mais caro da Copa queria selo verde. Não terá nem obras de entorno

Aiuri Rebello

Do UOL, em Brasília

Sete meses após inauguração, Mané Garrincha tem goteiras em cobertura

Apesar da comunicação oficial do governo do Distrito Federal afirmar que o estádio Mané Garrincha - o mais caro da Copa, construído a um custo até agora de R$ 1,4 bilhão -, "está 100% concluído", uma decisão da Justiça enterrou de vez qualquer esperança de que as obras no entorno da arena, estimadas em mais cerca de R$ 300 milhões, ficassem ao menos parcialmente prontas a tempo do Mundial.

Além disso, parte do projeto para reaproveitamento de água da chuva e a instalação de painéis para captação de energia solar, que credenciaria o estádio a buscar uma espécie de "selo verde" internacional de reconhecimento pela sustentabilidade, ainda não foram sequer iniciados e tampouco estarão prontos até a Copa, ao contrário do que afirmou o governo do DF ao UOL Esporte em janeiro.

No final de fevereiro, o TJ-DFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios) suspendeu o edital de licitação para as obras de reforma do entorno do estádio. O pedido foi feito pelo MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal e Territórios). Antes da decisão, tomada em caráter liminar e que ainda terá seu mérito julgado, a Secopa-DF (Secretaria Extraordinária para a Copa no Disitrito Federal) já admitia que o planejamento original de intervenções não seria cumprido a tempo. Afirmou que as obras seriam iniciadas e paralisadas durante a Copa, para serem retomadas após o Mundial. Há um ano, quando o UOL Esporte denunciou o abandono do Complexo Esportivo Ayrton Senna, onde fica o Mané Garrincha, o governo do DF já havia admitido que a recuperação completa da área só seria promovida após a Copa do Mundo, sem data definida.

O certame suspenso pela Justiça já tinha vencedor, o Consórcio Legado, formado pelas empresas Andrade Gutierrez e Via Engenharia -- as mesmas que construíram o estádio. De acordo com a Secopa-DF, a concorrência teve sete participantes e, na fase de análise das propostas, três empresas foram classificadas. A melhor oferta, de R$ 285.030.353,43, foi do Consórcio Legado. 

O valor corresponde a um pacote de obras: paisagismo, reurbanização e requalificação de vias no entorno do estádio, nos setores hoteleiros (anexos à área onde fica o estádio) e dois túneis nas imediações, um deles ligando o estacionamento do Mané Garrincha ao Centro de Convenções Ulysses Guimarães, ao lado de onde funcionará o Centro de Mídia da Fifa.

De acordo com o MPDFT, "promoveu-se um ajuntamento de obras distintas sob justificativas fugazes, sem avaliação da economicidade dessa escolha, elemento expressamente exigido na lei para o processamento de uma escolha desse jaez". O pedido de suspensão foi acatado pelo juiz Lisandro Garcia Gomes Filho, da 1ª Vara de Fazenda Pública. Agora, a Justiça vai decidir se cancela a licitação ou não.

Segundo a Secopa-DF, por meio de sua assessoria de imprensa, não se pode vincular este pacote aos preparativos para o Mundial, apesar dela mesma ter feito isso antes de desistir de entregá-lo a tempo. "A Novacap [ empresa estatal do DF que contratou a obra] prestou todos os esclarecimentos à Justiça na sexta-feira (07/03), solicitando a suspensão da liminar concedida pela 1ª Vara de Fazenda Pública do DF, que paralisou o processo", diz a resposta enviada ao UOL Esporte. De acordo com o governo as obras começam em 2014, mas não há data definida. 

Quando esta parte estiver concluída, o custo total do Mané Garrincha chegará a R$ 1,7 bilhão, no entendimento do TC-DF (Tribunal de Contas do Distrito Federal). Isso se não houver nenhum aditivo a mais. De acordo com reportagem da revista Veja Brasília nesta semana, ao longo da construção do estádio houve 47 aditivos não registrados no Diário Oficial, em um valor total de R$ 123 milhões. Assim, a conta chega a quase R$ 2 bilhões. Com o atual R$ 1,4 bilhão de custo, a arena já a mais cara dentre as 12 construídas para receber a Copa do Mundo.

'100% concluído'

Para o governo do DF, os itens de sustentabilidade nunca fizeram parte do "projeto Copa". "Eles são itens adicionais que credenciam o estádio para concorrer a uma importante certificação ambiental", diz a nota do DF. Assim, o governo reitera que o estádio está pronto, apesar de não estar, já que falta a instalação destes equipamentos. "O Mané Garrincha está 100% concluído para a realização da Copa. Do lado externo, os acessos mais próximos à arena receberão reforço de iluminação e melhorias asfálticas", diz o governo.

A um custo estimado de mais R$ 15 milhões, o sistema de captação e transmissão de energia solar do Mané Garrincha, de acordo com o governo do DF, "deve começar a gerar energia solar em 2014". Data de início das obras ou inauguração do sistema? Não tem.

Sobre a criação de um lago de contenção para a água da chuva e integração deste com as cisternas do estádio, o DF afirma que faz parte do pacote do entorno, suspenso pelo TJ-DFT. "O sistema de captação e armazenamento da água da chuva do Mané Garrincha, a primeira fase foi concluída com a inauguração do estádio, em maio de 2013, e está em pleno funcionamento desde o início do período de chuvas, no fim do ano passado. A água armazenada em quatro cisternas no interior da arena está sendo utilizada na limpeza de áreas internas, em sanitários e mictórios, e na irrigação do gramado", garante o governo.

A cobertura, construída a um custo de R$ 209 milhões e que apresentou goteiras generalizadas no final de dezembro do ano passado, conforme revelou o UOL Esporte, teria a capacidade de absorver poluentes da atmosfera.

"Hoje, nenhum estádio de futebol no mundo possui o selo Platinum", afirma o DF sobre a certificação ambiental que irá buscar quando terminar de vez o trabalho. Se depender do Mané Garrincha, ainda não há data para isso acontecer.

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