Estádio mais caro da Copa tem goteira. E vai custar R$ 15 mi a mais
Aiuri Rebello
Do UOL, em Brasília
O estádio Mané Garrincha, em Brasília, já é o mais caro dentre os 12 da Copa do Mundo. Custou até agora R$ 1,4 bilhão. Seu preço ficou ainda mais alto após o Governo do Distrito Federal anunciar, na semana passada, uma obra de R$ 15 milhões na cobertura da arena para instalar painéis de captação de energia solar. O curioso é que os painéis serão instalados mesmo sem que tenha sido feito o conserto das goteiras e vazamentos existentes por toda a estrutura de R$ 209 milhões, conforme mostrou o UOL Esporte em dezembro.
Para o governo do DF, apesar do que mostram as fotos e o vídeo feitos pela reportagem, "foi identificado vazamento pontual" na cobertura, que já estaria em processo de reparo. Inicialmente, a Secopa-DF (Secretaria Extraordinária para a Copa do Mundo no Distrito Federal) informava que o laudo técnico explicando a causa das goteiras, assim como a solução para elas elaborada pelo Consórcio Entap-Protende-Birdair, responsável pelo projeto e construção da cobertura, ficaria pronto apenas a partir desta semana, ou 30 dias após a publicação da reportagem do UOL Esporte que mostrava o problema.
Agora, depois de questionado pela reportagem sobre a contradição de anunciar e iniciar uma obra na cobertura sem saber ao certo o que será feito para solucionar as goteiras, diz que elas estarão remendadas em até 30 dias. "Não há qualquer relação entre este serviço e a previsão de instalação das placas fotovoltaicas na cobertura do estádio. Os trabalhos são realizados em locais totalmente distintos da cobertura". Apesar disso, o próprio governo afirma que os painéis solares irão cobrir 75% da área útil da estrutura.
Segundo o que foi publicado no Diário Oficial do DF no dia 8, a CEB (Companhia de Eletricidade de Brasília) lançará o edital de licitação para escolher a empresa para fazer o serviço até o início de fevereiro, e a obra estará concluída gerando energia solar já integrada à rede de distribuição da CEB até 15 de julho. O governo do DF prevê que o sistema de captação de energia solar será capaz de gerar energia para 60 mil casas por um ano.
O estádio Mané Garrincha está estimado até agora em R$ 1,7 bilhão, de acordo com o TC-DF (Tribunal de Contas do Distrito Federal) -- R$ 1,4 bilhão já gasto na arena e outros R$ 300 milhões em obras complementares e no entorno do local ainda não realizadas. Foi inaugurado há oito meses, em maio de 2013, mas nunca teve concluídas todas as etapas previstas inicialmente no projeto.
No final de maio, no máximo, a Fifa assume os 12 estádios oficiais nas cidades-sede da Copa, incluindo o Mané Garrincha, e devolve o controle das arenas aos donos apenas após o término do Mundial, no dia 13 de julho. Dessa maneira, o serviço de instalação dos painéis solares na cobertura deverá ser feito até lá. Se for considerado que o processo de licitação, lançado o edital, não tem como levar menos de um mês em uma previsão otimista, a empresa vencedora terá cerca de três meses para fazer o serviço na cobertura. Questionado se haverá realmente tempo hábil de instalar e ligar na rede o sistema de captação de energia solar, o governo do DF sustenta que sim.
Inacabado até hoje
Além dos problemas com goteiras e do sistema de captação de energia solar na cobertura previsto desde o início e que ainda não existe, faltam diversas obras complementares, dentro e fora da arena.
O governo do DF afirmou ao UOL Esporte que, antes da Copa, vai realizar obras de melhorias nos acessos ao estádio. A reportagem havia mostrado em dezembro que não há como os torcedores chegarem aos portões das arquibancadas por um caminho totalmente pavimentado, o que em dias de chuva é um transtorno para as pessoas. Apesar disso, até esta semana as obras de melhorias de acesso não haviam começado.
Além disso, apenas a primeira parte do sistema que capta a água da chuva para a reutilização está pronto. Cinco cisternas e a tubulação interna estão prontas. No entanto, a segunda etapa, que consiste na criação de um lago de contenção integrado ao sistema de cisternas ainda está em fase de licitação e será executada somente com o projeto de urbanização do entorno da arena.
Por fim, o DF afirma que ainda vai construir um túnel subterrâneo ligando o estádio no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, próximo ao local, e executar obras de urbanismo na região. Inicialmente estas intervenções -- que devem consumir os R$ 300 milhões restantes do orçamento da arena nas contas do tribunal de contas do DF -- estavam previstas para ficar prontas antes do início da Copa, mas hoje não possuem data definida de execução.
'Cinco anos de garantia'
De acordo com a Secopa-DF, por meio de sua assessoria de imprensa, a cobertura do Mané Garrincha possui cinco anos de garantia e assim o conserto das goteiras não terá custo para o governo e consequentemente para o contribuinte. De acordo com o governo, testes para garantir que agora a cobertura funciona serão realizados "ainda no período chuvoso".
"Sobre as obras na região do entorno do estádio, informamos que integram licitação única, em andamento, e que inclui cinco grandes projetos de revitalização da área central de Brasília, que não são voltados exclusivamente para Copa do Mundo", diz a nota enviada pela Secopa-DF ao UOL Esporte por meio de sua assessoria de imprensa. "Os projetos são integrados, com melhorias previstas em mobilidade urbana e urbanismo. Especificamente sobre a área chamada de entorninho, ao redor do estádio, serão realizadas melhorias até a Copa do Mundo, com a substituição da brita existente na área interna ao cercamento por asfalto".
A conclusão do sistema de captação e reaproveitamento da água da chuva está dentro deste pacote de ações, diz o governo do DF.