De olho no cofre

Mané Garrincha leva 7 meses para ter goteiras em cobertura de R$ 209 mi

Aiuri Rebello

Do UOL, em Brasília

Sete meses após inauguração, Mané Garrincha tem goteiras em cobertura

O torcedor que foi ao estádio Mané Garrincha em Brasília prestigiar a seleção brasileira feminina de futebol - que goleou neste domingo o Chile por 5 a 0 na final do Torneio Internacional de Futebol Feminino - sofreu com o grande número de goteiras na cobertura que atingiram praticamente todo o anel inferior da arquibancada coberta na arena. As goteiras e vazamentos nas emendas da estrutura podiam ser observadas por todos os lados. Em alguns casos, a intensidade era tal que obrigava funcionários da manutenção a conter a água com rodos e colocar placas de aviso para os torcedores terem cuidado com o chão molhado.

O estádio Mané Garricha foi inaugurado há sete meses, em maio, e custou R$ 1,7 bilhão de acordo com o TC-DFT (Tribunal de Contas do Distrito Federal e Territórios). O valor foi inteiramente pago com dinheiro público pelo governo do Distrito Federal. A arena é a mais cara dentre as 12 que recebem a Copa de 2014. Apenas a cobertura custou R$ 209 milhões nas contas do órgão de controle. O estádio possui lugar para 72 mil pessoas e é a segunda maior do Brasil, atrás apenas do Maracanã no Rio de Janeiro. Neste domingo, ela recebeu 15.262 torcedores.

Dentro dele, a situação mais grave podia ser observada na emenda da membrana que cobre a maior parte da arquibancada com uma extensão de material acrílico que se projeta em direção ao campo e contorna todo o anel da arquibancada. A emenda acontece justamente sobre a área que dá acesso ao anel inferior da arquibancada. Por ali, era possível ver neste domingo verdadeiras "forças-tarefas" de funcionários da manutenção com rodos em mãos para enxugar a água que caía da falha no local.

"O pior é que não tem nenhum ralo, nem aqui no anel inferior e nem no anel superior da arquibancada, aí a gente tem que tirar essa água toda com pano e balde, é mole? ", explicou um dos funcionários que tentava enxugar a água com os rodos (conforme mostram as fotos e o vídeo que acompanham a reportagem). "Aí vamos empurrando tudo lá para baixo e chega lá, fica empoçado, não tem caimento até o campo". A reportagem circundou toda a arquibancada superior e inferior da arena e não encontrou um único ralo.

Durante o primeiro tempo da partida entre Escócia e Canadá, que disputaram o terceiro lugar do torneio antes do jogo do Brasil, chovia bastante e em alguns pontos da arquibancada não restou mais nada a vários torcedores a não ser assistir à partida cobertos com capa de chuva ou fugir para os poucos locais na arquibancada inferior onde não havia goteiras.

'Não dá para acreditar'

"Não dá para acreditar em um negócio desses, é muito desagradável", reclamava o aposentado e estudante Antônio Osmir, de 48 anos, que foi ao estádio com o filho Vinícius, de 14. Os dois se protegiam das goteiras da cobertura vestidos com capas de chuva. "Tem barraco que tem cobertura melhor que essa aqui. Olha só, acabou de inaugurar e a gente só vê goteira por todos os lados", disse o estudante.

O securitário Carlos Alberto Siqueira, de 66 anos, assistia à partida vestido com um saco de lixo improvisado como capa, em meio a um setor da arquibancada inferior inteiro debaixo de vazamentos. "Economizaram né, custou baratinho o estádio", ironizou ele. "É inacreditável, e não tem como chegar aqui dentro sem enfiar o pé no charco de barro que virou aqueles gramados em frente às escadas de acesso", completou.

No intervalo da disputa pelo terceiro lugar a chuva deu uma trégua ao crescente número de torcedores que chegava para acompanhar o jogo da seleção feminina, que tinha Marta em campo com a camisa 10. Mas a chuva voltou com força já na execução do Hino Nacional. Quando as goteiras retornaram aos borbotões em vários pontos da arquibancada, o que se via era bandos de torcedores em busca de um local seco, além de muita reclamação.

Alguns torcedores desistiam e iam embora. Em muitos pontos da arena, a limpeza e organização também deixou a desejar. Em vários locais das escadarias e corredores era possível ver lixo e sujeira acumulados, enquanto bares eram improvisados com a ajuda de congeladores verticais nos acessos às arquibancadas. Do lado de fora, ainda havia centenas de pessoas debaixo de chuva na fila para entrar mesmo quando acabou o primeiro tempo e veio o intervalo.

'Obra recém-inaugurada, grandiosa e complexa'

De acordo com a Secopa-DF (Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo no Distrito Federal) será solicitado um laudo técnico, que deve sair em até 30 dias, à empresa responsável pela instalação da cobertura "sobre o que ocorreu em algumas áreas onde se verificou vazamento de água da cobertura após a forte chuva que castigou a cidade de Brasília durante toda a tarde deste domingo".

De fato, choveu durante boa parte do dia no domingo e no sábado (21) em Brasília, mas não houve nenhuma tempestade que danificasse a cobertura do estádio. Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), choveu cerca de 25 milímetros até o final da noite de domingo, cerca de 10% da média histórica total de dezembro na cidade. No dia 6, por exemplo, choveu cerca de 70 milímetros em Brasília.

"No momento, por ser o estádio uma obra recém-inaugurada, grandiosa e complexa, alguns serviços pontuais estão sendo corrigidos e testados, mas nada que comprometa o pleno funcionamento do estádio e a realização dos eventos", afirma a nota enviada pela assessoria de imprensa da Secopa-DF ao UOL Esporte. Segundo o governo, "a construção tem garantia de cinco anos. Caso seja identificado qualquer problema, que não haverá custo adicional algum no reparo para o Governo do Distrito Federal, já que faz parte da garantia da obra".

A nota enviada pelo goverdo do DF à reportagem afirma ainda que existe um grupo de fiscalização que vistoria a arena, garante a manutenção e cobra eventuais reparos. Apesar disso, a nota não explica por que há goteiras e vazamentos por toda parte e se há falhas na manutenção ou no projeto.

Sobre a inexistência de ralos a Secopa-DF diz que eles existem, e que a água deve escoar para o gramado, o que na prática não acontece a contento. Sobre a falta de acessos à arena que não cruzem grama, terra e lama, afirma que existem sim entradas pavimentadas. A reportagem circundou o estádio e não encontrou nenhuma. "Muitos usuários preferem cortar caminho pela brita e pela grama. Ressaltamos que o Governo do Distrito Federal tem programada uma obra de intervenção para melhorar ainda mais os acessos", e diz que isso será feito em breve.

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