Ver a Copa no Brasil é para quem tem dinheiro, influência ou muita sorte

Carolina Juliano

DO UOL, em São Paulo

  • Fernando Moura/UOL

    Câmera posicionada sobre assentos do Estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, para transmitir a semifinal da Copa das Confederações. Estádios da Copa não foram pensados para o posicionamento de câmeras da Fifa

    Câmera posicionada sobre assentos do Estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, para transmitir a semifinal da Copa das Confederações. Estádios da Copa não foram pensados para o posicionamento de câmeras da Fifa

Se você é um simples mortal, trabalhador, gente como a gente, e quer assistir a um jogo da Copa do Mundo no Brasil ou porque gosta de futebol, ou porque acha um programa interessante ir com a família ao estádio ou mesmo porque acredita que não pode perder a oportunidade de ver a Copa aqui em casa, saiba que a sua chance de conseguir um ingresso é talvez menor do que a de ganhar na loteria.

E se você ainda é daqueles que entrou na onda de que o futebol está voltando para a sua casa, e que aqui é a terra dos campinhos de terra com bola de meia, do futebol de várzea, do esporte do povo, aí você pode cair das nuvens quando perceber que a Copa do Mundo não é mesmo para o seu bico.

A Fifa fala em 3 milhões e tantas entradas disponíveis, mas na verdade este número refere-se à capacidade dos estádios e quando a gente começa a ler as letrinhas pequenas do contrato descobre que a maior parte dessas preciosas cadeiras já tinha dono antes do período de venda começar, estavam reservadas, foram loteadas para influentes, famosos, ricos ou ainda serão rifadas em promoções de patrocinadores. O que sobra mesmo para o público brasileiro, o dono da festa, comprar na bilheteria são 701.079 ingressos que terão que ser divididos com o público do mundo inteiro e mais 426.000 que são, diz a Fifa, só para os residentes no Brasil.

Só para ilustrar, se dividíssemos esses 426.000 ingressos pelos 201.032.714 de anfitriões (número de brasileiros estimado pelo IBGE em agosto de 2013), haveria um ingresso para cada 471 brasileiros. Tudo bem, mas ainda podemos disputar os ingressos com o resto do mundo. Então dividindo 1.101.079 ingressos pelo mesmo número de brasileiros (ignorando que estejamos disputando com os estrangeiros) melhora um pouco, mas a briga ainda é boa, 182 torcedores teriam que duelar por cada ingresso.

Distribuição dos ingressos disponíveis para a Copa do Mundo 2014

  • Arte UOL

Para entendermos realmente quem é que vai assistir à Copa do Mundo 2014 no Brasil, analisamos a divisão dos ingressos feita pela Fifa. A capacidade dos estádios construídos ou reformados para a Copa é estimada em 3.720.225 assentos. Destes, de início, subtraem-se 385.701 para reservas de contingência e assentos desativados para placas de publicidade e posicionamento de câmeras (e isso acontece porque os estádios novos não foram pensados para as transmissões da Fifa, que são diferentes das que se fazem no Brasil na captação de imagens).  Logo, o número de assentos disponíveis cai para 3.334.524.

O primeiro lote de 344.916 ingressos é formado por bilhetes gratuitos assim distribuídos: 41.900 são ingressos VIP, divididos igualmente entre a FIFA e o Comitê Organizador Local (COL); 231.591 são reservados para acompanhantes de pessoas com deficiência, delegações das seleções envolvidas na partida em questão, afiliadas comerciais, observadores, médicos e pessoal técnico; e 71.425 são destinados à imprensa.

Restaram 2.989.608. Esse número refere-se a 80,4% da capacidade dos estádios e são chamados de "ingressos adquiríveis". Por você? Ainda não. A subtração segue. Destes, um total de 201.541 ingressos são designados à FIFA, aos seus grupos de clientes, às federações afiliadas não participantes e às confederações continentais. Outros 59.918 são do Comitê Organizador Local (COL) e ainda 119.742 ingressos adquiríveis foram designados para a comunidade do futebol das federações afiliadas participantes.

Ficamos com 2.608.407 ingressos e ainda não chegou a vez do povo, não. Agora, 605.191 ingressos adquiríveis são designados às afiliadas comerciais, os patrocinadores que, segundo a Fifa, costumam usar cerca de 80% dos ingressos comprados em promoções aos consumidores. Aqui, se você é um daqueles reles mortais a quem nos referimos no início, mas tem sorte, pode ter chance. Outros 445.500 são dos detentores dos direitos de hospitalidade (são aqueles camarotes caríssimos fechados geralmente para empresas) e ainda tem mais 66.273 ingressos adquiríveis que são designados às transmissoras parceiras.

Quantos sobraram? Aqueles 701.079 ingressos para dividir com o resto do mundo, mais os 426.000 reservados para o público brasileiro em categoria mais barata. Somando, chegamos a 1.127.079, o que representa apenas 33,8% da capacidade dos estádios. Por isso, se você quer mesmo ver a Copa no Brasil é melhor ficar logo amigo de algum federado, tentar a sorte nos concursos dos patrocinadores que estão abertos para distribuir ingressos ou cavar vaga em algum programa de TV que o catapulte rapidamente para a fama e assim você pode tentar uma vaguinha nas áreas de hospitalidade ou VIP.

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