Ministério do Trabalho questiona carga horária de operários do Itaquerão

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

O relatório final sobre um acidente que matou dois operários nas obras do novo estádio do Corinthians, em Itaquera, ainda não tem data para ser entregue. Contudo, o Ministério do Trabalho já identificou um problema na construção do aparato: o excesso de horas extras de funcionários que operam equipamentos sensíveis, como o guindaste que tombou no dia 27 de novembro, derrubando parte da estrutura da cobertura metálica do aparato.

"Não estamos discutindo a legalidade, mas as horas extras levam à exaustão. Eles precisam contratar mais gente", cobrou Luiz Antônio Medeiros, superintendente do Ministério do Trabalho, sobre a construtora Odebrecht. "Eles disseram que as horas extras são imprescindíveis. Se é assim, vamos diminuir pelo menos do pessoal de equipamentos como o guindaste, que é sensível. Eles são quase pilotos de avião", completou.

O salário médio de um operador de guindaste na obra do estádio gira em torno de R$ 7 mil, valor que não considera as horas adicionais. Segundo relatório recebido pelo Ministério do Trabalho, funcionários da obra em Itaquera têm feito entre 50 e 52 horas semanais de jornada. A construção civil tem um limite de 44 horas.

No dia 16 de dezembro, Odebrecht e o Ministério do Trabalho devem assinar um termo de compromisso sobre a duração da jornada dos funcionários no Itaquerão. A expectativa da pasta é que a empresa assuma um compromisso de redução, pelo menos com os funcionários de máquinas mais delicadas.

"Nós sabemos que o negócio de mão de obra é sério. É preciso entregar no prazo, mas para isso é preciso contratar mais gente. Vamos discutir os termos desse compromisso ainda, mas já começamos conversas", finalizou Medeiros.

Nesta terça-feira, o Ministério do Trabalho fez uma vistoria técnica na arena. Depois disso, em entrevista coletiva, Medeiros disse que José Walter Joaquim, 56, operador do guindaste que tombou no dia 27 de novembro, estava sem folgas havia 18 dias.

"Essa foi a informação que a empresa passou para nós. Pedimos informações sobre vários aspectos, como o ritmo de trabalho do pessoal. Pelo que eles nos passaram, o cara que estava dirigindo a máquina que se acidentou teve um longo período sem folgas", disse Medeiros, que usou como base os relógios de ponto. Procurada pelo UOL Esporte, a Odebrecht não comentou o assunto até o fechamento do texto.

Joaquim é funcionário da Locar, empresa que alugou o guindaste à Odebrecht. Segundo a construtora, o operário passou a maior parte do tempo de trabalho de sobreaviso, esperando a liberação da peça para ser içada. "Esses trabalhos nunca são contínuos", asseverou a responsável pela obra em nota oficial.

Ainda de acordo com o texto, Joaquim folgou no domingo que precedeu o acidente. Com o problema, o prazo para a conclusão das obras no Itaquerão foi revisto. O estádio deve ser finalizado na primeira quinzena de abril, e o primeiro evento teste será feito nas duas semanas seguintes.

A arena paulista será o palco do jogo inaugural da Copa do Mundo de 2014, no dia 12 de junho, entre Brasil e Croácia.

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