Em seis meses, Brasil vai de 'coitadinho' a mais temido pelos rivais
Bruno Freitas e José Ricardo Leite
Do UOL, em São Paulo
O tempo para sair do descrédito ao favoritismo parece não ser tão grande quando se fala da seleção brasileira. Quem ouve os rivais falarem da equipe que vai receber a Copa do Mundo de 2014 nem consegue imaginar que há apenas seis meses o time vivia um verdadeiro inferno astral.
No dia 6 de junho, a equipe nacional viu sua pior colocação na história do ranking da Fifa ao amargar a 22ª colocação e ficar atrás de seleções como Grécia, Bósnia Herzegovina e Gana. Ficou um período de três anos, em um total de sete jogos, sem vencer seleções campeões do mundo.
Só ouvia críticas e comentários de descrédito dentro de seu próprio país e no exterior. Na época, isso representou até irritação no técnico Luiz Felipe Scolari ao comentar o assunto.
"Nós não somos nenhum coitadinho. Todo mundo admira o nosso futebol, o europeu quer investir no Brasil e não precisamos falar de nossas mazelas aqui e ali, porque temos uma grande importância, representatividade e temos tradição", falou o técnico.
Mas, seis meses depois, o status do time mudou completamente. A conquista da Copa das Confederações em casa e a melhora do desempenho em torneios europeus de alguns jogadores do time, como Oscar e Neymar, já fizeram o país voltar a ser apontado quase que como um favorito absoluto, fato visto pela última vez no Mundial de 2006, na Alemanha, quando a equipe de Carlos Alberto Parreira vinha de conquista da Copa das Confederações, Copa América e do próprio Mundial de 2002, com Felipão.
A seleção de Scolari agora já ocupa novamente o top 10 do ranking (com a décima colocação) e é a mais apontada como favorita. Na semana que antecedeu o sorteio, o ex-jogador Michel Platini, presidente da Uefa, já se adiantou ao palpitar sobre o Mundial. "O Brasil é o único favorito para essa Copa", falou o dirigente e ex-jogador da seleção francesa.
Vários treinadores apontaram após o sorteio o Brasil como o time a ser temido. Foi a mais exaltada e elogiada das seleções. A boa fase fez até o holandês Louis Van Gaal, conhecido por pegar no pé de jogadores do país pentacampeão mundial nos clubes por onde passou, fazer elogios. Seu time pode cruzar com o Brasil nas oitavas. "Nosso grupo é muito difícil, e se passarmos ainda podemos enfrentar o Brasil, que é o favorito ao número 1 do torneio", lamentou.
Os adversários do Brasil na primeira fase, Croácia, México e Camarões, praticamente jogaram a toalha em relação a brigar por duas vagas para a próxima fase. Já colocam os anfitriões como classificos e não se veem em chance de vencer.
"O Brasil não tem pontos fracos, é um timaço. Tivemos o privilégio de jogar várias vezes com eles. Brasil é favorito, tem o apoio de sua gente, dos torcedores. Todos jogadores têm técnica e jogam muito bem. Tem vários caras muito bons, é uma equipe tremenda", disse Héctor Gongalez, diretor técnico da seleção mexicana e que representou a comissão técnica na zona mista dos treinadores.
"Estava aqui na Copa das Confederações. Me lembro como as pessoas cantavam o hino, toda aquela gente gritando loucamente. Os jogadores brasileiros sentiram aquilo na pele. O México se balançou com aquilo, foi um jogo complicado", prosseguiu.
O técnico da seleção de Camarões, Volker Finke, não soube o que dizer quando perguntado como parar o time brasileiro. "Vou fazer o quê? Não tem como. O Brasil já está classificado, não tem como. É grande time, grande equipe. Jogar com o Brasil é um jogo bônus (para somar) pontos, não tem como levar em conta (vencer)."
O técnico da Croácia, Niko Kovac, colocou o Brasil como "favorito número um" do torneio, opinião similar à do treinador da Grécia, Fernando Santos. "Se for para escolher um favorito, esse time é o Brasil. Mas coloco Argentina, Alemanha e Espanha com chances."
O treinador da Argentina, Alejandro Sabella, disse que não quer cruzar contra o país vizinho. "Não quero ter que jogar contra o Brasil nesta Copa", falou o campeão da Libertadores de 2009 pelo Estudiantes.
Em 2006, quando viveu situação semelhante, o Brasil caiu para a França nas quartas de final em Mundial que muitos apontam o relaxamento e "oba-oba" como principais adversários de uma equipe que parecia sem fome sem vencer.
Já no Mundial seguinte, o então técnico Dunga implantou uma filosofia de coerência, grupo fechado e valorização à camisa, mas caiu para uma Holanda depois de o time sofrer uma "pane" no segundo tempo de uma partida que vencia facilmente.
Agora, Felipão tem sinais de sucesso num trabalho que concilia um talento crescente com o comprometimento perdido em 2006. Pelas declarações dos adversários, a combinação parece o suficiente para assustar.