Um acidente em uma arena esportiva, semelhante ao que aconteceu no Itaquerão nesta quarta-feira, 27, mudou leis de segurança no trabalho, gerou indenizações milionárias para as famílias dos operários que morreram e virou um dos processos judiciais mais emblemáticos dos Estados Unidos.

Em 14 de julho de 1999, um guindaste de 172 metros de altura caiu e derrubou uma peça de 400 toneladas que estava sendo içada para montar o telhado retrato do estádio de baseball Miller Park, em Milwaukee.

Três operários morreram: Jerome Starr, de 52 anos, Jeff Wischer, de 40, e William DeGrave, de 39. Cinco pessoas ficaram feridas. Os danos causados pela queda das estruturas e a investigação policial fizeram com que a entrega do estádio atrasasse um ano.

A polícia concluiu que três fatores provocaram a queda do guindaste gigante: ventos de 48 km/h, umidade no solo e a pressa dos empresários para entregar a obra, que havia começado em 1996.

Os donos do estádio pretendiam usar a arena no ano seguinte para receber os jogos do Milwaukee Brewers no campeonato nacional. Entradas para as partidas foram vendidas sem que o estádio estivesse pronto. A inauguração aconteceu em 6 de abril de 2001.

O julgamento do caso aconteceu um ano depois, em dezembro de 2000. Os advogados que representaram as famílias juntaram 150 mil páginas de documentos, que levaram sete semanas para serem avaliados pelos jurados.

Ao final do processo, as três famílias dividiram uma indenização de cerca de US$ 100 milhões (o equivalente a R$ 232 milhões). Foi a maior indenização paga em um processo trabalhista no estado do Wisconsin e virou parâmetro para ações que se seguiram.

A culpa foi dividida entre a empreiteira que estava construindo o estádio e a empresa dona do guindaste gigante. A Justiça entendeu que a empreiteira foi negligente ao permitir o trabalho dos operários em condições climáticas desfavoráveis e que a proprietária do guindaste não forneceu informações suficientes sobre os limites suportados pelo equipamento

O acidente, além disso, tornou mais rígidas algumas leis de segurança do trabalho na região, estipulando procedimentos de medição de temperatura dos ventos para quem trabalha sobre estruturas altas, como topos de prédios.

As causas do acidente no novo estádio do Corinthians ainda estão no início. A Polícia Civil ouviu cinco testemunhas do caso e aguardam o resultado do laudo do IC (Instituto de Criminalística).

Embora a Justiça brasileira não costume determinar indenizações tão altas, os parentes dos dois operários que morreram na queda do guindaste tem o direito de pedir reparação judicial.