Unida à seleção, imprensa espanhola cria rivalidade com brasileiros após farras

Bruno Freitas, José Ricardo Leite e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, em Fortaleza

A animosidade está no ar entre a imprensa da Espanha e os brasileiros que seguem os campeões mundiais na Copa das Confederações. Se por um lado os jornalistas da casa repercutiram as farras dos jogadores em hotéis de Recife e Fortaleza, do outro, por sua vez, alguns dos europeus acusam os locais de tentativa de desestabilizar os favoritos do torneio com "mentiras".

A reportagem do UOL Esporte publicou na última terça-feira informação sobre a confusão que os jogadores da Espanha protagonizaram no hotel da delegação em Fortaleza. No incidente, um dos atletas tentou ingressar na concentração na companhia de pelo menos dez prostitutas. Com a negativa do aparato de segurança, os estrangeiros promoveram barulho, discussão e acordaram hóspedes.

Antes, o site Globoesporte.com descreveu uma noitada de mulheres e pôquer em Recife, que acabou com jogadores tendo seus pertences furtados.

Nos últimos dias a Real Federação Espanhola de Futebol emitiu um comunicado oficial para desmentir o incidente de Pernambuco. Sergio Ramos, por sua vez, veio a público para falar que estavam atacando a reputação limpa da Espanha, como nação. Nessa onda, junto vieram os jornalistas do país.

Na última quarta-feira o colunista do diário AS Joaquín Maroto acusou a imprensa brasileira de "inventar mentiras" para desestabilizar a seleção espanhola. Em texto, o jornalista afirmou que a mídia anfitriã tem medo de um confronto com a Espanha na decisão da Copa das Confederações: "um medo visceral, uma depressão profunda". "Os anfitriões esperam que a Itália faça frente à Espanha, para que se evite um novo Maracanazo", continuou Maroto.

Outro exemplo da postura da imprensa espanhola frente aos casos de confusão em hotéis foi visto na última terça. Durante entrevista coletiva do zagueiro Sergio Ramos, um jornalista do país questionou o jogador se as matérias brasileiras sobre confusões no hotel tinham finalidade de desestabilizar "a nossa seleção, que é a melhor do mundo".

O jornalista em questão é Roberto Moráles, destacado pela agência espanhola EFE para a cobertura da Espanha no Brasil. Em contato com a reportagem do UOL, o estrangeiro confirmou sua opinião a respeito da suposta estratégia de desestabilização.

"Acho, sim, que há uma grande tentativa da imprensa brasileira em nos desestabilizar. Isso ocorre porque somos o melhor time do mundo na atualidade, ganhamos a Copa e o Europeu. É claro que todos nos temem dentro de campo, e querem buscar problemas fora dele. Acompanho a seleção há anos e nunca vi isso. Conheço os jogadores e sei que eles não são de confusão", defendeu Morales.

Pedro Ivo Almeida/UOL
Há uma grande tentativa da imprensa brasileira em nos desestabilizar. Isso ocorre porque somos o melhor time do mundo na atualidade, ganhamos a Copa e o Europeu. É claro que todos nos temem dentro de campo

Roberto Moráles, repórter da agência EFE que faz a cobertura da seleção espanhola

Jogar junto faz parte de um comportamento tradicional da imprensa espanhola que segue a seleção ao redor do mundo. Os jornalistas desfrutam de intimidade em ambientes de concentração, circulam em áreas restritas a colegas estrangeiros e ganham entrevistas exclusivas quase diárias.

Nas entrevistas pós-jogo, vem a retribuição, com diálogos afáveis como: "é, Gerard (Piqué), você tem total razão sobre isso". Na melhor fase da história da seleção espanhola, aquilo que possa sugerir uma turbulência de ambiente geralmente é evitada.  

Pau Rodríguez acompanha a Copa das Confederações pela rádio RAC 1, líder de audiência na Catalunha. O jornalista admite a cultura de intimidade entre imprensa e diz que, ao contrário da tradição brasileira, a mídia de seu país se importa pouco com questões extracampo. 

Pedro Ivo Almeida/UOL
Não há nenhuma relação com tentativa de desestabilizar. Eles não precisavam falar isso. São linhas diferentes de coberturas. A imprensa brasileira cobre dentro e fora de campo. Gosta de bastidores, fofoca. Concordando ou não, é preciso respeitar. Mas não se deve duvidar das coisas

Pau Rodríguez, repórter que faz a cobertura da seleção espanhola para a rádio RAC1

"Nós, da Catalunha, temos uma visão mais sensata. Pensamos um pouco antes de falar. Os jornalistas espanhóis se deixaram levar muito pela paixão e falaram algumas coisas que não deveriam. Eles costumam ser assim, e aqui no Brasil estão sendo ainda mais", declarou Pau.

"Acho até algumas histórias de hotel absurdas, mas respeito o que foi noticiado. São veículos de grande tradição na imprensa brasileira. Não precisa ter este tipo de comportamento. Não há nenhuma relação com tentativa de desestabilizar. Eles não precisavam falar isso", emendou.

O radialista ainda relembrou um polêmico episódio de um jornal espanhol para questionar a postura adotada por alguns de seus compatriotas na cobertura da Copa das Confederações.

"Eles não podem criticar nada. Há dois anos, o Marca [maior jornal esportivo de Madri] alterou uma foto de capa de jornal para dizer que o Pedro [atacante do Barcelona] estava impedido. Depois, reconheceram e alegaram erro gráfico. Como assim? E querem criticar os brasileiros? São linhas diferentes de coberturas. A imprensa brasileira cobre dentro e fora de campo. Gosta de bastidores, fofoca. Concordando ou não, é preciso respeitar. Mas não se deve duvidar das coisas", salientou Rodríguez.

Para confirmar o status de antagonista do Brasil na Copa das Confederações, no campo esportivo, a Espanha enfrenta a Itália nesta quinta-feira, às 16h (de Brasília), no Castelão. Os anfitriões venceram o Uruguai na quarta e já têm lugar na decisão.

Veja também



Shopping UOL

UOL Cursos Online

Todos os cursos